segunda-feira, 26 de agosto de 2019

Em pé de guerra: como o calendário criou novo atrito entre Federação Espanhola e La Liga

Definitivamente, a Real Federação Espanhola de Futebol e La Liga não falam mais o mesmo idioma. E o estopim de uma nova divergência entre os órgãos tem a ver com o calendário para a nova temporada. O fã mais atento do futebol do país das touradas deve ter percebido que, até última ordem, não tem jogo marcado para segunda-feira em nenhuma rodada. Carmem Pérez González, juíza de competição da RFEF, já tinha determinado, em resolução sentenciada no final de julho, que as primeiras três rodadas só seriam disputadas aos sábados e domingos. Duas semanas depois, o juiz Andrés Sánchez Magro, do 2º Juizado Mercantil de Madrid, definiu: para o restante da temporada, futebol na Espanha às segundas está fora de cogitação.

Para Luis Rubiales, presidente da RFEF, a decisão é uma “vitória das torcidas”. Já Javier Tebas, presidente de La Liga, pensa que é “grave o fato da Federação bater de frente com tanta gente“, salientando que “os clubes têm que ter autonomia para decidirem sobre questões que envolvem diretamente as instituições“. Embora organize o campeonato, La Liga é subordinada à Federação Espanhola. A RFEF deixa bem claro, em seu site oficial, que “A Liga de Futebol Profissional é uma associação esportiva de caráter privado (…) que organiza suas próprias competição, dependendo da autorização da Federação para sentenciar suas decisões“.

Foto: Reprodução | Luis Rubiales, presidente da Federação Espanhola, comemora decisão da justiça impedindo jogos às segundas no país.

Há algum tempo a Liga vem trabalhando para flexibilizar o máximo possível os horários. Nas últimas três temporadas, quase 40% dos jogos em uma única rodada foram disputados fora do final de semana. Os motivos pelas partidas espalhadas são financeiros. Atualmente, os acordos de transmissão de La Liga movimentam mais de R$ 2 bilhões em contratos nacionais e internacionais. A decisão pode forçar a revisão desses lucrativos valores dos direitos audiovisuais.

Em um evento na China, Tebas afirmou que “aqui o Espanyol é mais importante que Real Madrid e Barcelona“. Ele se refere ao fato dos Péricos terem em seu elenco o atacante chinês Wu Lei, ídolo local, que deixou o Campeonato Chinês como segundo maior artilheiro da história da competição para embarcar à aventura rumo à Europa. Menos datas significa menos possibilidade dos chineses (ou qualquer outro mercado diferente) poderem ver Wu Lei no Espanyol. E menos dinheiro também, é claro. Desde 2015, o modelo de distribuição das cotas de tv prevê metade da arrecadação divididos igualitariamente, o que tem ajudado substancialmente as receitas dos clubes.

Logicamente, o assunto divide opiniões. Fernando Roig, presidente do Villarreal, foi um dos que publicamente criticou a nova divisão de horários. Roig define como “desastroso” e “trágico” não poder jogar segunda-feira. Em entrevista ao El País, o empresário explicou sua visão. “Os acordos que os clubes espanhóis fizeram nos últimos quatro anos incluíam jogos às segundas e sextas e isso foi muito positivo para o nosso esporte no geral. Pudemos melhorar a qualidade do futebol como produto e, consequentemente, entrou mais dinheiro em caixa para pagar dívidas. Não entendo algo que está funcionando tão bem cair através de um “decreto”, que foi aprovado sem nenhuma participação de membros da oposição no congresso”. As críticas do presidente do clube da província de Castellón é fundamentada pelo fato de que, nesta temporada, aumentam as chances de algum jogo do Submarino Amarelo “dividir as atenções” com outro. Na primeira rodada, por exemplo, Villarreal 4×4 Granada aconteceu ao mesmo tempo de Leganés 0x1 Osasuna.

