terça-feira, 25 de outubro de 2016

O Palmeiras não é líder por acaso, mas poderia jogar melhor

Líder com seis pontos de vantagem para o Flamengo, o Palmeiras foi o time que mais venceu neste Brasileirão até agora (20 vezes). É o que menos perdeu (5 vezes). Tem o melhor ataque (56 gols) e também a segunda melhor defesa da competição (sofreu 29 gols, apenas um a mais que Atlético/PR e Santos). Se olharmos além, vamos ver que o alviverde não perde há 15 partidas.

Fora todos os números excelentes, tem o melhor jogador da competição em seu elenco: Gabriel Jesus, a maior revelação do Brasil nos últimos quatro anos. Contestar a ponta do time comandado por Cuca é absurdo – e ninguém está aqui para isso. Mas, esperar um melhor futebol de seu time não é nem um pouco.

A cultura de aversão à crítica, no Brasil

O desafio de analisar futebol no Brasil é enorme, muito maior do que parece. Porque aqui, mais do que em qualquer lugar do mundo, o jogo suscita paixão. E em meio a todo esse turbilhão de emoções, dizer a um torcedor que seu time não vem jogando bom futebol, mesmo sendo líder do campeonato e com todos os números citados acima, é muito difícil.

Definição retirada do Dicionário online Michaelis. Para o brasileiro, em geral, criticar apenas significa apontar defeitos - como marcado dentre os significados existentes do termo.

Definição retirada do Dicionário online Michaelis. Para o brasileiro, em geral, criticar apenas significa apontar defeitos – como marcado dentre os inúmeros significados existentes do termo. Criticar vai muito além do que apenas “falar mal”. Ainda precisamos evoluir e amadurecer para compreender isso.

A reação usual é a de retorquir que você está criticando seu time por inveja ou por que torce contra. Porém, não é uma coisa, nem outra. Estamos aqui para falar de desempenho, através de análise mais fria e distante dos centros de emoção possível. Nada mais, nada menos do que seguir ao pé da letra o que o termo crítica resume.

Início arrasador / animador

Herdando um Palmeiras eliminado da Libertadores na primeira fase e do Paulista na semifinal, Cuca teve tempo para trabalhar visando a estreia no Brasileirão.

Os 4×0 sobre o Atlético/PR deixaram uma primeira impressão sensacional. Exibição de gala do jovem Jesus, dono de dois gols e uma assistência, e de Cleiton Xavier dando mais dois passes para gols. Para muitos, inclusive esse que escreve, ali surgia o grande favorito ao titulo nacional.

O primeiro Palmeiras deste Brasileirão. Gabriel Jesus ainda aberto, Tchê Tchê coordenando tudo entre meio e lateral. Volume de jogo, alta intensidade. Uma exibição.

O primeiro Palmeiras deste Brasileirão. Gabriel Jesus ainda aberto, Tchê Tchê coordenando tudo entre meio e lateral. Volume de jogo, alta intensidade. Uma exibição. – Reprodução: Premiere.

⚽ Leia mais: as ideias de Cuca na estreia do Palmeiras

Atuação que não se repetiu nas derrotas contra Ponte Preta e São Paulo, duas das três jornadas seguintes. Resultados que apoiaram os comentários bem típicos de nossa cultura, como “o Palmeiras não é tudo isso”. Depois disso, o time embalou vencendo Grêmio, Flamengo e o atual campeão Corinthians, na despedida no técnico Tite.

As protocolares vitórias contra Santa Cruz, que ainda era sensação, e América/MG no Allianz Parque deram a liderança ao time de Cuca. Aliás, dentro de casa o time sofreu muito pouco na primeira metade da competição. Jogou em alta intensidade, com muito volume e poder de fogo na frente.

Vieram mais oscilações, como a derrota para o Cruzeiro e o empate com o Santos, em casa.

Emoção é ver o #Palmeiras balançando esta rede. #AllianzParque #Arena #SEP #avantipalestra

Uma foto publicada por Allianz Parque (@allianzparque) em Out 3, 2016 às 2:15 PDT

Ficou claro também como o adversário condicionava o jogo do Palmeiras, principalmente se era fora de casa. Em casa o time tinha uma postura, jogando como visitante tinha outra, mais retraída, que dava a bola e esperava. Com isso, a tônica de perseguições individuais de Cuca, o famoso cada um pega o seu na marcação, ficava muito evidente. Custou alguns pontos.

Um exemplo de encaixe individual do Palmeiras contra o Grêmio no Sul. Defesa exposta. - Reprodução: SporTV.

Um exemplo de encaixe individual do Palmeiras contra o Grêmio no Sul. Defesa exposta. – Reprodução: SporTV.

“Campeão” do Primeiro Turno

No fim do turno, já sem Gabriel Jesus na seleção olímpica, o Palmeiras voltou a oscilar. Duas derrotas seguidas:

Uma para Atlético/MG, a única em casa (até aqui). E Botafogo (a última no Campeonato até aqui):

As derrotas lhe custaram momentaneamente a liderança no Brasileirão, que foi retomada na última rodada do turno, graças a uma combinação de resultados. Assim, o Palmeiras de Cuca ficava com o troféu simbólico de “Campeão do Primeiro Turno”,  que tem marcado a trajetória dos últimos campeões nacionais. Ótimo sinal.

