terça-feira, 20 de junho de 2017

Olho nele: Wendel, o motorzinho do Fluminense

No inconstante Fluminense de Abel Braga, uma peça mostra uma regularidade assombrosa: Marcus Wendel Valle da Silva, mais conhecido como Wendel. E por que assusta a fiabilidade do jogador em um momento ruim da sua equipe? Porque Wendel tem apenas 19 anos. E surpreende mais ainda que esta é sua primeira temporada como profissional e que só chegou ao mundo do futebol dois anos atrás. Ou seja, Wendel não é aquela típica promessa que passou por todo um processo na base.

Rejeitado em Portugal, seu destino era Xerém

Com 17 anos, viajou para Portugal para fazer testes no Benfica, mas acabou reprovado. De volta ao Brasil, a sorte começou a dar boas-vindas. Primeiro, começou a jogar no Tigres do Brasil, de Xerém, em Duque de Caxias, cidade onde nasceu. Devido a proximidade com a base do Fluminense, não tardou a chamar a atenção de olheiros do clube tricolor. Dito e feito: meses depois de começar a atuar em Los Lários, Wendel foi convidado a realizar testes no Fluminense. Não precisou fazer muito para ser aprovado com facilidade. Os observadores sabiam que, ali, estava alguém que não poderiam se dar o luxo de perder.

Abel Braga chega para utilizar os meninos da base

Assim, Wendel deu seus primeiros passos no Flu. E dali até chegar ao time A, como de costume na curta carreira, não demorou tanto. Após um 2016 conturbado, Abel Braga retornou ao clube das Laranjeiras para dar um upgrade no ambiente. Ainda que o time tenha entrado na temporada sob incógnita, ter um treinador do estirpe de Abel, por toda a sua história construída no clube (que envolve título Brasileiro), dá a confiança de que o trabalho vai, ao menos, ter uma continuidade.

Conhecendo as limitações financeiras de um clube em crise que não pode se dar ao luxo de fazer muitas contratações, o comandante aproveitou o Campeonato Carioca para observar muitos jogadores da base e entender de que forma cada um seria importante ao longo do ano. O calendário de 2017 é extenso: são cinco campeonatos que o Fluminense disputaria em 2017 e todos teriam ao menos um jogo no primeiro semestre.

Fluminense jovem e em busca de identidade

Sabendo da velocidade de um plantel predominantemente jovem, Abel buscou, primeiro, criar um Flu de identidade. Na Taça Guanabara, em específico, foi um time de estilo muito direto: defesa em blocos baixos e um jogo de muitos contra-ataques, guiadas por Gustavo Scarpa e concluídas por um Wellington Silva imparável pelo lado. Com a lesão de Scarpa, Abel não criou um plano B, e sim aumentou ainda mais a velocidade de suas transições, agora com dois raios abertos: além de Wellington, um Richarlison já adaptado ao futebol carioca depois de irregulares apresentações em 2016 (vale que mencionar que, muitas das vezes, foi utilizado como centroavante por Levir Culpi). Dessa forma, era um Fluminense muito vertical e com soluções individuais promissoras.

O título da Taça Guanabara em cima do rival Flamengo, que entrou em condições de favorito a tudo que disputava, deixou claro a ambição do Fluminense: apesar de “inexperiente”, um time com Abel Braga nunca vai se limitar a ser coadjuvante. O Flu queria ir mais além.

Um “vestibular” para Wendel

Com a confiança em alta após levantar uma troféu, Abel deu um passo à frente na Taça Rio. E aí entra o protagonista do texto. Devido a uma maratona de jogos que o Flu teria para fazer em março em abril, que envolvia jogos do Estadual, da Copa do Brasil, da Primeira Liga e da Sul-Americana, Abel usou o segundo turno do Carioca como uma espécie de vestibular para os reservas e os jogadores da base. Reginaldo, Nogueira, Marcos Calazans, Luiz Fernando, Maranhão, Marcos Júnior e Pedro ganharam sequência jogando semanalmente, mas o destaque unânime foi Wendel.

Foto: Nelson Perez / Fluminense FC

O 4-1-4-1 que tornou-se um 4-3-3 com a lesão de Scarpa e um visível triângulo na medular, sempre teve em Douglas uma peça de confiança de Abel Braga. Porém, a lesão do meia somada a decadência física e técnica de Marquinho obrigou o treinador a buscar um outro nome. Apareceu Wendel. Abel queria um time mais agressivo sem a bola e adiantou suas linhas. A marcação, antes mais passiva e à espera do erro inimigo, agora começaria em campo contrário.

