sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Guardiola e a construção de um novo City

Quando o Manchester City contratou Guardiola, o fez porque queria mudar. A escolha pelo treinador não é apenas uma troca no comando técnico, mas parte de uma mudança como clube. Desde que o cheque passou a ser assinado em árabe, o City se consolidou na Inglaterra e subiu degraus no cenário europeu. Apesar do notório crescimento, ainda faltam dois passos: o título europeu e a construção de uma identidade, algo que todos os gigantes do continente têm. Por isso o xeique foi atrás de Pep.

O treinador catalão iniciará uma nova era em Manchester com a missão de colocar o time nos trilhos certos. Talvez ele não consiga vencer a Liga dos Campeões, como aconteceu na Alemanha, mas certamente deixará um grande legado. O principal deles será dentro do campo. Na sua primeira janela de transferências, Guardiola priorizou jogadores jovens, como Gabriel Jesus, Moreno, Sané e Stones; até mesmo Gundogan, aos 25 anos, tem idade para render por bom tempo vestindo azul. Porém, mais do que jovens, essas contratações têm a cara do treinador e as características que ele preza para construir um novo City.

Foto: Manchester City/Site oficial - Guardiola inicia sua caminhada na Inglaterra com a missão de construir um City vencedor

Foto: Manchester City/Site oficial – Guardiola inicia sua caminhada na Inglaterra com a missão de construir um City vencedor

Esqueça o Barcelona, o tiki-taka e o Bayern de Munique. O treinador catalão não vai tentar reproduzir seus ex-times na Inglaterra. Veremos algo novo, adaptado ao clube, aos jogadores e ao futebol do país. Obviamente, tudo será baseado nas suas ideias. Algumas serão inegociáveis, outras adaptadas e algumas descartadas, mas certamente com um belo resultado no final.

Você já está cansado de ouvir que Guardiola sempre quer ter a bola, e para isso seus times trocam passes curtos desde a própria área. Os jogadores são treinados para escapar das pressões adversárias com a bola no chão, sem entregar ela facilmente ao oponente. Para isso todos têm que jogar, até o goleiro. Por isso Hart parece com seus dias contados no Etihad. Embora seja um goleiro seguro e um dos símbolos da equipe, não possui a habilidade com os pés necessária para ser o arqueiro de Pep e dificilmente será o camisa 1 nessa nova era.

Foto: Manchester City/Site oficial - Joe Hart não deve ter futuro no Manchester City

Foto: Manchester City/Site oficial – Joe Hart não deve ter futuro no Manchester City

Por outro lado, quem chega para ser peça importantíssima na engrenagem guardiolista é Stones. Para entender a contratação do zagueiro inglês é preciso pensar no tipo de jogo que veremos em Manchester a partir dessa temporada. A maioria das equipes que enfrentar o esquadrão de Guardiola não vai tentar disputar a posse, vai simplesmente entregar a bola para o City e se fechar na defesa. Nesse cenário, Stones será fundamental em um aspecto importantíssimo do jogo de Guardiola: superar as linhas do adversário.

“Finalmente nós podemos utilizar John Stones e é importante para nós ter um grande talento inglês. Não apenas para defender, mas para construir com sua inteligência e habilidade para jogar entre as linhas. Ele é ótimo” – Pep Guardiola

Imagine quando o Leicester, por exemplo, for jogar no Etihad Stadium. Assim como fez na temporada passada, Claudio Ranieri colocará seu 4-4-2 recuado, defendendo seu campo e obrigando o City a ir para cima criar os espaços. Então veremos três linhas (a de defesa, meio-campo e ataque) bem definidas do atual campeão aguardando o time da casa. De alguma forma os Citizens precisarão superar essas linhas para chegar ao gol, e Stones sabe como. Além do passe vertical muito acima da média para um zagueiro, o inglês não tem medo de conduzir a bola. Se tiver espaço, ele vai avançar e ultrapassar a linha de marcação como se fosse um meio-campista.

