sexta-feira, 3 de janeiro de 2020

Melhores e piores da primeira parte do Campeonato Espanhol 2019/2020

O primeiro semestre do Campeonato Espanhol 2019/2020 terminou com um agônico tropeço do Real Madrid contra o Athletic Bilbao no Santiago Bernabéu por 0 a 0, o que deixou o Barcelona livre na ponta da tabela com 39 pontos, dois a mais que os merengues. O atual bi-campeão dessa vez encontra resistência do maior rival na briga pelo título, o que inexistiu nos últimos dois anos: em 2017-2018, os catalães ganharam com 17 pontos de vantagem para os madrilenhos, enquanto que em 2018/2019 foi de 19. Pesado. Aliás, em ambas, o Real sequer foi vice, ficando atrás também do Atlético de Madrid.

Mas o Barcelona (1º, 39) tem problemas, mais que nas temporadas citadas. E eles advêm da capacidade do time de fazer o que melhor fez nos últimos 15 anos: jogar futebol. Os resultados, satisfatórios, não são acompanhados pelo desempenho, que segue sendo o calcanhar de aquiles de Ernesto Valverde, associado a um jogo simplista cujo o Camp Nou não está acostumado. A qualidade individual (Ter Stegen, Piqué, Lenglet, Alba, De Jong, Messi, Suárez e Griezmann) somada à hierarquia doméstica (é o maior vencedor nacional do século XXI) explicam a liderança em meio às dúvidas quanto ao teto de evolução da equipe. Além disso, o poderio dentro de seu estádio não pode ser desconsiderado: são 34 gols em oito jogos atuando em sua fortaleza.

Talvez a grande diferença para o Real Madrid (2º, 37), de 20 gols em nove jogos no Santiago Bernabéu. Nos três tropeços perante os torcedores, o Real jogou mais (1 a 1 contra o Valladolid e 0 a 0 contra Bétis e Athletic Bilbao), mas desperdiçou um caminhão de gols. Com 12 gols, Benzema é o artilheiro da competição junto de Messi e é de longe o craque do time atualmente (e não seria exagero falar do Campeonato), ainda mais considerando que seus companheiros de ataque não seguem seu ritmo, diferentemente do auxílio que o argentino tem de Suárez e Griezmann. A proval cabal são as dezenas de variações que Zinedine Zidane fez para tentar achar melhores parceiros ao francês. Quando Hazard, principal contratação no verão, começava a colocar as asinhas pra fora, caiu lesionado. Jovic, tirado do Eintrach Frankfurt para ser sombra de Karim, não disse a que veio, embora Zizou tenha testado como dupla de ataque num 4-4-2.

Vai chegar um novo centroavante? O técnico nega. Bale segue na eterna irregularidade, Vinicius Junior produz na mesma medida que erra nas conclusões das jogadas, Isco ressurgiu de forma positiva e Rodrygo foi uma excelente novidade. Ao longo do torneio, Zidane ajustou a defesa, segunda menos vazada (12 contra 10 do Atlético de Madrid). Com 18 rodadas, é o menor número de gols que os Blancos sofreram desde 1987/1988. Individualmente, as últimas atuações de Modric e Courtois, a volúpia de Fede Valverde, o vigor de Casemiro e o nível de Kroos embalam o Real Madrid na disputa particular com o Barcelona.

Foto: Site Oficial do Real Madrid | Sorrisos no Santiago Bernabéu: segunda parte da temporada promete mais do que em 2018/2019.

