terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Conflitos internos, irregularidade dentro de campo e dúvidas na escalação: a temporada do Valencia

O turbulento início de temporada do Valencia gerou consequências não previstas no planejamento da diretoria. Marcelino García Toral, melhor técnico do time desde Rafael Benítez (2001-2004), foi demitido após desavenças com o proprietário, Peter Lim. Lim, de convivência difícil, é dono de 70,4% das ações do Valencia, compradas em 2014, e, portanto, possui autonomia para decidir o que bem quiser. Coisas do futebol espanhol, onde somente quatro clubes (Barcelona, Real Madrid, Osasuna e Athletic Bilbao) não viraram sociedades anônimas na década de 90, em um processo que até hoje gera polêmica e, principalmente, muitas críticas das torcidas espalhadas pelo país. De acordo com a imprensa valenciana, o magnata de Singapura teria ficado com “inveja” pelos méritos da gloriosa jornada 2018/2019 ter sido creditado a Marcelino e Mateu Alemany, diretor esportivo. Pudera. Persona non grata em Paterna, Lim mal vive o dia-a-dia, reage com autoritarismo às críticas (de jornalistas ou torcedores) e faz de marionete o “presidente” Anil Murthy, também de Singapura, que também não faz ideia de como se comportar à frente do cargo.

Diante da saída de Marcelino, o Valencia se viu numa crise institucional, o que não é novidade. Novidade, aliás, foi o período de estabilidade que o treinador trouxe nos dois anos que ficou, com campanhas respeitáveis no Campeonato Espanhol (duas vezes quarto colocado) e o título da Copa em maio. Em 2017, nos primeiros meses do asturiano, esta coluna destacava o incêndio apagado (ou controlado) num ressuscitado Valencia. Hoje 8º com 26 pontos, segue flertando com a irregularidade. Em âmbito doméstico, o time capaz de empatar em casa com o Leganés mostrou força de buscar uma virada no dérbi contra um disciplinado Levante fora de casa. O mesmo Valencia que perdeu na Andaluzia para o instável Bétis, mas venceu o sempre encardido Athletic Bilbao no País Basco. Na Liga dos Campeões, triunfou perante o Chelsea em Londres e desperdiçou pontos contra o Lille que serão eternamente lamentados caso venha a cair na fase de grupos.

Albert Celades é o novo comandante da barca. O catalão foi auxiliar-técnico de Lopetegui no Real Madrid e ganhou “fama” nas divisões de base da seleção espanhola passando da sub-17 até a sub-21 por quatro anos. O currículo é escasso, tal qual sua carreira é curta. Até por isso, sair de um treinador consolidado a nível nacional para alguém inexperiente significou uma espécie de redimensionamento num Valencia que historicamente quer obter, a todo custo, resultados práticos a curto-prazo, o que explica as doses de exigência da arquibancada.

Todos os ingredientes citados nos parágrafos acima explicam a oscilação dos Chés. Na temporada passada, ainda com Marcelino, num ambiente de paz e amor, o primeiro semestre foi relativamente complicado e os resultados só foram aparecer na metade final. É visível que Celades tenta dar sua cara à equipe, seja na forma de atuar ou no sistema tático. A média de posse de bola é semelhante ao do seu antecessor, 54,3 %. Porém, embora a verticalidade dos tempos de Toral não seja abdicada (e nem poderia), o Valencia de Celades gosta mais de construir seu jogo desde o campo defensivo. A principal diferença talvez esteja na posse de bola, até porque Cillessen é um goleiro mais aperfeiçoado com a bola nos pés do que Neto. Não é uma obrigação, mas sair jogando com os zagueiros ou Dani Parejo é comum.

Celades tem insistido no 4-3-3 como esquema; contudo, é evidente que o time se comporta melhor no 4-4-2 de Marcelino por uma série de motivos. O primeiro são os posicionamentos de Dani Parejo e Rodrigo Moreno, jogadores-modelos do clube nos últimos anos. Parejo é um autêntico organizador e gosta de cumprir esse papel no campo defensivo, vendo o jogo de trás. Com três meias, quem fica à frente dos defensores é Coquelin e o espanhol se posiciona adiantado, no lado esquerdo. Rodrigo, por sua vez, é deslocado para o lado direito, posição que já fez (e bem) com Nuno Espirito Santo em 2015 e também na seleção. No entanto, nasceu, desenvolveu-se e explodiu como segundo atacante, com liberdade para recuar e tabelar com os volantes e de lá não deveria sair. No dérbi contra o Levante, Rodrigo mal encostava na bola quando estava na ponta e bastou Albert mudar o sistema que, em dois toques, o hispano-brasileiro apareceu com saliência.

Foto: Site Oficial do Valencia – www.valenciacf.com | Aos 19 anos, Ferran Torres é a bola da vez no Valencia

O segundo ponto é o isolamento de Kevin Gameiro quando joga de único centroavante. Sem Rodrigo ao seu lado, o francês corre para um lado e para o outro e parece perdido. Coquelin e Parejo o lançam em profundidade sempre que podem; muitas das vezes sem sucesso. Não se sabe o que Celades busca com a nova formação, mas ela ainda não deu certo (leia-se: o elenco está se adaptando). Porém, nessa de testar e variar o onze inicial, a grande aparição foi a explosão de Ferran Torres, mina de ouro da base. Ferran apareceu pela primeira vez nos profissionais em 2017 na Copa do Rei e chegou a marcar um gol meses depois num confronto contra o Celta de Vigo, com 17 anos. Hoje com 19, o elétrico ponto é uma das mais positivas notícias da atual campanha valencianista. Se a equipe de Marcelino concentrava seus ataques pela esquerda, sobretudo pela agressividade de Gaya e Gonçalo Guedes, a de Celades começa a ocupar o lado contrário com maior notabilidade, e isso passa pelos pés de Ferran.

No sábado, o Valencia visitou o Ciutat de Valencia (onde não vencia desde 2011) para bater de frente com o rival Levante, em um encontro que resumiu o time em 2019. Depois de um primeiro tempo onde foi dominado e parecia que sofreria outra indigesta derrota, os Chés fizeram 45 minutos finais implacáveis. O Levante optou por adiantar a marcação, deixou Rodrigo, Ferran e Gameiros soltos e deu a dica pra Celades passar pro 4-4-2 e encaixar seus jogadores. O trio colocou o clássico no bolso. Esse é o Valencia de Celades, que vai de mais a menos (ou vice-versa) numa mesma partida.

O Valencia tem um desafio contra o Ajax logo mais, às 17h, em Amsterdam (o canal Space mostra ao vivo). Depois da surra que tomou em casa por 3 a 0, os Morcegos precisarão ter uma postura diferente daquela passiva, entreguista e desanimada do duelo na Espanha. Para não depender de um improvável tropeço do Chelsea contra o Lille em Londres, só a vitória basta para a equipe voltar ao mata-mata da Liga dos Campeões após seis anos. Mais de 1,500 torcedores invadiram a capital holandesa. Segundo o Super Deporte, principal jornal esportivo da Comunidade Valenciana, Celades vai começar no 4-4-2 com Ferran como titular. Maxi Gomez, principal contratação no verão, está fora por uma lesão muscular de última hora. O uruguaio está longe da versão apresentada no Celta, mas costuma ser uma alternativa à dupla Gameiro e Rodrigo. Moralmente, sair classificado da Holanda alavancaria a temporada ché. Fiquemos de olho.

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