Segundo Turno: bons resultados, futebol nem tanto

Na virada do turno, o time de Cuca venceu jogos importantes. Como os contra Atlético/PR, única derrota do melhor mandante em casa, e Fluminense, mesmo jogando em Brasília. Atuações sólidas e seguras. Mas, empatou com Ponte Preta, Flamengo e Grêmio. E venceu o São Paulo jogando muito mal.

Jogo precário, apoiado em bolas altas e lançamentos longos. Pouco repertório, diferente do que já foi visto na mesma competição. Se apoiando no jogo individual e esquecendo do coletivo.

Saída de bola contra o Flamengo. Meio campo aberto, time distante, forçando a bola longa. Reprodução: Premiere.

Saída de bola contra o Flamengo. Meio campo aberto, time distante, forçando a bola longa. Reprodução: Premiere.

As vitórias contra Corinthians e Coritiba não foram de grande apresentação do time paulista. Seguras, tranquilas até certo ponto, mas sem mostrar muita coisa.

Nesses jogos, repertório baixo como nos anteriores, mantendo a tônica do desempenho ruim da equipe de Cuca. Contra o Santa Cruz, o time sofreu mais do que em toda essa sequência de jogos em que não vem bem, mas também conseguiu vencer. Consistência total de time, que como dito acima, não é líder por acaso.

Volantes indicando a intenção do treinador

Em seu qualificado elenco, o Palmeiras tem jogadores como Thiago Santos, Matheus Sales e Gabriel. Atletas com a característica de primeiro volante mais robusto, sem tanto passe e qualidade na saída, mas muita força na marcação. Cuca usou essa peça nos jogos tidos como mais cascudos, como contra São Paulo, Grêmio, Flamengo e Corinthians por exemplo.

Marcação encaixada contra o Corinthians, com Gabriel vigiando Rodriguinho, o "10" do time de Cristóvão a época. - Reprodução: Premiere

Marcação encaixada contra o Corinthians, com Gabriel vigiando Rodriguinho, o “10” do time de Cristóvão a época. – Reprodução: Premiere

Mas o interessante na campanha do Palmeiras de Cuca é também a versatilidade de seu elenco. Nos jogos contra Coritiba, Santa Cruz e América/MG, teoricamente mais fáceis, Cuca escalou o time sem o tal volante robusto.

Créditos: ESPN

Créditos: ESPN

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Com Tchê Tchê e Moisés, ótimos “achados” da diretoria, conduzindo a equipe desde trás até o campo de ataque. Ideias modernas na forma de montar seu time, onde todos jogam com a bola e fazem o time jogar.

É possível (e desejável) jogar melhor

Os primeiros vinte minutos da vitória sobre o lanterna América/MG foram ótimos. Intensidade, rotação, meio-campo altamente móvel e chances de gol. Quatro arremates nos primeiros minutos, contando com o gol de Tchê Tchê no segundo minuto de jogo. O ritmo caiu, natural também pelo calor de Londrina, a sequência de jogos e a conhecida fragilidade do adversário. Mas do líder se espera mais, atuações melhores e não jogos preguiçosos com a resposta pronta: “Nesse momento importante vencer, não jogar bem”.

“O mais importante é que o Palmeiras ganhou.”

Sim é hora de somar. Faltam seis rodadas para acabar o campeonato brasileiro. O Palmeiras tem seis pontos de vantagem para o Flamengo atualmente. Mas encontros com Santos e Atlético/MG fora de casa podem definir ou não o titulo do alviverde. Partidas onde talvez jogar para o gasto não será suficiente. E ninguém está aqui para ser profeta da desgraça palmeirense, vale sempre lembrar.

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Também vale lembrar que, um elenco com jogadores como Jean, Zé Roberto, Tchê Tchê, Moisés, Dudu, Roger Guedes e Gabriel Jesus, poderia jogar melhor. Poderia apresentar um futebol mais vistoso, que pudesse dar mais confiança tanto a quem torce, quando a quem analisa. Caso vença o campeonato – algo bastante factível dado o excelente aproveitamento do Palmeiras de Cuca – os livros de história dificilmente registrarão que o o time não jogou tão bem assim por bom período. O que ficará é o resultado.

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No fim das contas é o que importa para quem torce, nada mais justo. Mas para quem vê desempenho, disseca jogos e acompanha todos os dados, isso não é o mais importante. É parte do conjunto, do plano de trabalho.

Vença quem vencer, seja ou não o Palmeiras, que o faça jogando bem. Para o bem do futebol brasileiro.

O conteúdo acima é de responsabilidade expressa de seu autor. O Doentes por Futebol respeita todas as opiniões discordantes e tem por missão promover o debate saudável entre ideias.

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