No campo popular, Rubiales saiu ganhando quase que de forma unânime. Protestos em relação às partidas fora do final de semana foram frequentes nos últimos anos. O mais icônico de todos veio da torcida do Alavés. Em fevereiro, antes da peleja contra o Levante, a organizada “Iraultza 1921” simulou no estádio Mendizorroza um “funeral do futebol”, em uma criativa, mas pesada crítica aos jogos às segundas. Em uma carta divulgada à imprensa, assinada pelo presidente do coletivo, a Liga estava “maltratando as torcidas, desrespeitando seus direitos com horários infames às sextas e segundas, com preços altos e sanções que resultam na morte desse esporte. O futebol espanhol contraiu o ‘vírus Tebas’ em 2013 e chegou à sua morte“.

Por outro lado, o número do público presente nos estádios da Espanha apresentam um visões positiva e negativa. O Campeonato Espanhol de 2018/2019 terminou com um acréscimo considerável de quase 10% na presença de torcedores nos certames em relação ao de 2017/2018. A média foi de quase 28 mil pessoas por partidas. Logicamente, os registros foram puxados pelo topo da pirâmide. De acordo com o site “World Football”, que compila dados de competições do mundo inteiro, o campeão Barcelona teve um aumento de 16% na presença dos aficionados culés, com uma média de 75,369 pessoas. Entre as cinco principais ligas da Europa, só o Borussia Dortmund teve marca superior. Mas entre os dez maiores públicos, a Espanha, com dois representantes (além do Barcelona, o Real Madrid), perde para Inglaterra (três – Manchester United, Arsenal e West Ham) e Alemanha (quatro – Borussia Dortmund, Bayern de Munique, Schalke 04 e Stuttgart).

Foto: Reprodução | O documento do juiz Andres Sanches Magro decretando, até última ordem, o fim dos jogos às segundas no futebol espanhol

Os atritos entre Federação e La Liga não vêm de hoje. No ano passado a LFP assinou um acordo com uma empresa estadunidense para a realização de ao menos um jogo por ano em solo norte-americano. E já estava tudo certo, inclusive, para que o primeiro encontro fosse entre Girona x Barcelona. Tebas falava em tom de otimismo, quando perguntado sobre o assunto por jornalistas. Josep Maria Bartomeu, presidente do Barça, não se opôs a decisão ($$$) e sugeriu. Mas a RFEF interviu. Em carta escrita à FIFA, a Federação desautorizou a realização de qualquer duelo do campeonato fora do território do país. Até o presidente da Associação de Futebolistas Espanhóis (AFE) se manifestou publicamente. David Aganzo qualificou a decisão de Tebas como “absurda” e não descartou uma greve dos jogadores. Florentino Pérez, presidente do Real Madrid, também se mostrou contrário. Resultado: Girona e Barcelona jogaram normalmente no Estádio Montilivi, e os torcedores do modesto clube catalão tiveram a oportunidade de, pela segunda vez em sua história, receberem os Blaugranas.

Enquanto isso, Javier Tebas segue na fixação de exportar os confrontos do futebol espanhol. Em 2018, a Supercopa pela primeira vez foi disputada fora do país. O Barcelona foi campeão contra o Sevilla no Marrocos, em Tanger, cidade do norte marroquino que fica localizada no estreito de Gibraltar e separa Marrocos da Espanha. A edição desta temporada, que será disputada no início de janeiro, continua no país africano, mas com uma novidade: o formato. Em vez de um jogo único, agora terá semifinal. Uma delas é somente Barcelona x Real Madrid. Ou seja, em uma tacada, o polêmico advogado garantiu três jogos valendo troféu fora da Península Ibérica. Assim, Tebas vai aumentando sua influência nos bastidores e nos negócios envolvendo La Liga.

Pílulas da rodada

Foto: Site Oficial do Barcelona | Griezmann brilhou pela primeira vez no Camp Nou e embalou a boa atuação do Barça na vitória contra o Bétis por 5 a 2.

