De assistente a treinador, “Hansi” Flick é o principal responsável pela mudança de atitude do time bávaro
Após um começo de temporada bastante irregular, com uma equipe apresentando um futebol aquém do que se espera do Bayern de Munique, incluindo uma goleada (5-1) inimaginável sofrida ante o Eintracht Frankfurt e que custou o cargo do croata Niko Kovac, surgiu à oportunidade para Hans-Dieter “Hansi” Flick.
Por estar já em meio à temporada, a diretoria do Bayern optou por dar um voto de crédito para o ex-jogador do clube, o então assistente técnico, Hansi Flick, inicialmente elevado a condição de treinador interino. Porém, seu trabalho excepcional recolocou o Bayern no lugar de protagonismo esperado e assim a diretoria oficializou-o como treinador estendendo, em abril, o contrato até 2023.
Com Kovac no comando, o Bayern tinha média de 2,67 gols/jogo e sofria 1,43 gols/jogo. Com Flick a média de gols marcados passou para 3,19 gols/jogo; já a média de gols sofridos caiu para 0,85 gols/jogo. Esses números demonstram o poder da mudança de comando. Mudanças que foram decisivas para o Bayern de Munique conquistar pela oitava vez seguida a Bundesliga.
Formação e sistema tático
O Bayern de Munique sob o comando de Flick costuma atuar principalmente no 4-2-3-1. Abaixo, podemos ver a escalação do jogo da Champions League contra o Chelsea. Formação costumeiramente usada com mais frequência. O sistema defensivo com os zagueiros Jérôme Boateng e David Alaba, além dos laterais Alphonso Davies e Benjamin Pavard. Diante disso, Joshua Kimmich forma dupla, a frente da defesa, com o meia espanhol Thiago Alcantara. À frente, responsável por “armar” o jogo, Flick alinhava Thomas Müller. Pelas pontas, Serge Gnabry e Kingsley Coman e na função de centroavante mais avançado, o artilheiro polonês Robert Lewandowski.
No entanto, o Bayern obviamente tem outros jogadores que oferecem muita qualidade também. Ivan Perišić também joga pela ponta esquerda, enquanto Leon Goretzka (que assumiu a titularidade, devido à lesão de Alcântara) é outra opção na formação junto aos homens a frente da defesa que também conta com Lucas Hernandez e Niklas Süle, como opções. Mas os dois sofreram lesões durante esta temporada, desfalcando o time.
Quando o Bayern está com a posse de bola, seus zagueiros avançam mais alto no campo e proporcionam profundidade nos flancos. Enquanto isso, os alas costumam dobrar por dentro e ocupar os “meios-espaços”. O lateral-esquerdo Davies (19) naturalmente assume um papel mais avançado, enquanto o lateral direito Pavard (5) às vezes fica numa posição mais defensiva. O último apenas sobe o campo quando a bola está sendo progredida no seu lado do campo. Como resultado, sua forma de ataque geralmente é assimétrica, como exibido no gráfico abaixo.
Os médios centrais costumam atuar em diferentes funções. Kimmich (32) costuma cair na linha de trás para que haja três jogadores no trabalho de posse de bola, enquanto Goretzka (18) fica em uma área central na frente da linha de trás. Um dos aspectos interessantes, no sistema tático do time bávaro reside justamente na intensidade com que a bola é trabalhada pelo setor do meio-de-campo.
As táticas de ataque
Sob o comando de Hansi Flick, o jogo ofensivo do Bayern é versátil. Geralmente constroem as ações de ataque com os três meias (lembrando que os dois centrocampistas a frente da dupla central de zaga avançam juntando-se ao “meia-armador”) e até os dois zagueiros centrais, participam, no momento em que sobem, como já mencionado. Com boa qualidade no passe em profundidade, os defensores do clube bávaro não se limitam a trocar passes curtos ou as costumeiras viradas para os alas.
Depois de avançarem para a metade do campo, os zagueiros sobem para o terço final. Com o trio atacante oferecendo profundidade pelo centro, o Bayern costuma ter uma linha de ataque com até cinco jogadores. Com Müller “flutuando”, a ideia é justamente “prender” o adversário para criar a situação favorável a penetrar na defensiva adversária. A partir de então, o Bayern costuma usar uma forma de ataque que se assemelha a 2-3-5 ou 3-2-5, dependendo do adversário.
