terça-feira, 1 de maio de 2018

Especial As Ligas de Lionel Messi – parte 1 (2008/2009)

O Campeonato Espanhol 2017/2018 conquistado pelo Barcelona foi o nono de Lionel Messi, o sétimo como craque da equipe. À primeira vista, não é um dado que chama tanta atenção, sobretudo pela polarização da primeira divisão espanhola. No entanto, contextualizando para o leitor, se fizermos um recorte de tempo, pegando os últimos sete títulos do Real Madrid, por exemplo, isso dá 20 anos (o primeiro, em 1997; o sétimo, em 2017). Mais: com o Atlético de Madrid, apontado como terceira força do país, dá 63 anos. Levando em consideração que começou a carreira em 2004/2005, no geral Messi só não levantou a taça em cinco oportunidades como profissional, o que dá, aproximadamente, 64,2% dos campeonatos vencidos. Logicamente, cada título teve sua história particular. E, a partir de hoje, o Doentes por Futebol irá relembrar os sete troféus do Barcelona de Messi e entender o motivo dessa  impressionante dominância.

Fim do ciclo com Ronaldinho

Começando, claro, pelo início, lá em 2008. A primeira temporada de Josep Guardiola à frente do Barcelona também foi a primeira de Messi como camisa 10 culé. Acima de tudo, ninguém sabia qual seria o desfecho dessa aventura. Pelo contrário: as desconfianças eram grandes. Pudera. O fim de ciclo com Frank Rijkaard foi sombrio e as lideranças do time do holandês estavam sob visíveis decadências. Ronaldinho mal teve sequência em 2007/2008, seja pelo extracampo, por lesões ou até mesmo por opção técnica. Com Deco e Eto’o, os mesmos problemas, ainda que ambos conseguiram ser relativamente mais “regulares” que Ronaldinho. Não à toa foram titulares na eliminação na Liga dos Campeões da Uefa para o Manchester United, na semifinal. R10 não disputou um minuto.

Existia desconfiança até sobre o próprio Messi. É válido mencionar que Leo, mesmo com a presença do brasileiro, já atuava como se o time fosse “seu”. Talvez o próprio Ronaldinho era ciente de que o futuro não lhe pertencia. Mas, como dito, os resultados daquele Barça foram frustrantes. E meses antes da efetivação de Guardiola como novo comandante, o Barcelona sofreu uma derrota acachapante para o Real Madrid que abriu uma onda de protestos no Camp Nou. No dia do famoso pasillo do Barça ao Real pelo título espanhol conquistado três dias antes, só um time brilhou.

Surra merengue

O 4×1 madridista foi até pouco, devida tamanha imposição. Até hoje, a última vez que os merengues tiveram mais posse de bola que o rival catalão (52%). Além disso, havia a questão da irregularidade do ex-camisa 19, visto que as lesões, até então, eram frequentes. Em 2007/2008, jogou 69% dos jogos do Barça; uma temporada antes, 64%. A efeito de comparação, o número sobe moderadamente em 2008/2009: Messi atuou em 85% das partidas do primeiro ano de Guardiola.

Revolução orquestrada por Guardiola

Mas se tinha uma individualidade a ser potencializada por Pep era justamente a de Messi. Coincidentemente, o argentino foi um dos poucos que se salvaram da campanha anterior. Os outros? Xavi e Iniesta. Bingo. Aproveitando o embalo da Eurocopa de 2008 de Xavi, Guardiola encarregou o camisa 6 de ser o novo regente blaugrana, fazendo de Andrés seu fiel escudeiro.

Até pela hierarquia de Xavi, principalmente, no meio-campo, a ressurreição de Eto’o, o canto do cisne de Henry e a frescura de Iniesta, não dava para cravar com absoluta certeza que Messi, com 21 anos, era o grande líder desse Barcelona, mas, evidentemente, era o grande craque. E, a partir daí, foi começando a fincar seu nome nas estatísticas. A ascensão de produção pode ser comprovadas nos números. 14 gols e duas assistências em 06/07, 10 gols e 14 assistências em 07/08 e 23 gols e 11 assistências em 08/09. Estava em outro patamar.

