quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O Pequeno Príncipe de Sevilla

Há duas unanimidades sobre o início de temporada do Sevilla. A primeira é que a equipe, agora treinada por Sampaoli, ainda está em processo de construção. Embora os resultados indiquem bom futebol, a verdade é que o argentino ainda está implantando seu estilo de jogo em um clube acostumado historicamente a sistemas mais militares e físicos, tais quais os de Unai Emery nos últimos três anos. Enquanto o Sevilla ainda mescla boas apresentações com ruins, as soluções individuais têm sido mais frequentes em comparação com as coletivas. Individualismo que se revela importante nessa fase de transição e garante resultados positivos no Campeonato Espanhol (segundo colocado, com 20 pontos, um a menos que o Real Madrid) e na Liga dos Campeões (líder do grupo F com sete pontos, ao lado da Juventus, e quatro a mais que o Lyon, terceiro colocado). E, quando se fala de talento individual, um nome tem brilhado mais que todos os outros: Samir Nasri.

O meia francês chegou à Andaluzia com a missão de recuperar prestígio na carreira, depois de temporadas opacas no Manchester City. Em nove rodadas, não é exagero dizer que, por momento, o Petit Prince (Pequeno Príncipe, como fora apelidado nos tempos de Olympique de Marseille) é o mais destacável meio-campista da atual edição da Liga Espanhola. Taticamente, Nasri joga em uma posição mais semelhante com aquela que sempre costumou jogar. A novidade vem da versão que o Nasri “made in Espanha” tem mostrado: a de um gestor de jogo dominante. O natural de Marselha ainda mostra características de sua versão mais jovem, mas o novo jeito de jogar tem preponderado.

Foto: Site Oficial do Sevilla | O cara: enquanto não funciona o esperado coletivamente, Nasri é a individualidade que faz a diferença ao Sevilla

Foto: Site Oficial do Sevilla | O cara: enquanto não funciona o esperado coletivamente, Nasri é a individualidade que faz a diferença ao Sevilla

O primeiro aspecto de influência de Nasri no Sevilla de Sampaoli tem a ver com a sua liberdade tática. Na teoria, Samir parte do interior esquerdo, independente do esquema escolhido pelo comandante, que inicialmente tem variado entre um 4-1-4-1, um 4-3-3 e um 4-3-1-2. Mas, apesar da disciplina tática que o argentino exige à equipe, o francês tem soberania para se deslocar por todas as zonas do campo para organizar o ainda caótico jogo sevillista. Com critério e qualidade, Nasri é sempre o jogador que mais toca na bola ao longo dos 90 minutos.

Para se ter uma noção do impacto do ex-City, Nasri alcançou contra o Dínamo Zagreb, há uma semana, pela Champions League, a marca de 158 passes certos, segunda mais alta de um jogador desde 2005/2006, ficando atrás somente dos registros de Xavi, um dínamo dos passes, nesse período. Pela Liga Espanhola, a média é de 92% de acerto por partida. Nasri exibe um arsenal digno dos mais brilhantes interiores de posse do futebol espanhol: inteligência para segurar a posse, fabricar jogadas e liderar ofensivas, o que tem gerado uma expectativa altíssima, rodada após rodada. Qual o limite do camisa 8 sevillista?

A tendência do francês sempre foi de se dirigir aos lados do campo. No Arsenal de 2010/2011, por exemplo, sua posição era justamente a ponta esquerda, com Fàbregas centralizado e Walcott pela direita. Atualmente, a propensão é ter relevância em regiões onde não costumava ser ativado. Por exemplo, a saída de bola. Hoje, o principal trunfo de Sampaoli para ter a bola limpa no ataque passa pela clareza que Nasri dá quando recebe na defesa. Até por N’Zonzi não ser veloz o bastante para agilizar a circulação no círculo central, Sampaoli encarrega Samir de começar a transição da defesa para o ataque.

Estamos somente no início da temporada europeia, mas já dá para cravar com absoluta certeza que Nasri se reencontrou no Ramon Sánchez Pizjuán. Seu nível de confiança é alto, o que, consequentemente, gera uma particularidade técnica saliente no sistema de Sampaoli. O treinador sabe que o meia é o jogador com mais talento do elenco e por isso se “entrega” ao seu “cerébro”. Em um campeonato mais tático e técnico que a Premier League, Nasri enfim despertou da hibernação que por um triz não extinguiu suas chamas.

“O ano passado foi muito difícil para mim, o mais complicado da minha carreira. Às vezes não é possível ir a campo, mas não é o mesmo quando se está de baixa, no departamento médico, durante seis meses, assistindo apenas das arquibancadas. Tenho sorte de jogar futebol, se é possível chamar assim. Tive que ter a consciência, de fazer algo durante as férias para sair desse ano difícil. Trabalhei e me dei conta: tenho somente 29 anos. Ainda há espaços para mostrar tudo que tenho para mostrar. Ainda posso voltar a jogar em um bom nível”
(NASRI, Samir)

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