(por Leonardo Missio, do blog Tabelando)
Fazia tempo que não víamos a Seleção Brasileira deixar a população tão eufórica. Nove vitórias seguidas, líder das Eliminatórias e já classificada para a Copa do Mundo de 2018. As mudanças que chegaram com Tite, de fato, foram impressionantes. 25 gols marcados e apenas 2 gols sofridos.
Os brasileiros comentam: o bom futebol voltou, alegria nos pés, sorriso no rosto, um grupo, uma família. A Seleção brasileira de Tite, a Seleção do povo!
Seleção do povo? Será mesmo?
O ingresso mais barato, para assistir ao jogo da Seleção do povo (Brasil) X Paraguai, custava R$200,00. Meia entrada, R$100,00.
A Seleção brasileira é a Seleção do povo que não tem dinheiro sequer para pagar pelo ingresso mais barato. Desde o começo das Eliminatórias, o preço do ingresso triplicou. Partiu de R$ 70 (Brasil X Venezuela), em outubro de 2015. Mesmo se compararmos com o valor dos ingressos na Europa, ainda estaria caro. Um ingresso para Alemanha x Chile, pela Copa das Confederações de 2017, custa R$ 128,00.
O valor do ingresso é definido pela CBF. Durante a má fase da Seleção, a Confederação levou a maioria dos jogos para o Norte e Nordeste do país. E praticando preços mais acessíveis. Hoje, a Instituição deve estar em festa. Afinal, o jogo na Arena Corinthians arrecadou R$ 12.323.925,00. É a segunda maior renda na história do futebol brasileiro. Ficando atrás apenas da final da Libertadores 2013, entre Atlético MG e Olimpia no Mineirão.
Entrevista com uma moradora de Itaquera
Conversamos com a Márcia, que trabalha como esteticista, e mora em Itaquera, perto do estádio onde a Seleção jogou contra o Paraguai.
Tabelando – Qual a distância da sua casa até a Arena Corinthians?
Márcia – Cerca de 4 Km.
Tabelando – Como é formado seu núcleo familiar?
Márcia – Eu, minha filha de 11 anos e meu filho de 17.
Tabelando – Seus filhos gostam de futebol? Gostam de ir ao estádio?
Márcia – Meu filho ama futebol, minha filha não liga muito. Mas os dois gostam muito de ir ao estádio, pois a emoção de estar ali é inenarrável.
Tabelando – Quais as chances de assistirem um jogo da Seleção com esse valor de ingresso? (Para toda a família ir para o estádio ficaria R$ 400,00).
Márcia – Com este valor, nenhuma chance.
Tabelando – Fica uma sensação de “tão perto, mas tão longe”?
Márcia – A sensação que fica é a de desigualdade. Num bairro que é considerado de classe média e classe baixa, só as pessoas que têm condições melhores podem assistir ao jogo no estádio ao lado. A realidade está perto com o jogo do Corinthians, que tem vários setores.
Tabelando – Gostaria de ter assistido a vitória de dentro do estádio? Pensou nisso durante o jogo?
Márcia – Meu filho sim, adoraria ter ido ao estádio. Inclusive com os amigos, que também não podem ir. Queriam estar lá, sentindo a emoção da torcida.
Ainda há muito o que mudar
Sim, é ótimo ver a Seleção brasileira voltando às suas origens. Ver o Brasil de Tite priorizando o bom trabalho, o toque de bola, e ver os jogadores dando show. Mas, não podemos somente comemorar e achar que isso deveria parar por aí. A essência do futebol brasileiro está no popular.
Não quero passar a impressão de que eu sou contra a Seleção. Ou de que estou polemizando apenas para criticar. Na verdade, escrevo esta matéria como o desabafo de um torcedor. Eu gostaria muito de ter ido ao jogo. Mas, com esse valor de ingresso fica inviável e extremamente seletivo. É possível muito bem acomodar os mais diversos perfis socioeconômicos dentro do estádio. Basta querer.
A Seleção é do povo brasileiro, não somente daqueles que podem pagar preços exorbitantes para assisti-la.
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