Os primeiros jogos não ajudaram tanto, em contrapartida. Derrota na estreia para o recém-ascendido Numancia por 1×0 e empate em casa contra o Racing Santander por 1×1, na segunda rodada. Mesmo com a goleada por 1×6 em Gijón contra o Sporting, na terceira rodada, o Barça não convencia. Venceu Bétis e Espanyol, em sequência, sem convencer, com gols no final (Gudjohnsen contra o Bétis, Messi contra o Espanyol). O primeiro aviso chegou numa noite de peso. Na sexta rodada o Barcelona recebeu o Atlético de Madrid de Forlán e Agüero. Os colchoneros lideravam La Liga até aquele momento com 100% de aproveitamento e, para muitos da imprensa, tinham condições de disputar o título.

O Barça esmagador começava a ser percebido

A história do jogo contamos aqui. Foi precisamente a partir desse 4 de outubro de 2008 que as primeiras impressões sobre estilo azulgrená foram comentadas. Era um Barça diferente. Essencialmente vertical e intenso, mas igualmente controlador e móvel. Como parar essa equipe? Como competir dessa forma na Liga dos Campeões? Questões que foram respondidas com o tempo. Mas o impacto daquele 6×1 foi importante tanto para ratificar uma proposta, quanto para a confiança dos jogadores. Agora sim, Guardiola era batizado sobre solo espanhol.

A liderança foi alcançada pela primeira vez na nona rodada, diante do Málaga, em La Rosaleda, em um encontro peculiar, mas especial. Naquele dia, uma chuva castigou toda região da Andaluzia. As condições do gramado eram péssimas para a disputa de futebol e muitos chegaram a pedir o cancelamento da partida. Não aconteceu, houve jogo, o Barcelona venceu por 1×4, mas a forma como aconteceu foi irreal. Como pôde uma equipe tratar a bola daquela forma diante de tanta lama no gramada? O Barcelona conseguiu, sabe-se lá como, trocar 458 passes, tendo 63% da posse. Pronto: a expressão tiki-taka começou a ser destacada nas crônicas mundiais.

Entre novembro e janeiro, o Barcelona atuou em outra sintonia. O estilo estava homologado, tal qual o nível de Messi. Não havia mais disputa. Os adversários foram deixados para trás pouco a pouco. Até mesmo os que triunfaram perante o Barça anteriormente. Por exemplo, Sevilla, Valencia, Real Madrid e Villarreal. Nos 90 minutos, somente o Submarino Amarelo deu um certo trabalho, perdendo por apenas 1×2 no El Madrigal. O Real até conseguiu segurar por um tempo considerável, mas o bombardeio foi grande e a derrota inevitável: 2×0 Barça. Sevilla e Valencia perderam por 0x3 e 4×0, respectivamente (o Sevilla em casa, no Ramon Sánchez Pizjuán).

Foto: Site Oficial do Barcelona | A bola sempre nos pés de Xavi. Após a decadência de Deco, Guardiola nomeou o meio-campista catalão como guardião da bola. Com ele, a segurança na posse estava assegurada

Todos jogam

É imprescindível ressaltar a gestão de grupo de Guardiola em seu ano 1. As rotações no elenco foram semanais. Entre agosto e fevereiro, Pep só repetiu o time uma única vez. Ou seja, todos ganharam chances. Assim, o treinador evitava desgastes e aumentava o frescor de seus comandados. Aquele Barça corria. Muito. E sempre com vigor, desde os primeiros segundos.

