sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Rico no papel, pobre em campo

Foto: Bruno Cantini/Atlético MG - A campanha é boa, já o futebol apresentado...

Foto: Bruno Cantini/Atlético MG – A campanha é boa, já o futebol apresentado…

Victor, Rafael Carioca, Cazares, Robinho, Luan, Fred… Qualquer torcedor gostaria de ter jogadores desse calibre no elenco do seu clube. Qualquer treinador gostaria de olhar para o banco e ver que pode contar com um Lucas Pratto ou um Dátolo. O Atlético Mineiro tem todas essas peças e um pouco mais, mas que apresenta um futebol muito abaixo da expectativa. Mesmo com tanta qualidade a disposição, Marcelo Oliveira não consegue montar uma equipe que tenha o mínimo de domínio e jogue bem. O Galo joga sempre na trocação, como dois lutadores que baixam a guarda e mandam socos um atrás do outro, sem medir os atos e as consequências, e esperando derrotar o oponente na marra.

E muitas vezes vence assim, porque tem muita, muita qualidade técnica. Às vezes bastam alguns segundos de tabela entre Robinho, Fred e Cazares para alguém sair na cara do gol e mudar o placar. É por isso que o Atlético ainda sonha com o título brasileiro e está na final da Copa do Brasil. Se fizermos uma tabela da qualidade do futebol apresentado, com certeza o alvinegro mineiro não estaria próximo do topo. Apesar de todas as individualidades que podem ser decisivas, o futebol ainda é um jogo coletivo e qualquer jogador, por melhor que seja, precisa da ajuda dos seus dez companheiros. E isso o Galo não tem.

Foto: Bruno Cantini/Atlético MG - Marcelo Oliveira não fez o Galo jogar bem em 2016

Foto: Bruno Cantini/Atlético MG – Marcelo Oliveira não fez o Galo jogar bem em 2016

Quando ataca a equipe não consegue construir jogadas coletivamente com aproximações, tabelas, movimentações ou qualquer comportamento treinado e coordenado. Os jogadores se dividem em bloco: seis atrás tentando levar o time ao ataque e quatro enfiados na frente esperando a bola. O resultado é uma avalanche de ligações diretas para o centroavante. Por isso Cazares é tão fundamental e o time joga melhor com ele. Por característica, o equatoriano recua para buscar a bola nos pés dos volantes e, com toda a técnica que possui, consegue tirar o time do campo defensivo e levá-lo a metade rival. O camisa 11 é quem conecta as peças e faz o time andar, como no futebol dos anos 80, dependente de um “armador clássico”. Sem ele, não há outra alternativa que não seja o excesso de ligação direta e a luta pela segunda bola.

Como não possui mecanismos para propor o jogo, o Atlético dificilmente controla as partidas. Vive sempre no limite, colocando o coração do torcedor a prova. Na partida frente ao Sport, ainda no primeiro turno, o time mineiro abriu 4 a 2 de vantagem e cedeu o empate. Assim como no duelo contra o Internacional, na semifinal da Copa do Brasil. No Rio Grande do Sul, foi sufocado na maior parte do jogo, mas acertou um contra-ataque nos minutos finais e venceu por 2 a 1. Em Belo Horizonte, mesmo com a vantagem conquistada, não teve cadencia e muito menos controle. Fez mais um jogo de trocações sem necessidade alguma. Bateu, apanhou e outra vez viveu no limite.

Foto: Bruno Cantini/Atlético MG - Fred, Luan e Robinho: peças importantes do forte elenco alvinegro

Foto: Bruno Cantini/Atlético MG – Fred, Luan e Robinho: peças importantes do forte elenco alvinegro

Também porque sem a bola o time de Marcelo Oliveira não da garantia alguma. Suas marcações individuais deixam o time espaçado, facilmente batido com qualquer ataque mais elaborado. A todo momento os zagueiros estão expostos, tendo que enfrentar o atacante sozinho, sem cobertura. Basta ver a situação do zagueiro Erazo. Ano passado, quando atuava pelo organizado time do Grêmio, fez bom Brasileiro e foi amplamente elogiado. Nesta temporada, jogando com pouquíssima proteção, tem suas deficiências técnicas expostas e recebe críticas da torcida. Não que o equatoriano seja um zagueiro excepcional, mas também não é tão ruim quanto suas atuações recentes sugerem.

Em 38 partidas sob o comando de Marcelo Oliveira, apenas em nove ocasiões o goleiro do Galo saiu de campo sem ser batido. Isso quer dizer que em 77% das partidas o Atlético “já começa perdendo” e vai precisar de, pelo menos, dois gols para vencer. Ou até mais, já que em 12 partidas a equipe sofreu mais de dois tentos. São 42 bolas na rede contra, o 7º time mais vazado do Brasileirão. São números impressionantes quando comparados a campanha que o coloca na disputa pelos dois principais títulos nacionais. Caso o time tivesse uma consistência defensiva maior, poderia estar ainda mais vivo na briga pelo Brasileiro. Problema semelhante ao vivido na temporada passada, quando sofreu 47 gols e foi vice-campeão.

Foto: Bruno Cantini/Atlético MG - Coletividade só na foto, o Galo vive das individualidades

Foto: Bruno Cantini/Atlético MG – Coletividade só na foto, o Galo vive das individualidades

Apesar de todo o investimento em um elenco estrelar, a produção alvinegra em 2016 ficou abaixo do esperado. A temporada ainda pode ser salva com a conquista da Copa do Brasil, mas os bons resultados não podem esconder as falhas do pobre futebol apresentado. É bem verdade que as lesões afetaram em cheio o elenco mineiro. Provavelmente Marcelo Oliveira vai encerrar o ano sem ter tido a oportunidade de contar com todos os seus jogadores para um jogo sequer. Porém, mesmo com tantas baixas, o plantel sempre ofereceu alternativas e em momento algum o Atlético esboçou um time organizado e minimamente independente das suas individualidades. Para 2017, fica a lição de que pouco adiante empilhar craques se não arruma-los em campo.

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