Estilo de jogo

Primeiro, vale destacar as características defensivas de Wendel. No 4-3-3 tricolor, ele sempre se posiciona como meia direita. Não é um exímio ladrão de bolas, mas tem astúcia o suficiente para fechar linhas de passes e quebrar um ataque rival (ilustração abaixo). Quando o Flu adianta a marcação, ajuda sempre a primeira linha com intensidade. As pernas frescas de alguém que tem 19 anos faz a diferença com a bola, onde mora os mais destacáveis aspectos do meia.

Wendel gosta de assumir regiões atrás da linha da pelota, mas seu melhor nasce através da percepção para fazer seu time ganhar metros. Wendel tem uma sensibilidade (e frieza) para escapar de uma pressão no campo defensivo com um drible por dentro à Luka Modric que tem o caracterizado. Não é raro vê-lo, com um ou dois toques curtos, deixar dois adversários para trás e conduzir com um espaço considerável à frente, diante de um futebol brasileiro que ainda tem dificuldades para criar sistemas de pressão.

Não se engane com o que Wendel aparenta

Embora plasticamente seu estilo indique isso, Wendel não é um gestor de jogo. E os meses sem Sornoza tem servido para compreender melhor seu perfil. O equatoriano (de fato, quem constrói as jogadas com maior consistência) era o “dono da bola”; e por ser complementário a Wendel, às vezes se posicionava mais entrelinhas, com o jovem ditando o ritmo. O que aconteceu em especial contra o Liverpool, jogo de ida da primeira fase da Sul-Americana. Em seu primeiro jogo no time considerado titular, exibiu-se diante de um bom público no Maracanã. Jogou como manda o manual dos meias: inversões de jogo, aproximação ao lado da bola, constância nos passes e posse de bola. Até por isso, a lesão do camisa 20, inicialmente, não foi tão sentida. Havia a impressão de um Wendel emulando a função do ex-Independente de Valle.

Meio-campista com liberdade para subir

Se fosse para defini-lo, seria como um “box-to-box”. Notabilizando-se pelas infiltrações em profundidade (sequência abaixo). E tendo liberdade para ir à linha de fundo, típicas de um meio-campista treinado por José Mourinho. Ou seja, Wendel é um “Vidal”, e não um “Kroos”.

E por isso o Fluminense tem mostrado muita desorganização nos seus ataques sem Sornoza. Até pelo fato de ser “elétrico”, obriga Orejuela a fixar mais sua posição como primeiro volante e atuar em posicional. E para dar um critério aos ataques tricolores, é Gustavo Scarpa quem assume mais funções de gestor; saindo muito da ponta para inclusive ir até aos zagueiros fazer a saída de bola (algo que fica mais evidente nas partidas sem Orejuela).

Tenha em mente o contexto do jogador

O frio início de Brasileirão 2017 do Fluminense pode subestimar o momento individual de Wendel. O jovem é o melhor jogador do time ao lado de Henrique Dourado. O pico de futebol atingido pela promessa é muito alto. Vide partida contra o Atlético Mineiro. Wendel demonstrou maturidade impressionante, tirando o Fluminense do campo de defesa e abaixando o ritmo do Galo nos minutos de abafa com um a mais. Contra Vitória, Atlético-PR, Palmeiras, Grêmio e Flamengo ele também se destacou.

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E se tem algo sempre destacado por Abel Braga, é sua personalidade. Por exemplo, as partidas citadas se dividem entre resultados positivos e negativos e atuações ruins ou boas coletivas do Tricolor carioca. Mas que sempre tiveram em Wendel como o melhor ou, no máximo, o segundo melhor do time em campo.

É um jogador que tem defeitos, o que é normal. E tem tudo para evoluir em todos os conceitos. Certamente, daqui a alguns anos, estará a pleno funcionamento e irá entender mais as nuances de um sistema tático. Vai merecer a pena acompanhar essa caminhada. Além do seu já rico valor futebolístico, assistir Wendel jogar é uma esperança visando o futuro do futebol e da seleção brasileira. Será uma estrela, certamente.

Olho Nele!

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