quarta-feira, 28 de agosto de 2019

As estratégias que equilibram a luta pela permanência na Premier League

As primeiras rodadas da Premier League reforçam a percepção de que não há candidatos muito óbvios ao rebaixamento. Não existe um time ou um grupo de equipes claramente inferiores, ao menos nenhum que associe fragilidade do elenco à ausência de um plano coerente para a temporada. Ainda estamos em agosto, e só dois times – Watford e Wolves, que fizeram campanhas notáveis na temporada passada – não venceram. À exceção do Watford, todo mundo já tem ao menos três pontos. A diferença do 5º para o 19º colocado é de um ponto.

Mesmo quem sofreu no ano anterior e parecia destinado ao rebaixamento trouxe novidades para o ano novo. O Brighton, que terminou 2018-19 em queda livre e pedindo aos céus para o rústico time do Cardiff não embalar uma sequência de bons resultados nas últimas rodadas, trocou o técnico Chris Hughton pelo mais flexível e inovador Graham Potter, ex-Swansea. Apesar da derrota para o Southampton no sábado, quando o atacante Andone pôs tudo a perder ao ser expulso no primeiro tempo, o time já se anunciou como uma das possíveis surpresas da liga.

Watford, Southampton e Newcastle estão hoje nas três últimas posições. Os dois primeiros, apesar de um início assustadoramente frágil do Watford (11º em 2018-19), tendem a melhorar bastante o aproveitamento. O Newcastle não necessariamente tem um elenco pior que o da temporada passada, com Joelinton e Saint-Maximin substituindo Rondón e Ayoze Pérez em ótimo nível, e surpreendeu ao vencer o Tottenham em Londres por 1 a 0 no domingo. Mas as controvérsias envolvendo o proprietário Mike Ashley sugerem que este será mesmo um ano difícil. Steve Bruce, que ocupou a cadeira do ídolo da torcida Rafa Benítez, teve a pior recepção de um técnico desde Waldemar Lemos no Flamengo em 2003.

No ano passado, Cardiff e Fulham bateram e voltaram. O outro rebaixado, o Huddersfield, também era uma aposta segura para cair, pois a permanência na temporada anterior já havia sido um pequeno milagre. Os demais clubes sempre poderiam olhar para baixo com a esperança de que sempre haveria três piores, o que não é mais o caso. Este cenário de incerteza em 2019-20 é, além da competitividade crescente da Premier League e da Championship, consequência da boa preparação que os promovidos Norwich, Sheffield United e Aston Villa fizeram para a chegada à elite. Todos são, até que se prove o contrário, candidatos ao rebaixamento, mas podem perfeitamente escapar.

O Sheffield Utd se reforçou sobretudo com destaques da segunda divisão e manteve os mecanismos do time que subiu. O mais notável deles é a curiosa movimentação dos zagueiros O’Connell e Basham, que participam ativamente das jogadas no campo de ataque, oferecendo opção de passe e ultrapassando como se fossem alas. Se você vir o gol marcado pelos Blades na vitória sobre o Crystal Palace na segunda rodada, notará que O’Connell ultrapassou rumo à linha de fundo no início do lance. Talvez falte qualidade no fim das contas, mas não é uma equipe desprezível.

No entanto, os dois times que mais chamam atenção, pelo antagonismo entre suas estratégias na transição da segunda para a primeira divisão, são Norwich e Aston Villa. Todos os titulares do técnico Daniel Farke nas rodadas iniciais já estavam em Carrow Road na temporada do acesso. A revolução de Farke aconteceu de verdade há um ano, quando o Norwich vendeu Maddison ao Leicester e compensou a grande perda com a montagem do elenco que dominaria a Championship.

Não havia razões para mudanças drásticas agora. Além da plena confiança no estilo ofensivo, imagina-se que jogadores já fundamentais como os laterais Aarons e Lewis e os meias Buendía e Cantwell ainda vão evoluir. É verdade que o centroavante Pukki, que rodou por ligas periféricas (à parte uma experiência um pouco mais longa na Bundesliga com o Schalke 04), parecia ter aos 29 anos o típico perfil de alguém que brilharia na segunda divisão, mas não seria bom o bastante para a primeira. Só que a prática tem derrubado a teoria: com cinco gols e uma assistência em três jogos, o finlandês é a grande história da temporada. O Norwich perdeu para Liverpool e Chelsea, mas promete jogos divertidíssimos ao longo do ano.

