segunda-feira, 17 de outubro de 2016

O Fla x Flu e a regra da segunda chance.

Se o Fluminense tivesse sido prejudicado com a lambança feita pelo árbitro Sandro Meira Ricci no último Fla x Flu, isto é, se o gol de Henrique fosse feito legalmente, fosse validado e, após vexaminosa confusão, fosse invalidado, talvez nenhum circo fosse armado. Talvez, apenas o Fluminense, na figura dos seus dirigentes, se lamentaria e tentaria algo de concreto. Não haveria reportagens e mais reportagens, debates e mais debates, muito menos leitura labial em rede nacional em programa dominical. Absolutamente ninguém, além do próprio clube, se importaria com prejudicado, pois a consternação com os sucessivos erros de arbitragem dura até o próximo acontecer, ou até que ele aconteça e favoreça ao invés de prejudicar. Mitologia da conveniência, “roubado é mais gostoso”.

Em 2013, no campeonato estadual, o Flamengo fora prejudicado num lance semelhante. Hernane marca contra o Duque de Caxias, gol legal, juiz valida, vexaminosa confusão, juiz volta atrás, anula. Flamengo lança então, o mesmo expediente que passou a assolar um campeonato que estava tão formidavelmente disputado como este brasileirão de 2016: a anulação da partida. Não conseguiu. O processo foi arquivado, o ERRO prevaleceu, o prejudicado que se exploda e vida que segue.
A diferença entre as situações é clara. O que se discute aqui é um fundamento que é completamente desconhecido no futebol brasileiro, do jogador que marca o gol ilegal e vai pressionar o auxiliar pedindo a validação, do simulador de agressões e faltas, do torcedor, dos dirigentes em geral: ética.

O futebol é um dos poucos esportes que não forma caráter. Não residem nele as noções de ética, respeito e honra que, por exemplo, são vistas em esportes de luta. No futebol, o adversário quer que o time sofra, seja humilhado, rebaixado, espezinhado, suma do mapa. Esta “aura” muitas vezes extrapola e o adversário quer que o outro morra. “Desperta o que há de pior no homem”, diz Rubem Fonseca. O que vale para o seu time, não vale para o meu. Se o seu ganhou, foi na “mão-grande”; não vale. Infantilização. Se fosse possível, diante de um horizonte desagradável, cada torcedor escondido atrás da máscara da passionalidade, entraria em campo e levaria a bola para casa.

Ninguém quer que o gol de Henrique seja validado. Não há como voltar nisso, embora na hora, ninguém ligue para que ele estivesse impedido, além dos flamenguistas. Não querem que regra nenhuma de interferência externa seja cumprida. Esta é a verdade: quem disputa o título quer poder desfrutar de uma possibilidade de haver uma segunda chance do Flamengo perder 3 valiosos pontos. E o Fluminense, que talvez precise dos pontos para conseguir algo no campeonato, quer desfrutar de uma possibilidade de segunda chance de obtê-los, além de, é claro, poder tentar vencer de novo um clássico.

Se a ética fosse levada em conta, TODOS, absolutamente TODOS: Flamengo, Fluminense, STJD, CBF, torcedores, mídia esportiva, leitores labiais, emissora que trava uma briga de bastidores pelos contratos de transmissão do estadual não assinados pelo Flamengo, leitores do Doentes por Futebol, respirariam aliviados e conformados de que , a despeito de comunicações, pressões, interferências, a lambança do Sr Ricci fora devidamente corrigida e o correto prevaleceu. Sem prejudicados. Mas o brasileiro é despudoradamente sem-vergonha. Tanto é que retoma seu interesse pelo jogo semana após semana independente dos lamentáveis rumos que ele toma.

E o mais terrível, há quem ache que este tipo de polêmica seja parte fundamental do futebol.

O conteúdo acima é de responsabilidade expressa de seu autor. O Doentes por Futebol respeita todas as opiniões discordantes e tem por missão promover o debate saudável entre ideias.

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