Qualquer torcedor de futebol se empolga com a chegada de uma nova temporada. Por mais eletrizante que tenham sido as movimentações do mercado de transferências ou os resultados nos amistosos de preparação, nada se compara à expectativa pelas competições que virão pela frente.
Ciente disso, as ligas e federações ao redor do mundo planejam um início de época capaz de chamar a atenção. Boa parte delas começa com a tradicional supercopa, um duelo entre os atuais vencedores do campeonato e da copa nacional. Outros, por exemplo, armam uma estreia com pompas para o atual campeão do país.
Coube a Real Madrid, campeão da UEFA Champions League, e Sevilla, vencedor da Liga Europa, abrirem a temporada europeia. Na Espanha, o mesmo Sevilla e o Barcelona se enfrentaram no início oficial da época. Já na Inglaterra, o Manchester United, dono do maior número de títulos no país, trouxe o Leicester do “conto de fadas” para o mundo real. E por ai vai, pelas supercopas ao redor do planeta.
E no Brasil? 2190 pessoas (apenas 1690 pagantes) foram à Moça Bonita assistir numa quarta-feira à tarde a estreia entre Botafogo e Madureira. Já o Santos, último vencedor do Paulistão, abrirá a competição com um empolgante duelo contra o Linense, numa sexta-feira à noite. Isso para ficar apenas entre os dois maiores mercados do país.
O Campeonato Brasileiro, principal torneio por essas bandas, só começará na metade de maio. Até lá, três meses e meio com estaduais espalhados pelo país. Competições com menor média de público, audiências televisivas abaixo da média, pouco interesse do mercado e nível técnico mais baixo. Uma maneira estranha de tentar gerar interesse nas pessoas. Mas por que esses campeonatos seguem com tamanho destaque no calendário? A resposta é simples: política.
A política rege o futebol. Da FIFA a um clube de pequeno porte, tudo passa por um sistema político. Para se eleger é preciso de votos, e para conseguir tais votos é necessário agradar aos eleitores. A CBF, com 27 federações tendo direito a voto (num total de 47 “eleitores”, com os times da Série A completando a relação), sabe da importância de ter os representantes estaduais felizes.
Para as federações, os estaduais são a principal fonte de receita no ano. Recebem cota de tv, patrocínios pelas placas em campo, além de várias taxas. Sem falar, é claro, da importância institucional de ser responsável pela organização da competição.
Quanto mais datas à disposição, maior a receita. Em Pernambuco, embora sem os grandes, o torneio começou logo depois da virada de ano. No Rio Grande do Norte e no Ceará os principais times não tiveram descanso, e a bola já rola há duas semanas.
O resultado é um calendário ainda mais inchado. Quem chega à final em seu Estado, por exemplo, inicia o Brasileirão com quase 20 partidas na conta. Perde-se tecnicamente e o torcedor, em meio a um turbilhão de partidas, nem sempre tem condições financeiras de acompanhar tal maratona.
Em um mundo cada vez mais global é difícil empolgar a torcida com um título local. Ela quer ter sucesso no Brasileiro (e isso não se limita aos times da Série A) ou na Copa do Brasil. Quem disputa a Libertadores, então, nem tem olhos para a competição. Nesse cenário, o torneio se torna uma faca de dois gumes. Quem vence, não fez mais do que a obrigação. Quem perde, corre o risco de uma forte turbulência logo no começo do ano.
Se uns sofrem com o excesso de jogos, outros são prejudicados por um calendário incompleto. É o caso dos times que não integram as quatro divisões do Campeonato Brasileiro. A temporada chega ao fim junto com os Estaduais, deixando milhares de atletas desempregados por todo o país.
Mas não é preciso acabar com os campeonatos estaduais. Uma boa alternativa é transforma-los em copas, com menos datas, distribuindo as partidas dentro do Brasileirão aos meios de semana. Em compensação, criar uma competição que preencha toda a temporada para os clubes não classificados no Nacional, servindo como uma divisão de acesso.
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