segunda-feira, 25 de maio de 2020

O negacionismo da pandemia pode gerar consequências drásticas ao futebol brasileiro

A transmissão descontrolada do coronavírus no Brasil já resultou em mais 350 mil contaminados e mais de 20 mil mortes no país. Até esta data, o Brasil é o segundo país no mundo com o maior número de casos confirmados da doença, atrás apenas dos Estados Unidos.

Enquanto isso, alguns clubes de futebol, de forma desconectada da realidade, trabalham para convencer as autoridades de que é possível o retorno das partidas. O caso mais destacado é o do Flamengo, que determinou a volta dos treinamentos à revelia das restrições impostas pela Prefeitura do Rio de Janeiro.

Foto: Alexandre Vidal / CRF – Jesus realiza exame da Covid-19

Tanta insistência para esse retorno forçado do futebol tem razões financeiras óbvias: os clubes sofrem sem as receitas geradas pelas competições. Porém, os dirigentes que insistem no retorno fora de hora não perceberam que essa mesma postura pode levar seus times a serem impedidos de participar de alguns torneios de onde esperam obter receitas. Não são poucos os que já vislumbram times brasileiros sendo excluídos da Libertadores, em razão do temor de outros países em receber moradores de um país sem controle da doença. Também não é absurdo pensar que até a participação do Brasil na próxima Copa do Mundo pode estar ameaçada, já que, para chegar lá, é preciso jogar as Eliminatórias.
Em entrevista para a BBC News Brasil, Domingos Alves, responsável pelo Laboratório de Inteligência em Saúde (LIS) da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, afirmou que, sem medidas efetivas para conter a pandemia do coronavírus, o Brasil vai se tornar “uma Coreia do Norte em questões sanitárias”.

“O mundo inteiro vem tomando medidas muito duras para controlar a pandemia do coronavírus, às custas de um impacto econômico nunca antes visto. Mas o Brasil vem nadando contra a corrente. Quando esses países reabrirem as suas fronteiras, por que deixariam entrar brasileiros e colocar tudo a perder?”, questiona.

Transportando essa reflexão para o futebol, fica difícil imaginar que os demais países sul-americanos, que com muito sacrifício estão conseguindo conter os danos causados pela pandemia, aceitarão receber delegações de equipes do Brasil se a Libertadores voltar. O mesmo raciocínio vale para a Copa Sul-Americana A consequência prática disso poderia ser a exclusão dos times brasileiros da competição. Ora, será que os dirigentes flamenguistas têm ciência que podem estar colocando em risco o sonho do bicampeonato consecutivo da Libertadores por causa de uma postura negacionista endossada por eles?

Foto: Lucas Uebel/ Grêmio – No Grêmio, jogadores voltaram aos treinamentos também com protocolo de cuidados.

A seleção brasileira também tem motivos para se preocupar. As eliminatórias sul-americanas para o Mundial já tiveram rodadas adiadas pela pandemia e não sabemos se todos os países terão condições sanitárias de participar delas no seu retorno. Cenário hipotético: se todos os demais países sul-americanos conseguirem alcançar uma situação de relativa segurança para a volta das partidas, toparão eles o adiamento do retorno das Eliminatórias apenas por causa do Brasil?

Ao contrário do que alguns parecem pensar, o vírus da Covid-19 não cansa, nem tira férias e o alastramento da doença não será contido sem medidas realmente rigorosas de isolamento social. Se 350 mil brasileiros já foram contaminados, segundo os dados oficiais, ainda restam mais de 200 milhões de brasileiros que ainda podem ser acometidos, o que torna muito distante o fim da pandemia se não houver intervenções para contê-la.

Imagem: G1.com – O Gráfico apresenta o número de mortes por Coronavírus no Brasil.

Para o futebol brasileiro, o cenário pode ser igualmente trágico, com a séria possibilidade de equipes brasileiras não poderem participar de competições internacionais. Portanto, é hora dos nossos dirigentes pensarem fora da caixinha e pressionarem as autoridades competentes para a adoção de uma política séria de combate à pandemia. Do contrário, o máximo que vão conseguir é o retorno do futebol no território nacional mesmo, mas sem cruzar fronteiras.

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