Sevilla (3º, 34) e Atlético de Madrid (4º, 32) fecham o G4. O Sevilla tem mantido uma constância que surpreende, depois da campanha ruim em 18/19. A recuperação do time é igualmente de seu treinador, Julen Lopetegui, que dá a volta por cima no futebol espanhol depois de um 2018 complicado com demissão na Seleção às vésperas da estreia na Copa do Mundo por estar acertado com o Real Madrid e um fracasso retumbante em Chamartín, sentenciado com a goleada sofrida para o Barça por 5 a 1 que culminou em sua queda. O Sevilla de Lopetegui é marcado pela força física, representado pelos brasileiros Diego Carlos (que achado de Monchi) na zaga e Fernando no meio-campo, velocidade nas pontas, com os laterais Jesus Navas e Reguillón, e precisas inversões até então sem soluções por parte dos rivais. Banega segue sendo o maestro e Ocampos não tardou a se encaixar no ataque. O ponto negativo é a “falta de fogo” na frente. Chicharito parece não ter a confiança do comandante, que insiste no controverso De Jong, por ora vivendo mais de nome pelo que fez na Holanda. Na esquerda, Nolito na teoria é o titular, mas não é inconstetável: Munir, Gudelj e até Mudo Vazquez e Koundé já formaram parte do onze inicial.

Decepcionante certamente não seja a palavra correta para definir o Atlético de Madrid (ou é?), mas é fato que, pelo que prometeu (e fez) na pré-temporada, o time de Diego Simeone não fez jus às expectativas. Muito porque o elenco, sobretudo o time titular, está remodelado em relação à 2018/2019. Griezmann, ganha-pontos nos últimos anos, é passado e o Atléti sente falta. O esperado é que os Colchoneros ao consigam competir mais no segundo semestre, com as esperadas adaptações dos reforços. Trippier, João Felix, Felipe, Lodi, Hermoso, até Hector Herrera, cada um deles deixou lampejos esperançosos ao futuro. O tempo dirá sobre a nova versão do Atlético de Madrid.

Não é somente a briga pelo título que está acirrada. Na “Europa”, a disputa pelas vagas na Liga dos Campeões da UEFA e Liga Europa vê seu maior equilíbrio. Do Valencia (8º, 28) ao Atlético, passando por Real Sociedad (5º, 31), Getafe (6º, 30) e Athletic Bilbao (7º, 28), a diferença é de quatro pontos. Levante (9º, 26), Villarreal (10º, 25) e Granada (11º, 24) veem-se com opções de abocanhar uma vaga no segundo torneio de clubes europeu. É lógico que as possibilidades, atualmente, estão mais baseadas na pontuação do trio do que necessariamente por questões técnicas. Não que sejam times ruins, pelo contrário, mas a falta de regularidade pode pesar. O Granada, inclusive, que chegou a liderar o campeonato exibindo, à sua maneira, bom futebol, em especial na parte defensiva, vem de seis derrotas nos últimos oito jogos. Os seis triunfos nas dez primeiras rodadas (o que inclui um 2 a 0 no Barcelona) serviu para criar uma gordura necessária caso continue em queda livre em 2020.


Destaque: evolução do “completo” Martin Odengaard foi tema de um dos debates do ESPN FC, da ESPN UK.

Voltando às equipes próximas do G4, a Real Sociedad é quem hoje mais parece ter alternativas a uma briga sólida, ponto a ponto, com os rivais, principalmente porque Valencia e Getafe dividirão atenções com UCL e UEL, respectivamente, e o Athletic Bilbao segue exibindo facetas diferentes dentro e fora de casa e tem propensão alta à perda de pontos. Se o começo de Liga da Real começou com uma derrota difícil de ser digerida para um implacável Athletic no dérbi no San Mamés por 2 a 0, que, não bastasse a inferioridade, também teve a grave lesão de Illarramendi, Imanol Alguacil aproveitou para fazer mudanças táticas e técnicas que elevaram o patamar do time gradativamente. O 4-3-3 virou um 4-4-2 com cara de 4-2-4 pelo posicionamento dos dois jogadores abertos, mas logo depois retornou para ficar, com Portu caindo pelo lado direito; o jovem Guevara emula Illarra à altura; do meio para frente o quarteto Odeengard, Oyarzabal, Portu e William José, em um bom dia, causa estrago em qualquer atrás. Odengaard, que segue pertencendo ao Real Madrid, é um dos três melhores jogadores da temporada na Espanha de longe.

