quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Mesmo sem saber, já éramos todos Chape

Foto: Nelson Almeida - A dor do jovem torcedor na Arena Condá

Foto: Nelson Almeida – A dor do jovem torcedor na Arena Condá

Era para ter sido uma daquelas noites tranquilas, que você capota na cama e só acorda de manhã, vencendo o despertador. Mas não foi.

Trocentas mensagens no celular. Aconteceu algo, claro. Então entra em cena aquela parte do cérebro que para tentar nos proteger faz com que não acreditemos no que lemos ou assistimos.

Por alguns segundos você lê que foram só seis vítimas ao invés de seis sobreviventes. Demora um pouco para processar o que de fato aconteceu.

Foto: Divulgação - Ananias comemora o gol de empate diante do San Lorenzo

Foto: Divulgação – Ananias comemora o gol de empate diante do San Lorenzo

“Caralho, o Ananias e o Kempes estavam lá!”. A primeira coisa que me veio na cabeça. Até que você volta a racionar e percebe que tinha muito mais gente no avião.

Trabalhei com os dois na Portuguesa, aonde fui assessor de comunicação. Lembro da primeira vez que vi o Ananias. Baixinho, magrelo. Estava com uma bermuda que passava dos joelhos e um boné. O vi de costas, parecia um adolescente, impressionado com os painéis do novo vestiário da Lusa, que tinha umas fotos da torcida, criando um clima de estádio.

Perguntei de quem ele era filho para o Dirceu, massagista do clube, que respondeu: “Tá louco? É o cara que veio do Bahia!”. Comecei com o pé direito!

O Ananias era um cara tranquilo, na dele, daqueles que observam em silêncio tudo o que acontece ao redor. Mas dentro de campo se transformava, virava um gigante. O nosso Ananiesta, o cara que fez o gol que levou a Portuguesa à fase final do Paulistão depois de 13 anos e comemorou como um louco, se pendurando no alambrado.

Foto: Divulgação - Kempes comandava o ataque da Chape

Foto: Divulgação – Kempes comandava o ataque da Chape

Eu peguei simpatia pelo Kempes antes mesmo de conhecê-lo. “Como assim contratamos um cara que tem o nome do atacante argentino? É nome ou apelido?”.

Era seu nome mesmo, que ele dizia com todo o orgulho do mundo ser uma homenagem do seu pai ao Mário Kempes, encantado com a Copa de 78.

O nosso Kempes era um cara alegre, brincalhão, que zoava com todo mundo. Tinha uma personalidade forte, que podia ser traduzida por sua cabeleira.

Cabeleira, aliás, que tinha tranças na época de Canindé, não o black de power dos tempos de Chape, e eu às vezes chamava de “cabelo de boneca” só para encher seu saco.

Foto: Globo.com - Tradicional mascote, o indiozinho coral entre a dor e a esperança

Foto: Globo.com – Indiozinho coral, tradicional mascote do clube

Mas não é preciso conhecer quem estava na tragédia para se comover. Um acontecimento desses cria uma empatia instantânea, um sentimento de “poderia ser eu lá”, que gera uma enorme comoção em torno do acidente.

O fato é que todos nós queremos ser um pouco a Chapecoense. Aquele azarão que supera os gigantes, e talvez por isso nos sentíamos de certa forma representados nesta jornada que teve um fim abrupto.

A tragédia, sempre dolorosa, traz à tona aquilo que temos de melhor. Seja pela comoção mundial, a fantástica reação dos colombianos ou a união dos clubes brasileiros em prol da Chapecoense, nos tornamos mais humanos e sentimos que o futebol não é apenas de um jogo…

O conteúdo acima é de responsabilidade expressa de seu autor. O Doentes por Futebol respeita todas as opiniões discordantes e tem por missão promover o debate saudável entre ideias.

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