terça-feira, 19 de setembro de 2017

Paulinho, Denis Suárez e a importância de um banco de reservas determinante

De uma forma ou outra, a Liga Espanhola 2016/2017 foi diferente. Entre vários motivos, o principal foi a forma como o Real Madrid levantou o troféu. Pela primeira vez desde 2009, quando contratou Cristiano Ronaldo, os blancos fizeram um campeonato irregular no que diz respeito a rendimento, inclusive dentro de uma própria partida. Chamou a atenção também que Zinédine Zidane limitou Cristiano Ronaldo a 25 gols (12 a menos que Lionel Messi, o artilheiro, e somente cinco a mais que Iago Aspas, um ser-humano qualquer) e mesmo assim deu a impressão que não perderia o título. Isso porque, vale ressaltar, foi a primeira vez, desde que começou a tiranizar o futebol espanhol, que Messi deu indícios de que o alienígena capaz de tirar coelhos da cartola todo final de semana não será mais tão frequente. Não foi raro ver o Real tropeçar e, horas depois, um Barcelona que nunca deu essa brecha não aproveitar. Além dos problemas coletivos do time treinado por Luis Enrique, o individual (e isso passou pelo trio MSN, obviamente) não conseguiu se sobressair. E as peças de reposição não fizeram a diferença, uma das principais marcas de desequilíbrio pro Real.

19 dos 38 jogos terminaram com uma vitória merengue por um gol de diferença. Destes, nove foram definidos nos minutos finais. Destrinchando ainda mais os dados, os autores dos gols dos confrontos citados foram Kroos contra o Celta, Morata contra o Athletic Bilbao, Mariano e Sergio Ramos contra o Deportivo La Coruña, Morata contra o Villarreal, Cristiano Ronaldo contra Las Palmas, Sergio Ramos contra o Bétis, Isco contra o Sporting Gijón e Marcelo contra o Valencia. Ou seja, muitas das peças vindas do banco deram pontos importantes ao Real Madrid. Mais: a confiança nos reservas era tão alta que Zidane se deu ao luxo de criar um “Real B”, que deu as caras sobretudo na reta final da temporada, quando o time conciliava a última etapa da Liga dos Campeões. Nomes como James Rodriguez, Isco, Asensio, Kovacic e Morata, além de Nacho na zaga, não deixaram o nível cair e protagonizaram atuações marcantes da campanha madridista. Até por causa disso, quando um ou outro entravam no “time A”, situavam-se com personalidade. Não foi coincidência Isco terminar (e muito bem) a temporada como titular (mesmo quando Bale já estava recuperado da lesão) ou Asensio ter uma presença notável na final da Liga dos Campeões.

Foto: Site Oficial da UEFA | Mesmo partindo do banco de reservas, Isco, James, Asensio, Kovacic, Lucas Vázquez e Morata foram parte da espinha-dorsal do Real Madrid campeão espanhol em 2016/2017

Por outro lado, se os suplentes do Real eram dignos de elogios, o mesmo não se pôde dizer dos do Barcelona. Pelo contrário, o mais comum foram as críticas (algumas até pesadas, aliás) a André Gomes e Paco Alcácer, que, em especial o primeiro, foram quem mais Luis Enrique tentou ativar. Outros como Denis Suárez ou Arda Turan foram mais inconstantes do que ruins propriamente dito. Além de serem “neutralizados” pela falta de jogo e a confusão tática que era o Barcelona, André, Denis e Arda também necessitavam de tempo para se adaptarem. Contratados para serem meias de um time de posse de bola, cumprir tais funções foram inéditas em suas carreiras. André teve sua melhor fase num Valencia mais conservador e contra-atacador como meia-esquerda de um 4-3-3 ou como meia-atacante de um 4-2-3-1; Arda foi um dos grandes nomes do futebol europeu em 2013/2014 como meia aberto do 4-4-2 do Atlético de Madrid de Simeone; Denis fez uma temporada destacável em 2015/2016 também como meia aberto de um 4-4-2, no Villarreal de Marcelino García Toral.

A chegada de Valverde ao Camp Nou representou rupturas com certos mecanismos do Barcelona de Luis Enrique. Sem entrar em mais detalhes de como joga o atual Barça (assunto este que será melhor detalhado num futuro artigo), o atual treinador desenha um Barcelona mais controlador e equilibrado a partir de um coletivo, e não em uma única figura, o que gera maior organização. E é por isso que, enfim, a tropa culé começa a ganhar resolução e força a partir do seu banco de reservas. O processo natural de aclimatação aos novos posicionamentos e/ou papéis está chegando ao fim e, além disso, as chegadas de Deulofeu, Semedo ou o retorno de Sergi Roberto ao meio-campo ajuda a dar um up em André e Denis. O primeiro lapso de quão importante seriam os “décimo-segundo jogadores” veio logo na primeira rodada, contra o Bétis. O peso dado a um Sergi Roberto que saiu da lateral pra jogar de meia-atacante atrás de Messi escalado como falso nove ou o protagonismo de um Deulofeu bem aberto à direita conectando-se com Semedo ratificaram a proposta de Valverde.

A maior demonstração de que o poderio barcelonista está, gradativamente, aumentando veio no final de semana. Messi e cia visitaram Madrid para enfrentar o Getafe no Coliseum Alfonso Pérez. O Getafe de Pepe Bordalás mostrou nas primeiras rodadas muita eficiência defensiva. Sem a bola, as duas linhas de quatro se compactam de uma forma que encurta a troca de passes rival, fechando os espaços e obrigando a jogar em poucos metros. O Barcelona sofreu. Também porque, defensivamente, quando o jogo-direito dos azulones encaixava, um débil Piqué colocava em xeque a possibilidade da equipe sair com uma vitória. Mas aí entrou em cena, primeiro, Denis Suárez. O galego entrou em campo no lugar de Iniesta e mudou o Barça. Deu frescura, mobilidade e precisão, três pontos que os blaugranas clamavam, capaz de mover o destacável sistema de marcação do Getafe. Marcou o gol de empate depois de jogada de Deulofeu e passe de Sergi Roberto. O xeque-mate veio com Paulinho, infiltrando-se às costas Bergara e Arambarri, a dupla de volantes do Geta, como nenhum outro azulgrená havia conseguido. Quando Messi viu Paulinho desmarcando-se verticalmente à área, o brasileiro não desperdiçou e decidiu um difícil triunfo. O mesmo Paulinho que havia entrado em campo 12 minutos antes.

Foto: Site Oficial do Barcelona | Paulinho e Denis Suárez se cumprimentam: os reservas que decidiram um triunfo difícil e importante pro Barcelona contra o Getafe. Momento raro no ambiente culé nos últimos anos.

Em três jogos, Valverde já obteve o que para Luis Enrique teria sido uma maravilha: estimular os recursos secundários como resposta a um mau dia dos protagonistas. A Liga dos Campeões é um contexto diferente, mas, indiretamente, as atuações do Barcelona em âmbito doméstico definirão o que será a equipe na Europa. Se, por acaso, Valverde conseguir rodar o elenco com mais frequência, ainda mais fora de casa, e ter seus particulares “James”, “Morata”, “Asensio”, “Kovacic”, “Isco” ou até mesmo “Lucas Vázquez” dará meio passo para conquistar a Espanha. Assim, terá, também, os titulares mais descansados para as aventuras continentais, como teve, brilhantemente, Zidane na temporada passada. Em términos competitivos, reascende uma chama na Catalunha.

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