domingo, 20 de agosto de 2017

Zinedine Zidane e seu Real Madrid que olha para o futuro

 

(por Rodrigo Jufo)

Conhecido como time dos galácticos; dono de quatro das dez contratações mais caras da história do futebol mundial, o Real Madrid sempre foi afamado por sua imponência e alto poder aquisitivo. Entre 2000 e 2006, Florentino Pérez, presidente do clube, trouxe jogadores como Zidane, Figo, Ronaldo, Beckham, Owen, Robinho etc. Mas, apesar da conquista da Champions League 2001/2002, a maioria destas contratações trouxe mais mídia e fama do que títulos à Madrid.

 

Em sua segunda passagem pelo Madrid, Florentino até começou com a mesma filosofia. Trouxe Cristiano Ronaldo e Kaká, dois – então – dos últimos ganhadores da Bola de Ouro. Contratações de peso que balançaram as estruturas do futebol mundial ainda na década passada. Mas, o excelente trabalho de um velho ídolo da torcida parece ter feito Florentino mudar de política quanto à construção do elenco meregue. Pouco a pouco, Zidane partiu de baixo na hierarquia do clube; maquinou desde os bastidores e vem ajudando a dar nova cara ao Real Madrid.

Leia mais: a megalomania de Florentino Pérez

O Real de Zidane abriu a temporada 2017/2018 da mesma forma que encerrou a anterior: com título. Zizou venceu o Manchester United de Mourinho e se sagrou campeão da Supercopa da UEFA. O francês garantiu seu sexto caneco no comando de um dos times mais poderosos do mundo. Mas, além de títulos e boas atuações, Zidane foi fundamental na construção de uma nova filosofia no time merengue: a de olhar para o futuro.

 

Volta como olheiro de peso

Após se aposentar como jogador (2006), Zinedine Zidane voltaria ao clube, em 2011, desta vez como olheiro e embaixador. Logo de cara, indicou aos dirigentes a contratação de dois jovens muito promissores que atuavam em solo francês. Seus nomes? Raphaël Varane e Eden Hazard.

Poucos anos depois, o olho clínico de Zidane renderia frutos diretos ao Real Madrid e seus comandantes. Desde cedo Varane foi conseguindo espaço no time principal e ganhando minutos em campo.

Varane se destacava no Lens, time de pequeno porte da França. Tinha passagem por todas as categorias de base da seleção francesa. Foi uma aposta certeira: contratado por apenas 10 milhões de euros. Até a publicação desta matéria seu valor de mercado ultrapassa os € 35 milhões. Quanto a Hazard, tinha acabado de conquistar o Campeonato Francês com a boa geração do Lille. A forte concorrência culminou com o jovem indo para o Chelsea.

Homem de confiança de Ancelotti

Após 3 anos como olheiro, Zidane recebeu convite de Carlo Ancelotti para ser seu auxiliar técnico. Zizou já estudava para se tornar treinador; esta etapa de aprendizado prático no time principal seria de grande valia. Cada vez mais reforçava sua história e influência dentro do clube. Ele pôde ver de perto como foi a construção da estrutura que culminou em La Décima.

Ancelotti rasga elogios a seu ex-pupilo.

Do banco, viu o Real sair da fila na Champions, vencendo de forma histórica o Atlético de Madrid. Viu como Ancelotti mudou o ambiente nos vestiários, desfazendo o clima ruim deixado por Mourinho. Certamente aprendeu a lição, pois um de seus pontos fortes como treinador é justamente conquistar o respeito de seus comandados. Zidane foi pouco a pouco ganhando prestígio e admiração no ambiente do Real Madrid.

O cargo no Castilla

Após sua etapa como auxiliar, Zidane progrediu para assumir o comando do Real Madrid Castilla. Na equipe B dos merengues, teve um desempenho considerado regular; vencendo 26 / 57 dos jogos disputados na terceira divisão. Mas não devemos focar em seus resultados propriamente e sim nos indícios que o Madrid vem dando. Cada vez mais jovens promissores eram trazidos para incorporar a base do clube e menos se ouvia falar em contratações “bombásticas”. Mais espaço para jogadores que o jovem treinador conhecia muito bem, fosse por ter treinado ou observado como olheiro. Nomes como Borja Mayoral e Marcos Llorente, crias de Castilla, somavam-se a Marco Asensio (Mallorca) e Jesus Vallejo (Zaragoza). Todos eles passaram a integrar o elenco principal do Real.

Desde o início de sua jornada, após pendurar as chuteiras, Zidane sempre demonstrou ter um olhar especial para os jovens futebolistas. Zizou tem visão e paciência.

