segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Você precisa prestar atenção na China

Foto: Divulgação – Hulk é o 2o jogador mais caro do futebol chinês

Quantos torcedores brasileiros já sentiram um frio na espinha quando ouviram falar do futebol chinês nas últimas janelas de transferências? O corinthiano, por exemplo, viu praticamente a espinha dorsal do time campeão brasileiro em 2015 se mudar sem pensar duas vezes para o outro lado do mundo.

Só que o mercado brasileiro ficou pequeno para eles, que passaram a investir também em jogadores de destaque na Europa. O Shanghai SIPG, por exemplo, pagou 60 milhões de euros para tirar Oscar do Chelsea e outros 55 milhões de euros para contratar Hulk junto ao Zenit. O Jiangsu Suning, por sua vez, desembolsou 28 milhões de euros por Ramires, ex-Chelsea. Isso para ficar nas três maiores transferências da história da Super Liga Chinesa, competição que também conta com vários nomes conhecidos do grande público, como Renato Augusto, Paulinho, Lavezzi, Witsel, Pellé, Demba Ba, Obi Mikel, Tevez, Jackson Martinez, entre outros.

Mas por que a China, que não tem tradição no futebol, passou a investir pesado na modalidade? Presidente do país desde 2013 e com mandato até 2023, Xi Jinping é o maior incentivador do futebol em terras chinesas e deu à modalidade a mesma prioridade que os demais esportes olímpicos tiveram visando os Jogos de Pequim, em 2008, quando a nação asiática ficou em primeiro lugar no quadro de medalhas. Com isso, o futebol passou a tomar conta das escolas por todo o território e inúmeras crianças começaram a ter contato com um esporte que até outro dia era exótico para elas.

Foto: CCTV – O presidente Xi Jinping sonha em receber a Copa do Mundo

Mais do que investir na formação de base, a China quer resultados a curto prazo. Jinping vê o futebol como um importante instrumento na relação do país com o ocidente, além, claro, de uma interessante oportunidade para negócios. Não por acaso o mandatário mira a Copa do Mundo. Quer ver sua seleção de volta ao Mundial, o que pode ser facilitado com o aumento de 48 equipes a partir de 2022, e, principalmente, receber o evento, se possível já em 2026. Sediar o torneio tem como objetivo atrair os olhos do mundo para a China e impulsionar o esporte através de melhorias estruturais.

Paralelo a isso, há o desenvolvimento financeiro da Super Liga Chinesa. Dos 16 clubes que disputam a competição, 14 são comandados por empresas, boa parte delas estatal, o que ajuda o projeto do governo. Além disso, há incentivo fiscal. É possível reverter até 25% dos impostos em investimento no futebol.

Isso justifica o grande valor gasto em contratações, que, por sua vez, começa a retornar como receita. A média de público nos estádios cresceu, assim como o consumo de produtos. Por mais que o aumento não acompanhe o tamanho das despesas, é um bom indício de crescimento e mostra que o público local pode abraçar de vez o futebol.

O nível técnico melhorou. Outrora vítima da máfia das apostas esportivas, agora a China vê bons jogadores desfilando em seus gramados. O problema é a limitação de estrangeiros. Cada clube só pode contar com cinco “gringos” no plantel, sendo um deles necessariamente asiático. Por jogo só podem ser relacionados quatro deles, incluindo o atleta da Ásia, mesmo modelo utilizado na Liga dos Campeões da AFC. Outro ponto curioso é que o goleiro precisa ser chinês.

Medidas protecionistas para evitar uma invasão internacional e preservar a formação de atletas locais. O que faz sentido, já que um dos objetivos é desenvolver a seleção, mas, por outro lado, atrasa o crescimento da competição nacional. Vale lembrar que a Super Liga consegue atrair jogadores no auge da carreira, diferentemente de outras ligas emergentes, com a MLS, por exemplo.

A necessidade em formar atletas e demais profissionais levou a investimentos chineses na Europa. A Ledman, gigante multinacional, é a principal patrocinadora da segunda divisão portuguesa. Até aí nada demais. A questão é que pelo acordo cada uma das equipes da competição receberá, a partir da próxima temporada, 10 jogadores e três técnicos para intercâmbio. Vale lembrar que Portugal abriga um dos centros de formação de treinadores da UEFA, além da segundona lusa contar com os times B de Benfica, Porto e Sporting. Uma boa maneira de conhecer o know-how dos grandes clubes portugueses.

Foto: Divulgação/Liga Portuguesa – Investimento chinês pelo know-how luso

Outro exemplo vem da Espanha. Empresários chineses começam a encher as categorias de base de clubes menores com atletas oriundos do oriente. Pagam para que eles se formem por lá e tenham pedigree espanhol. Com uma formação diferenciada, passam a valer mais quando voltam para casa, gerando lucro ao investidor. Vale lembrar que a obrigatoriedade de contar com atletas locais gera inflação.

Mas nem tudo são flores. Há quem tema que tudo não passe de uma bolha ou que o presidente Xi Jinping perca o interesse no futebol caso o país não vença a candidatura para receber a Copa. Independentemente disso, o mundo segue de olho na China. Afinal de contas, não dá para ignorar um mercado consumidor com quase 1.4 bilhão de pessoas.

O conteúdo acima é de responsabilidade expressa de seu autor. O Doentes por Futebol respeita todas as opiniões discordantes e tem por missão promover o debate saudável entre ideias.

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