Joshua Kimmich é um dos principais jogadores do Bayern sob o comando de Hansi Flick. Enquanto Kovac costumava escalar Kimmich como lateral-direito, Flick aposta em Kimmich e nas suas habilidades pelo meio-de-campo. Nesta área, o camisa 32 é quem dita o ritmo de jogo; dono de ótima visão e de excelente passe é responsável por iniciar a maioria dos ataques. Abaixo, podemos vê-lo fazendo um passe no terço final e, assim, iniciando um ataque perigoso.
A imagem exibida acima também mostra uma situação de vantagem numérica. Com a troca de passes passando por vários jogadores, próximos da lateral e na intermediária ofensiva, com seis a sete jogadores. Isso lhes permite criar uma superioridade numérica forçando o adversário a recuar jogadores. No primeiro caso, o Bayern pode utilizar sua superioridade para avançar sobre a defesa adversária. E no último caso, eles podem inverter o jogo e atacar os espaços livres na ala oposta.
Um jogador importante quando se trata de inverter o jogo é Thomas Müller. Com 25 assistências em todas as competições e mais 11 gols marcados, Müller é de grande importância para o Bayern no ataque; gosta de se deslocar nos espaços onde pode ser opção de passe e sempre teve uma visão fantástica de jogo sem a bola. Com isso, ele abre espaço para o atacante Lewandowski, ou os alas que então se movem avançando por dentro.
Outro aspecto interessante do Bayern de Flick é a contribuição ofensiva dos seus defensores. Donos de estilos completamente diferentes, os laterais Davies e Pavard contribuem de sobremaneira com sua equipe. Enquanto o lateral-direito tem por característica o passe em profundidade; o lateral esquerdo Davies gosta de avançar o campo e buscando a linha de fundo adversária. O fato é que, dentro das suas características, ambos os laterais também participam ativamente do jogo.
Na última linha, os jogadores do Bayern trocam constantemente de posição. Esta movimentação tem por objetivo confundir a marcação adversária. Isso dificulta as ações defensivas do meio-de-campo oposto, que em muitas situações se vê “forçado” a recuar mais que o normal e em muitas ocasiões não conseguindo encontrar a “altura” do posicionamento. Quando um dos zagueiros do Bayern está com a bola, numa proposital situação de armador, sempre haverá outro jogador “afundando” pelos flancos, ou, conforme a situação avançando em profundidade pelo centro defensivo adversário.
Esta situação visualizada acima ocorreu nitidamente no jogo contra o Bayer Leverkusen pela 30ª rodada da Bundesliga. Jogo em que o time de Munique encontrou algumas dificuldades iniciais, saindo perdendo e passando por raros apuros. Porém, com maturidade, a equipe soube ter tranquilidade para suportar o momento ruim desse jogo e posteriormente virar a partida justamente se utilizando do sistema defensivo que, em questões de segundos, se torna responsável por criar situações de gol.
Melhoria na marcação sob pressão
Outro aspecto principal do Bayern de Flick foi à melhoria na marcação sob pressão na saída de bola. Enquanto Kovac preferia uma estrutura ampla, que permitia ao adversário, muitas vezes conseguir trabalhar uma bola em profundidade; Flick costuma organizar seus jogadores de modo a encurtar a linha de passe adversária, com isso, acaba geralmente por diminuir o espaço da equipe inimiga. Como consequência, se o Bayern perder a bola, as distâncias em direção à bola e as possíveis opções de passe ficam mais restritas, o que lhes permite executar uma pressão mais eficiente.
Uma distância menor do homem da bola também significa que o jogador que está pressionando pode cobrir uma área maior, com a “sombra” da cobertura. Na imagem abaixo, Coman “tira” dois meias do Eintracht Frankfurt do jogo. E com as opções de ataque bloqueadas pelo triângulo defensivo do Bayern, o homem da bola é forçado a executar um passe ruim que será interceptado.
Além disso, a opção da segunda bola ou rebotes é considerável. Mesmo antes de o adversário recuperar a posse de bola, o Bayern alinha taticamente em campo, para recuperar a posse o mais rápido possível. Embora ofereçam campo de ataque ao adversário, o 2-3-5 ou 3-2-5 permite uma forma compacta no meio-de-campo, na região central. Na medida em que os médios avançam em campo sempre que o adversário tenta a bola em profundidade, com lançamentos, seus médios estão aptos a ficarem com os rebotes, como no cenário mostrado abaixo.