Enquanto Zidane burilava a base do futuro do clube, Ancelotti e o time de cima passavam por período turbulento. Diferente da temporada 2013/2014, o time do italiano não encaixou no período seguinte. O Barcelona, com o trio MSN inspiradíssimo, conquistava a Champions League, o Campeonato Espanhol e a Copa do Rei. A falta de títulos de peso culminou na demissão de Ancelotti do time; o mentor de Zidane partia. O italiano deixava uma forte imagem no vestiário, de respeito e adoração por parte de seus jogadores. Seu pupilo francês nitidamente bebeu de sua fonte. Hora do aluno assumir a vaga do mestre e comandar o Real Madrid?

Não seria desta vez (ainda) …

Leia mais: os dois anos de Ancelotti e o erro de Florentino Perez

A surpresa Rafa Benítez

O anúncio de Rafa chocou grande parte da torcida e da imprensa espanhola. 6 anos após ter um técnico espanhol no comando da equipe – o último tinha sido Juande Ramos (2009) -, o Real contratava Rafa Benítez para o cargo. Rafa chegava após duas temporadas com o Napoli, tendo conquistado uma Copa Itália e uma Supercopa da Itália. O treinador não foi escolhido pelos últimos trabalhos que fez, mas sim por ter histórico intimamente ligado ao Real Madrid. Benítez foi jogador e treinador do Castilla; a intenção de Florentino era trazer alguém com identificação merengue. Um gesto elogiável afinal, dava para ver na apresentação que Rafa estava nitidamente emocionado em “voltar para casa”. Mas, infelizmente, a tarefa seria muito mais pesada do que Benítez e Florentino imaginavam.

 

 

Uma tentativa que visava insuflar os ânimos do madridismo de volta às conquistas tornou-se uma das piores decisões da gestão Florentino. Com futebol feio e com direito ao mico de uma eliminação vexatória na Copa do Rei; pela escalação irregular de Cheryshev. Rafa durou apenas 25 jogos no comando do Real Madrid, mesmo perdendo apenas três jogos. O futebol apresentado pela equipe não agradava, o Real seguia em desvantagem frente a Atlético e Barcelona. O 4×0 sofrido em casa para o maior rival sintetizou a fraqueza vivida sob comando de Benítez.

 

 

O desgaste se tornou insustentável após o empate com o Valencia, fora de casa. Terminava de maneira melancólica o retorno de Benítez a seu “lar”. E assim, Zidane ganhava sua chance como técnico. O francês chegava em momento nada favorável para um iniciante: o Real estava em 3º na liga e já tendo que enfrentar a Roma pelas oitavas da Champions League. Pouquíssima margem para erros e muita pressão por resultados.

Leia mais: Zidane e a herança maldita de Benítez

A Era Zidane

Em janeiro de 2016, sem muita badalação,  Zinedine Zidane deixava o Castilla e era elevado ao cargo de treinador do Real Madrid. Quem acha que a chave do sucesso do francês é alguma formação tática mirabolante ou uma contratação de impacto, está enganado. Zidane trouxe o que faltava ao elenco já recheado de craques: o espírito madridista. A paixão e a vontade de jogar com a camisa do Real Madrid. Além do respeito e da motivação por parte dos jogadores em relação a seu comandante.

 

Zidane soube se impor com seu histórico de lenda madridista e também com habilidade em manejar o vestiário. Nessa pegada, transformando o Santiago Bernabéu num caldeirão, foi conquistando bons resultados. Mas, ainda sem a regularidade tão desejada pelos torcedores.

Casemiro e a solidez no meio campo

Contratação encarada como sui generis pela imprensa – principalmente a brasileira – Casemiro chegou ao Real Madrid em 2013. E foi incorporado ao Castilla para se adaptar ao futebol europeu. Visto como “encostado” no São Paulo, seus detratores pensavam ser absurdo o volante ir jogar num dos maiores times do mundo. Sua sorte começou a mudar quando chegou com humildade em Madrid e trabalhou bastante. Pouco a pouco ia mostrando seu futebol e ganhando espaço.

Leia mais: Casemiro, de marrento a ponto de equilíbrio

Ainda com Benítez, o brasileiro já vinha sendo mais aproveitado no time principal do Madrid; mas restrito a condição de reserva da dupla Modric / Kroos. Com Zidane, passou a ser peça fundamental no meio campo madridista. Seguro, dotado de bom passe e boa visão de jogo, Casemiro deu a estabilidade necessária à defesa. E liberou mais Kroos e Modric para criarem as jogadas e contra-ataques do time.