Foto: Site Oficial da Real Sociedad | Odengaard comemora gol com Portu: o noruguês faz campeonato de gente grande.

O Getafe foi outro que evoluiu mês a mês. Dos 13 pontos em 27 disputados para 17 nas nove rodadas seguinte, os Azulones resgataram a estabilidade atrás, a solidez do eterno 4-4-2 de José Bordalás, a eficiência de Mata e Molina na frente e a estrela de Ángel saindo do banco para se colocarem entre os primeiros colocados. Ademais, Cucurella foi uma das grandes pelo lado esquerdo. O cabeludo já tinha se provado no Eibar jogando como meia, voltou ao Barcelona como fonte de confiança pra ser reserva de Alba, mas, sem espaços, o empréstimo ao Getafe acabou sendo perfeito, mais uma vez atuando adiantado numa linha de quatro. Liga à parte, a temporada reserva o que tem tudo para ser um espetacular confronto de choque de estilos contra o Ajax na primeira fase eliminatória da Liga Europa, em fevereiro.

Quem tenta percorrer caminho semelhante ao do Getafe é o Valencia, até então mais “para lá” do que “para cá”. Os problemas extracampos que culminaram na saída de Marcelino Garcia Toral não podem ser esquecidos da noite para o dia, mas Albert Celades já deixou sua “marca” nas quatro linhas. O primeiro objetivo da primeira metade foi concluído com doses de heroísmo: a vaga no mata-mata da Champions depois de uma vitória em Amsterdam contra o Ajax, por 1 a 0. Em âmbito nacional, no entanto, os altos e baixos marcam uma campanha cujo pico alto foi a sensacional virada no dérbi de Valencia contra o Levante fora de casa por 4 a 2. A boa atuação no segundo tempo contra o Real Madrid foi castigada com o gol no último lance de Benzema, decretando o empate por 1 a 1. Ainda assim, muito pouco para o vigente campeão da Copa do Rei.

Foto: Site Oficial do Getafe | O incrível Getafe de Bordalás segue competindo como poucos na Espanha.

O meio da tabela está embolado e qualquer coisa pode acontecer. Osasuna (12º, 23), Bétis (13º, 23), Valladolid (14º, 20), Alavés (15º, 20), Eibar (16º, 19), Mallorca (17º, 15) lutam contra o rebaixamento, que hoje tem no Z3 Celta Vigo (18º, 14), Leganés (19º, 13) e Espanyol (20º, 10). Do grupo, Bétis e Espanyol são os destaques negativos. Os catalães, estertorando na lanterna, chegaram ao terceiro treinador em cinco meses, com a contratação de Abelardo; todos com perfis diferentes. Jogador do Barça nos anos 90, Abelardo terá a árdua tarefa de revitalizar um conjunto cabisbaixo, deprimido, que ainda sonha com os dias de 2019 onde tinha Rubi, Borja Inglesias e Mario Hermoso. Falando em Rubi, seu Bétis, até perder para o Atlético de Madrid por 2 a 1 na última rodada do ano, vinha de quatro jogos sem derrotas, num claro sinal de crescimento, o que deu gás para o treinador manter-se no cargo.

O Campeonato Espanhol já retorna após o fim de ano com promessa de bons jogos: o sempre animado Sevilla x Athletic Bilbao, a visita do Real Madrid ao Coliseum Alfonso Pérez para enfrentar o Getafe, o dérbi entre Espanyol x Barcelona e a Real Sociedad recebendo o Villarreal. Janeiro é um mês que costuma dizer coisas sobre o andamento de La Liga; porém, o novo formato da Copa do Rei (agora em jogo único até a semifinal) alivia o calendário das equipes e permite fôlego para os pontos corridos. Muitas perguntas seguem no ar e o tempo irá respondê-las.

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