Por outro lado, o Aston Villa só não gastou mais do que o Manchester United na última janela: foram £144 milhões para transformar o elenco e manter os antes emprestados Mings, Hause e El Ghazi. Dos titulares de Dean Smith na vitória por 2 a 0 sobre o Everton, sete são novidades da temporada. Apenas Mings (zagueiro canhoto contratado agora, mas emprestado pelo Bournemouth em 2018-19), Taylor, McGinn e o capitão Grealish já estavam no Villa Park.

O Fulham, que gastou cifras similares há um ano, viu o time naufragar na temporada passada, com direito a uma troca no comando técnico – Slavisa Jokanovic por Claudio Ranieri – que mudou completamente o plano de jogo. Parecia promissor, mas, olhando para trás, nota-se certa aleatoriedade nas compras. A defesa não foi devidamente reforçada e deixou a desejar do início ao fim do campeonato. O temor é de que a equipe de Dean Smith tenha o mesmo destino, mas há motivos para esperar um resultado diferente.

No caso do Villa, diferentemente do Norwich, a constatação foi de que o grupo era mais adequado para tentar subir do que para lutar pela permanência em um nível de exigência maior. Não foi possível manter o emprestado Tammy Abraham, que hoje já faz seus gols no Chelsea, mas a política do clube foi a de buscar segurar todos aqueles que eram suficientemente bons, rejuvenescer o elenco e reforçar os setores de maneira equilibrada, o que definitivamente não aconteceu no Fulham. Os brasileiros Douglas Luiz e Wesley já marcaram gol e são referências do novo Villa.

No fim das contas, não há uma receita em circunstâncias normais. Ideal, mesmo, seria ter um time de meio de tabela da Premier League disputando a Championship, como aconteceu com os Wolves há dois anos. Nesse caso, é só manter o sistema e usar o orçamento para melhorar o nível de duas ou três posições. Foi exatamente isso que transformou os  Lobos em clube de Europa League. Mas nem sempre é possível contar com um Rúben Neves marcando gols espetaculares na segunda divisão. Então, a decisão de manter ou mudar dependerá sempre de uma associação de fatores, da média de idade do time à confiança no estilo de jogo.

Pílulas da rodada

O Arsenal jogou melhor do que em visitas recentes a Anfield, mas mesmo assim perdeu por 3 a 1 para o Liverpool. Levando em conta o caos promovido pelo time de Jürgen Klopp nos primeiros 20 minutos do segundo tempo, poderia ter sido pior. A atuação de Ceballos passou longe do grande desempenho contra o Burnley, mas Pépé incomodou bastante e mostrou que será protagonista do que promete ser um ótimo time de Unai Emery.

O Crystal Palace segue sendo um dos times mais intrigantes da liga. Após uma atuação terrível contra o Sheffield United na segunda rodada, a equipe de Roy Hodgson venceu o Manchester United por 2 a 1 em Old Trafford. No “clássico de Wan-Bissaka”, o Palace marcou seu primeiro gol numa  jogada da qual teoricamente abdicou ao deixar Benteke no banco: lançamento do goleiro Guaita, “casquinha” de Schlupp e finalização de Jordan Ayew. Resta saber como ficará a situação de Zaha, de quem a equipe depende muito e que ficou insatisfeito ao não ser vendido para outro clube inglês.

Na vitória do Leicester fora de casa sobre o Sheffield United por 2 a 1, a assistência de Maddison para o gol de Vardy foi espetacular. Veja, se possível. O time de Brendan Rodgers é bastante promissor. A maior preocupação era a ausência de Maguire, mas o zagueiro turco Soyuncu já caiu nas graças dos torcedores e tem jogado muito bem ao lado de Evans. O meio-campo é recheado em quantidade e qualidade e pode controlar jogos, como ocorreu no segundo tempo diante do Chelsea, na segunda rodada. E Vardy, se acionado em velocidade, sempre marcará gols.

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