– Após a derrota para o Athletic Bilbao, o Barcelona se recuperou em alto estilo. Além da vitória por 5 a 2 contra o Bétis, Ernesto Valverde viu uma atuação convincente de seus comandados, mesmo quando perdia por 1 a 0. Sem Messi, Suárez e Dembélé, o ataque, formado por Carlos Pérez, Griezmann e Rafinha, às vezes teve até um quarto jogador, com De Jong bem adiantado, aberto pelo lado esquerdo. A marcação pressão funcionou e deu outro vigor ao time, que dessa vez teve Busquets de volta ao onze inicial. Griezmann jogou como uma espécie de falso 9, saindo muitas vezes da área e participando da organização das jogadas. A energia do canterano Carles Pérez pela direita foi outra boa notícia. Já o Bétis, à deriva, preocupa. Dois jogos, duas derrotas e sete gols sofridos. Desde 1965/66 que não começa tão mal o Campeonato Espanhol.

– O Sevilla venceu mais uma e permanece 100%. O triunfo contra o Granada, por 1 a 0, teve a saída de Reguillón como o ponto mais negativo. Ele chocou de cabeça com Víctor Diaz e, tonto, não conseguiu continuar em campo. O menino tinha feito uma estreia positiva contra o Espanyol, marcou gol e criou expectativa no torcedor. De qualquer forma, voltou a treinar normalmente nesta segunda e está à disposição de Julen Lopetegui para enfrentar o Celta. Outra grande partida de Jordán, que parece jogar no Sevilla há anos. O meio-campo Olho no Sevilla, que promete brigar com mais solidez por uma vaga na Liga dos Campeões.

– O Valencia, por sua vez, começou hesitante em La Liga. Depois de um conturbado verão, com mais um lapso de loucura do seu proprietário, Peter Lim, que quase resultou no pedido de demissão de Marcelino Toral, a equipe não é nem 20% do que foi na segunda parte da temporada passada, com semifinal de Liga Europa e título de Copa do Rei. A indefinição quanto à saída ou não de Rodrigo ao Atlético de Madrid parece prejudicar o ambiente. A merecida derrota para o Celta por 1 a 0 deixou claro: o atacante hispano-brasileiro não tem um substituto de tamanho poder de decisão no ataque.

– O Real Madrid, tema da coluna da semana passada, foi de “menos a mais”, como gostam de falar os espanhóis, e decepcionou os poucos mais de 66 mil torcedores presentes no Santiago Bernabéu ao empatar com o Valladolid por 1 a 1. Zidane surpreendeu mais uma vez e escalou James como titular ao lado de Kroos e Casemiro no meio-campo. Isco ganhou sua chance no ataque em detrimento de Vinicius Junior, mas não teve boa atuação. O primeiro tempo dos Merengues foi bom, com troca de passes rápidas e bons toques de James. Porém, na segunda etapa, especialmente depois da saída do colombiano para entrada de Vinicius, o controle escapou das mãos madridistas. A cria do Flamengo entrou mal e sumiu quando passou para a ponta direita, invertendo de posição com Bale, numa estranha decisão de Zidane. Comportadinho na defesa, o Valladolid reagiu bem ao tento de Benzema e empatou minutos depois com Sergi Guardiola.

– Depois da animada primeira rodada, a segunda já não foi tão legal. Somente 18 gols, sendo sete em Barcelona 5×2 Bétis. Em Madrid, Getafe e Athletic Bilbao fizeram um jogo de mais transpiração do que inspiração. O empate por 1 a 1 acabou ficando de bom tamanho. Pelo lado do Athletic, Capa, de novo, mostrou sinais do acerto que foi sua contratação, com o cruzamento certeiro para Raúl García marcar. No Getafe foi Cucurella que deu o aviso, com a assistência para Mata.

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