A importância do rebote, nestas situações, permite geralmente a criação de opções de gol, pegando o adversário num momento de transição entre a defesa e o ataque, tendo assim boas oportunidades de contra-ataque.
Maior domínio devido a uma maior pressão na saída adversária
Já comentado, mas que merece destaque é um dos pontos fortes da equipe de Flick a pressão que sempre costuma exercer na saída de bola adversária, também no espaço da defesa central oposta. E nisso houve uma mudança clara em termos do estilo de pressão de Kovac para Flick. Enquanto o time nem sempre pressionava alto sob o comando de Kovac, agora pressiona constantemente o adversário no seu campo. Com uma abordagem muito bem treinada; que busca forçar o zagueiro adversário (geralmente em cima do passe de menor qualidade) ao lançamento longo, quase sempre impreciso.
Nesta situação, o time avança e cada um “pega” o seu jogador, na marcação de mano. A defesa homem contra o homem avançando dentro do campo adversário também requer os atributos físicos dos defensores para defender o espaço atrás da própria linha defensiva, pois irá obviamente ofertar campo ao adversário em caso de uma bola longa. Essa é provavelmente uma das razões da escolha de Flick para jogar com Alaba como zagueiro, já que o austríaco tem ritmo e explosão para acompanhar os atacantes adversários, o que lhe permite interromper o ataque oposto ou permitir que seus colegas de time tenham tempo suficiente recompor defensivamente.
Enquanto o atacante Lewandowski encara um zagueiro, o meio-de-campo central ofensivo, Müller costuma pressionar o outro. Ao usar a “sombra” da cobertura, ele pode impedir o passe para o meia que ele marcou antes do Bayern começar a pressionar. E se o adversário duplicar, para sobrecarregar Müller, outro companheiro central irá se deslocar para marcar este jogador. No entanto, sempre há um meio-campista na frente da linha de fundo. Esse meio-de-campo cobre os meio-campistas que estão na pressão e se posiciona para possíveis segundas bolas, caso o adversário consiga tocar a bola de modo a sair desta situação.
Nesta pressão, os pontas sempre avançam e ficam entre o lateral e o meio-campista, prontos para pressioná-los se receberem a bola. Dessa forma, eles também estão prontos para um eventual contra-ataque ou recompor defensivamente.
Contra-ataque
O forte contra-ataque é uma marca registrada do Bayern de Munique de Hansi Flick. Ao ganhar a bola, com base no posicionamento de seus jogadores que estão pressionando os adversários, buscando fazer a transição da defesa para o ataque, com os atacantes fornecendo opções com intensa e constante movimentação, para receberem as devidas assistências em situação de mano a mano.
Com os pontas velozes do Bayern, surgem as condições ideais para o contra-ataque. Normalmente vemos estes pontas jogando nas costas, avançando pelo meio, no espaço entre os zagueiros e laterais. Quando este espaço é fechado, naturalmente surge a jogada da linha de fundo e os cruzamentos que tem Lewandowski como o alvo, além da chegada dos homens de meio-de-campo na área, como Müller ou Goretzka.
Enfim, como mostrado, o Bayern de Munique mostrou melhorias claras em todas as situações táticas do seu futebol com Hansi Flick. A filosofia do treinador alemão consiste em um jogo de posição, com zagueiros que apóiam o ataque. Não menos importante, o Bayern pressiona com alta intensidade, o que aumenta seu domínio e também oferece oportunidades para contra-ataques sempre perigosos.
Assim, com Hansi Flick, o clube bávaro recuperou a supremacia em campo, algo que com Niko Kovac estava seriamente ameaçado. O “efeito” Flick é um achado interessante e extremamente positivo, levando em conta que o treinador estava no clube, conhecia os ambientes internos e financeiramente certamente uma “aquisição” excelente, ainda mais observando a relação custo x benefício.
Antes da parada o Bayern de Munique já vinha em franca recuperação. O pós-parada nos apresentou um time soberano, que venceu todos os seus jogos nove jogos restantes na Bundesliga (com 100 gols marcados) e na Copa da Alemanha (onde é finalista). Certamente o clube bávaro se coloca, nas atuais circunstâncias, como um dos principais, senão o principal favorito para levantar o caneco na Uefa Champions League.
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