O vídeo abaixo é um compilado de lances do zagueiro. Tem belos desarmes, carrinhos e tudo que se espera de um defensor, mas se atente ao que Stones faz quando ele tem a bola. Observe como ele supera as linhas de marcação do oponente com passes verticais ou condução.

Avançando no campo, chegamos a faixa central. É a região do campo mais importante para Guardiola. Como foi em seus tempos de Catalunha e Baviera, Pep também deve adotar o 4-3-3 como base, a partir daí os movimentos dos jogadores darão novas caras ao time e inúmeras outras formações. Sendo assim, o primeiro jogador desse triângulo de meio (Busquets no Barcelona; Lahm, Xabi Alonso e às vezes Vidal no Bayern) é importantíssimo. É ele quem comanda a saída de bola e coordena o jogo do time, portanto precisa ser alguém com ótima leitura do jogo e muito capacitado tecnicamente. Quem será esse regista dos Citizens?

Essa é uma das questões nesse primeiro ano do catalão a frente do time. Fernandinho jogou por ali na pré-temporada, mas não parece ter o nível exigido para a função e Guardiola já sinalizou que o brasileiro pode ser um de seus zagueiros. Um caminho possível é ter Gundogan como o principal maestro da equipe. Certamente o alemão é o mais qualificado tecnicamente para o posto e nenhum outro meio-campista do elenco é tão construtor quanto o recém-chegado. No entanto, em seus tempos de Borussia Dortmund, Gundogan atuava numa dupla de volantes e terá que passar por uma adaptação para desempenhar o novo papel, assim como aconteceu com Lahm no Bayern. Tarefa pouco complicada quando se tem “apenas” Pep Guardiola, que foi um dos principais registas do futebol, para ensinar os truques da posição.

Foto: Manchester City/Site oficial - Gundogan deve ser peça fundamental no novo City

Foto: Manchester City/Site oficial – Gundogan deve ser peça fundamental no novo City

No último terço do gramado, Guardiola indica uma composição de jogadores verticais, objetivos. Os dois jogadores abertos são os homens do drible, que partem para decidir a jogada na individualidade. Daí as contratações de Nolito e Sané, dois atacantes que se encaixam perfeitamente nesse perfil, assim como Gabriel Jesus e Marlos Moreno. Navas, embora esteja abaixo das recentes aquisições, pode ser útil até que os sul-americanos cheguem. No comando de ataque, Aguero, Iheanacho e até mesmo Gabriel Jesus seguem a mesma linha: velocidade e objetividade, sem alguém forte no pivô ou muito toque de lado.

Essa opção por jogadores de drible pelos flancos mexe diretamente com David Silva e De Bruyne, dois dos principais nomes do City. Ao que tudo indica, os dois serão prioritariamente utilizados por dentro, formando a trinca de meio com o regista. Na temporada passada, com Manuel Pellegrini e seu 4-2-3-1, o espanhol e o belga variavam entre o centro e a beirada. Agora, sob a batuta de Guardiola, ambos surgem como jogadores centrais. Isso implica uma maior participação sem a bola tanto no combate ao adversário quanto na recomposição defensiva. Na mesma posição o elenco ainda oferece Delph e Yaya Touré, que permaneceu mesmo após tanta especulação, além de Fernandinho e Gundogan, que também podem atuar por ali. Uma grande variedade para um treinador que quer controlar o meio-campo.

Foto: Manchester City/Site oficial - David Silva é um dos jogadores que terá nova função no esquema da equipe

Foto: Manchester City/Site oficial – David Silva é um dos jogadores que terá nova função no esquema da equipe

O Manchester City será algo novo a partir dessa temporada. Novo escudo, novos jogadores, novo treinador e uma forma de jogar futebol completamente nova. Um grande desafio para Pep Guardiola que, diferente da sua chegada ao Bayern, não encontrou uma base sólida para iniciar seu trabalho na Inglaterra. Por outro lado, terá ainda mais liberdade para moldar a equipe a sua maneira e construir um time vencedor, o que também acarreta uma pressão maior. Enfim, uma missão enorme, assim como a carreira e o conhecimento de Pep.

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