Com o time bem distrubuído em campo e os jogadores bastante motivados por seu treinador, o Real Madrid voltou a jogar de forma competitiva. E a obter grandes resultados. Já são 07 títulos no currículo de Zidane como treinador do Real (até a publicação desta matéria):

  • 02 Champions League (15/16 e 16/17);
  • La Liga (16/17);
  • Mundial de Clubes (16/17);
  • Supercopa da UEFA (15/16 e 16/17);
  • Supercopa da Espanha (17/18)

 

Zidane e os jovens

O francês não demonstra ser adepto de gastar rios de dinheiro em contratações de grandes nomes consagrados. A partir da era Zidane, a política merengue de captar e utilizar de jovens promessas no elenco principal tem atingido seu ápice. Na temporada 16/17, a primeira em que começaria efetivamente no clube, sua única compra foi Álvaro Morata. O atacante revelado em Castilla foi recomprado após boa passagem na Juventus, inclusive marcando gol da eliminação dos merengues na Champions League. Morata disputou 43 jogos em sua única temporada sob comando do francês: totalizando 1902 minutos em campo; produzindo 20 gols e 06 assistências. Bons números em se tratando de um time cuja concorrência ofensiva não é nada fácil. Benzema ainda é titular no ataque, mas Zidane mostrou saber aproveitar Morata enquanto o teve disponível.

Marco Asensio é outra jovem promessa do futebol espanhol que Zidane vem trabalhando paulatinamente. Zizou fez questão de aproveitá-lo após sua passagem por empréstimo no Espanyol.

 

 

Asensio voltou do empréstimo, foi integrado ao elenco principal, e passou a ser utilizado com certa frequência. O malaguenho disputou 41 jogos em sua primeira temporada no time principal do Madrid: totalizou 2121 minutos em campo; produzindo 12 gols e 04 assistências. Deu boas mostras de que Zidane vem sabendo utilizá-lo e auxiliando em seu crescimento. Marcou gols importantes como na Supercopa Europeia e na final da Liga dos Campeões. É o 12º jogador do Madrid, ocupando um posto que já foi de Isco. Sempre que Zidane mexe, há grandes chances de Asensio entrar na partida.

 

 

Outros nomes completam a lista de jovens bem aproveitados por Zidane. Como Lucas Vázquez (4º jogador mais utilizado na rotação do elenco); Nacho e Mariano Díaz. 

Resgate de Isco

Isco Alarcón é outro capítulo à parte que deve ser mencionado. Outro malaguenho de muita qualidade que o Madrid dispõe, mas que não vivia bom momento até Zizou trabalhar com ele. Desde que chegou ao clube, em 2013, oscilava bastante em rendimento e aproveitamento por seus treinadores. Até atingir seu auge com Zidane, no máximo Isco era visto como décimo segundo jogador madrilenho. Porém, na caminhada do Madrid por La Duodécima, Isco aproveitou a brecha dada por Bale e não parece que irá mais sair do 11 titular (o galês ficou fora do time na reta final da temporada devido a uma lesão).

Zidane rasga elogios ao brilhantismo de Isco.

Leia mais: futebol mutante, força mental e Isco – os trunfos do Real Madrid

Futuro promissor sob comando de Zizou

Os títulos conquistados, o ótimo futebol apresentado e a montagem do elenco mostram que Zidane vai construindo uma filosofia própria no Real Madrid. Fica clara sua intenção de ter um elenco mesclando jogadores do mais alto nível (Kroos, Modric, Isco, Benzema, e Cristiano), porém mantendo espaço para os jovens jogadores de grande potencial irem ganhando experiência. Zizou tem o vestiário nas mãos e sabe muito bem utilizá-lo, rodando as peças quando necessário. Seu Real Madrid tem cara, independente de quem jogue nas partidas.

Time base com a cara de Zinedine Zidane.

Time base com a cara de Zinedine Zidane. O francês “recuperou” Isco e vem se mostrando um exímio manejador do elenco (principalmente do físico e dos egos). Bale, Asensio e Vázquez entram com bastante frequência, mas isso não quer dizer que os outros jogadores do banco serão pouco utilizados. Zidane roda o time como poucos e extrai o melhor de seus jogadores.

Os tempos de apenas contratações badaladas parece estar em desuso. As chegadas de Dani Ceballos e Theo Hernández, a permanência de Jesús Vallejo e a dispensa de nomes como James Rodríguez e Pepe mostra bem o futuro que o Real Madrid de Zinedine Zidane está traçando. Um futuro calcado na juventude e na construção de uma identidade própria para o Real Madrid, onde o futebol vem muito antes das badalações ou da mídia.

Um futuro à imagem de Zidane.

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