terça-feira, 2 de maio de 2017

Felipe Melo se perdeu no personagem

Quantas personalidades uma pessoa pode ter? Fernando Pessoa, por exemplo, tinha quatro heterônimos. Jack, personagem de Edward Norton em “Clube da Luta”, criou Tyler Durden em sua cabeça, de forma que passou a confundir o que era real ou não.

E criar um personagem? Muhammad Ali era conhecido por fazer jogos psicológicos com seus adversários. Nas entrevistas se tornava um falastrão, provocava, mas tudo calculado, estratégico. Tirava o rival do sério e promovia a luta.

Em tempos de grande cobertura midiática e, principalmente, redes sociais, existe uma enorme exposição. Nem todos são sob os holofotes a mesma pessoa que costumam ser em seus momentos privados. Alguns se tornam personagens, vendem aquilo que acreditam ser melhor, talvez até como uma ferramenta de defesa.

Encenado ou não, Felipe Melo gosta de ter uma imagem de polêmico, de quem diz o que pensa, bate na mesa e, se precisar, dá tapa na cara. Talvez seja marketing, talvez seja sua personalidade, mas se trata de algo que atrapalha seu futebol quando confunde o atleta com o personagem.

Foto: Divulgação/Ag. Palmeiras – Felipe Melo é uma das lideranças do Palmeiras

Felipe é o tipo de centro-campista que o futebol atual exige. Grande marcador e dono de um passe muito bom. Consegue tomar conta do meio campo. Poderia ter jogado mais tempo em alto nível na Europa, por exemplo. Bola para isso ele tem, mas deve ser difícil fugir da imagem que criou.

Tenho como exemplo a Copa do Mundo em 2010. O volante saiu da África do Sul como vilão, marcado pela expulsão diante da Holanda. Pagou o preço de uma seleção que era semelhante ao técnico, explosiva e pressionada. Quando as coisas saíram do eixo, o time ruiu. Melo pagou o preço, mas poucos se lembram de que fazia um bom Mundial até então. Diante dos holandeses, teve um primeiro tempo impecável, com direito a uma belíssima assistência para o gol de Robinho.

As críticas podem ter ajudado a moldar o Felipe Melo cascudo. Na volta ao Brasil, o jogador parece se sentir obrigado a confrontar tudo e todos, como se precisasse disso para ser respeitado.

O fato é que toda ação gera uma reação. No episódio com o Peñarol ficou evidente isso. Nada justifica a atitude do time uruguaio, tampouco a suposta emboscada, mas alguém esperava por algo que não fosse um clima bélico em Montevidéu? Tanto que o Palmeiras levou uma tropa de seguranças com a delegação. Se não fosse pelo staff palestrino, talvez a história tivesse sido muito pior.

Foto: Divulgação/Ag. Palmeiras – Melo é o “dono”do meio campo palestrino

Antes de dizer que a tal promessa de tapa na cara não foi algo literal, tente enxergar a situação de maneira oposta. Imagine que um jogador uruguaio desse tal declaração. Provavelmente não seria recebido com rosas, concorda?

Menos de uma semana após a confusão na margem oriental do Rio da Prata, Felipe Melo se vê em outra polêmica. Dessa vez gravou um vídeo pedindo “pau nos vagabundos” que fizeram greve na última sexta-feira e declarando voto a Jair Bolsonaro, possível candidato à eleição presidencial do próximo ano.

Me parece irônico que alguém que ganhe num mês algo que um trabalhador comum receba em, digamos, duas décadas queira esbravejar contra o direito das pessoas poderem protestar e lutar por seus direitos. Da mesma maneira que é um direito de Melo expor seu pensamento, algo conquistado pela luta de muitos “vagabundos”, segundo a visão do palmeirense, que lutaram pela democracia e a liberdade.

Também chama a atenção ver alguém que diz ter sido chamado de macaco pelos uruguaios declarando voto num político que prega um discurso de ódio, inclusive com declarações racistas. Mas, enfim, vivemos em um Estado democrático e podemos votar em quem quisermos, até mesmo em quem não é um grande fã da democracia.

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