segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Pinturas Inesquecíveis: Capita e um chute para a história

Nos primórdios do futebol a defesa efetivamente era uma linha de quatro jogadores. Digo efetivamente porque os laterais eram basicamente zagueiros, com a principal função sendo a defensiva. Raras exceções fugiam dessa característica e ousavam subidas ao ataque. Hoje, depois de muitas mudanças, o futebol pede laterais que saibam marcar e apoiar com a mesma eficiência e, geralmente, os que atacam melhor são mais valorizados.

O precursor dessa evolução foi ninguém menos que Carlos Alberto Torres, o Capita.

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Carlos Alberto Torres é daquela estirpe de jogador que transcende as limitações posicionais de seu tempo. Lateral vanguardista que dominava tanto a defesa quanto o ataque e que ainda tinha inteligência suficiente para se adaptar ao miolo da zaga. Lenda do futebol que jamais será esquecida.

Jogou de zagueiro e lateral, ambos com extrema qualidade. Mas foi como lateral que teve o momento mais marcante de sua carreira. Talvez não pra ele, mas para o futebol com certeza sim. Quando vem à lembrança o terceiro titulo mundial do Brasil, o primeiro lance que surge no imaginário é Carlos Alberto soltando aquela sapatada fulminante pra sacramentar a vitoria brasileira.

Num time com Pelé, Gérson, Rivellino, Jairzinho e Tostão, quem precisaria de um lateral para fazer gols? Não precisava. O gol nem faria diferença no título, afinal, eram 41 minutos da segunda etapa e o jogo estava 3×1 Brasil. Mas o lance é muito mais emblemático e simbólico do que qualquer pessoa poderia supor àquela altura.

capita-tacaCarlos Alberto era o capitão daquele time. Era o líder de um conjunto de craques, incluindo ele mesmo. Mas, como sempre no futebol brasileiro, acabamos por valorizar mais os meias e atacantes, preterindo nossos craques de outras posições. Ele já levantaria a taça, teria sua imagem marcada na história para sempre. Mas esse gol foi a libertação da posição. Foi o gesto definitivo rompendo as correntes como quem dissesse “vão lá, laterais, subam ao ataque e façam gols”.

“Raio-x” do lance

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A pintura começou com uma roubada pelo lado esquerdo da defesa brasileira (pelo craque Tostão, quem diria).

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A bola ficou nos pés de Clodoaldo, volante que jogava com classe, cabeça em pé, e fazia na década de 70 tudo aquilo que cobramos dos volantes atuais: a famosa transição para o ataque com qualidade. E que qualidade. Foram quatro dribles em sequência, deixando uma fila de italianos com vontade de sair do campo e ir embora para comer uma macarronada.

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A jogada segue nos pés de Rivellino. Rápido e objetivo. Dois toques na bola apenas. Um domínio e um passe para Jairzinho.

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O Furacão recebeu a bola e, como de praxe, partiu com fúria para dentro do marcador. Alguns toques na bola, um pouco de explosão e velocidade, e “ciao, raggazzo”. Bola nos pés de Pelé. Parem o mundo um instante. O Rei quer falar.

Sem palavras, com gestos e a sensibilidade do maior craque de todos os tempos. A bola chega até ele e o lance já está desenhado. Coitado de Albertosi, vai sofrer um dos gols mais bonitos da história do futebol e nem fazia ideia.

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Pelé domina, segura e passa. Assim. Simples e fácil.

Eis que então surge Carlos Alberto Torres. A lateral direita é toda sua, somente sua, praticamente registrada em cartório. Ninguém a sua frente. Apenas espaço, uma linda e rente relva verde, a bola e a história. Ele vem decidido. A taça é dele. A taça é nossa. O destino está traçado. Capita é o carrasco, a bola é o machado e Albertosi o pecador. Um golpe seco é desferido. O chute. Meio de peito. Meio de três dedos. Três de Tri.

Bola na rede, braços aos céus, abraços dos companheiros.

O lance estava eternizado.

Arte: fazmeugol.com.br | Clique na imagem e adquira sua cópia desta singela homenagem.

Arte: fazmeugol.com.br | Clique na imagem e adquira sua cópia desta singela homenagem.

O Capita estava eternizado.

Vá em paz, Capita. Fica aqui a homenagem do DPF.

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