Taticamente postado num 4-3-3, concentrava suas ações no lado direito. Afinal de contas, era naquela região do campo que se encontravam Rafa Márquez, Daniel Alves, Xavi e Messi. A cada quatro passes saindo de trás, o Barcelona chegava à área adversária com facilidade. Até para deixar o corredor direito livre para Messi arrancar em diagonal do jeito que o caracterizou, Daniel Alves saía muito da lateral para aparecer como um “falso-meia”. E, com uma inversão de jogo, achava Iniesta ou Henry sozinhos na esquerda. Ou o francês matava ou tocava para Eto’o matar. Cara ou coroa.

Eto’o: de preterido a imprescindível na campanha

Aliás, Eto’o até merece um parágrafo à parte. Como supracitado, vinha de um ano complicado e inclusive não contava para Guardiola. Porém, após fracassos em negociações com clubes italianos e ingleses, o centroavante permaneceu para, por ironia do destino, jogar o melhor futebol da sua carreira. No vídeo com todos os gols de Eto’o em 08/09, podemos ver uma repetição: o camaronês atacando o espaço. A agilidade para se desmarcar acabou sendo um trunfo para o Barça. Os magos atrás criavam, o killer da frente concluía. Foram 30 gols na Liga, sua melhor marca na Espanha. Não ganhou o Pichichi devido à reta final fantástica de Forlán, que marcou quatro gols na rodada final e terminou com 32.

Vai surgindo o maior falso 9 da história

Ao longo da temporada já era notado como Guardiola dava liberdade a Messi. A bem da verdade, desde o início dela, as intenções de Guardiola eram claras. Contra o Sporting Gijón, vimos a primeira vez de Messi centralizado com Pep. Se com Rijkaard o argentino era um ponta clássico, onde primeiramente deveria criar seu espaço dando profundidade ao ataque, com Guardiola passou a pisar com maior constância em novas zonas. Em meados do segundo turno, notou-se uma queda de rendimento do Barça, a ponto do título ficar ameaçado. O time chegou a ficar três semanas sem vitórias e via um Real Madrid embalado tentar reverter o cenário do primeiro turno. As goleadas diminuíram e as vitórias passaram a ser mais apertadas.

É por isso que o confronto da 34ª rodada foi considerado uma final à parte. O Real tinha defeitos, que Guardiola soube explorar perfeitamente, mas tinha um Robben em grande fase, Raúl em sua última grande Liga e somava 17 vitórias em 18 jogos sob o comando de Juande Ramos. Na hora certa, Pep resolveu dar corpo ao seu experimento: Messi de falso nove.

“No primeiro turno, vimos que quando Messi corria para o meio, o lateral o perseguia. Então, passamos a pensar no que aconteceria se seu perseguidor fosse o zagueiro caso ele fosse colocado como atacante”, explicou numa coletiva anos mais tarde.

Xeque-mate. O Real ficou extremamente confuso com Eto’o de ponta direita e Messi de centroavante. Na verdade, Lass, Gago, Metzelder e Cannavaro nem ao menos sabiam como reagir. O 2×6 em pleno Santiago Bernabéu foi o último triunfo do Barça naquele Campeonato Espanhol. O troféu foi garantido duas semanas depois, sem nem precisar entrar em campo, já que o Real tinha sido derrotado pelo Valencia no sábado e sacramentando suas (ínfimas) possibilidades de ser campeão.

Apenas o início de uma nova era

Assim, Guardiola conquistou a primeira liga nacional de sua carreira. Com Xavi dominando a bola,  Iniesta correndo, Eto’o finalizando e Henry agilizando. E, claro, com Messi driblando todos os sistemas defensivos e virando definitivamente o melhor jogador do mundo. Da base, surgiam duas novas peças: Busquets e Pedrito Rodriguez. A primeira taça de Messi como camisa 10 do Barcelona. A força barcelonista foi tão pesada que, de Madrid, viria uma resposta para tentar competir na temporada seguinte: Florentino Pérez desembolsava milhões para contratar Cristiano Ronaldo junto ao Manchester United. A Espanha ganhava uma nova rivalidade.

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