segunda-feira, 2 de dezembro de 2019

Madrid é a prova da diferença que faz um centroavante

Depois de ver o Barcelona levantar duas taças consecutivas, em 2018 e 2019, com poucas ameaças reais aos títulos, a nova temporada do Campeonato Espanhol desenvolve-se de uma forma que, com quatro meses em andamento, dá para cravar que será disputado ponto a ponto pelos eternos rivais do país. No final da semana, a duplinha deu mais uma demonstração do porquê da afirmação. Fora de casa, debaixo de chuvas torrenciais e com muito sofrimento, Barça e Real Madrid conquistaram três pontos importantíssimos no duelo à parte que fazem. Além de bater de frente com o sistema defensivo do Alavés no Mendizorroza, o Real também encarou a famosa chuva que assola o País Basco em dezembro e janeiro. Jogou menos que em outras partidas, mas venceu por 2 a 1 com gols de Sergio Ramos e Carvajal. O Barcelona, por sua vez, teve em Ter Stegen seu melhor jogador no Wanda Metropolitana contra o Atlético de Madrid e, como sempre, Messi tirando um coelho da cartola decidindo um árduo jogo por 1 a 0.

A exemplo de comparação, a essa altura do ano, com 15 rodadas, em 2017/2018 os catalães tinham cinco pontos de vantagem para o vice-líder Valencia. Em 2018/2019, a diferença era de três para o Sevilla. Atualmente, Blaugranas e Merengues dividem a liderança com 31 pontos e um jogo a menos, justamente o Superclássico, que será realizado no próximo dia 18 depois de ser adiado devido às manifestações na Catalunha em outubro. É certo que o Barcelona não é a rocha que foi sobretudo no primeiro ano de Ernesto Valverde, quando parecia que nunca perderia (e, realmente, só veio a ser derrotado na 37ª rodada), mas é a regularidade do Real Madrid que dá gás ao duelo. Há um ano, os madridistas agonizavam na quarto colocação com 26 pontos, o que incluía cinco derrotas e uma troca de treinador. Hoje, a pontuação é condizente com o futebol que joga o time de Zinédine Zidane, que conseguiu recuperar o mínimo de consistência do elenco para a disputa semanal.

Um dos fatores da melhora do Real Madrid passa pelos pés de Karim Benzema, de temporada irretocável até o momento. São 14 gols em 18 jogos e a merecida alcunha de craque da equipe. Aos 31 anos, está há 10 em Chamartín, passou por altos e baixos e deu a impressão de ser avesso aos momentos de protagonismo, principalmente por conviver durante tanto tempo com Cristiano Ronaldo. No entanto, o ciclo pós-CR7 tem visto um Benzema com uma postura diferente dentro e fora de campo. A influência do camisa 9 é evidenciada nos números: nos últimos 70 jogos do Real Madrid, ele foi titular em 69, uma prova do quão importante é a sua presença nas quatro linhas. Ainda no campo das estatísticas, o francês deixou sua marca em 58,8% dos jogos, registro que contrasta com a imagem dos últimos anos com o português. Em 2017/2018, Benzema marcou apenas em dez dos 47 que disputou, o que dá 21,28%. O impacto final foi positivo com os tentos contra Bayern de Munique e Liverpool, respectivamente semifinal e final de Liga dos Campeões, mas as especulações de que os Blancos precisavam de um novo atacante eram altas. Durante a campanha, muitos pediam Ronaldo de centroavante.

Aspecto cobrado pelos críticos, a falta de gols está sendo contornada. Em sua melhor temporada, Benzema anotou 32 em 52 jogos em 2011/2012 com José Mourinho. Faz tempo. Os indícios são de que a marca enfim será superada, casa nenhuma lesão aconteça. Não é coincidência. Estrategicamente, o finalizador de jogadas do Real Madrid era Cristiano Ronaldo, e não Benzema – e não teria por que ser diferente. Até por saber atuar com saliência fora da área (não à toa, volta e meia é definido como “um camisa 10 que joga de atacante), Benzema mais serviu do que concluiu. Mas desde que o gênio português se transferiu para a Juventus, os dados jogam a favor do francês: são 42 gols contra 34 do antigo companheiro. Bingo.

Foto: Site Oficial do Real Madrid | Benzema, o ‘padrinho’ de Rodrygo no Real Madrid

A postura de Benzema sempre foi elogiada por seus treinadores, mas o entendimento do novo papel é ratificado com o tratamento com os mais jovens ou as recém-contratações. O francês procura exaltar nas redes sociais as “futuras estrelas” como Rodrygo ou Vinicius Junior ou as atuais, em adaptação, como Hazard, de crescimento notável até se lesionar contra o PSG, na terça-feira. Vinicius, inclusive, admitiu em entrevista que Benzema “sempre fala comigo antes das partidas e me diz o que tenho que fazer para a equipe”. Elogios que também são balbuciados por Rodrygo, que salientou a “confiança e tranquilidade” que Karim expõe.

Se o 9 funciona no lado branco da capital, o mesmo não se pode dizer de forma concreta na parte vermelha e branca. Em Manzanarez, os debates acerca do centroavante no Atlético de Madrid são diários. Morata ou Diego Costa? É melhor um esquema sem um 9? Vitolo pode jogar por ali? O fato é que, entre os consecutivos problemas físicos de Diego Costa e a irregularidade de Morata, a posição carece de fiabilidade. Verdade seja dita, não é de hoje, mas, quando o Atléti ainda tinha Griezmann, o atual barcelonista escondia muitos dos defeitos que o sistema ofensivo tinha.

Foto: Ángel Gutierrez – Site Oficial do Atlético de Madrid | Diego Simeone ouviu vaias do Wanda no clássico contra o Barcelona

Dos dez primeiros colocados, o Atlético de Madrid é quem menos balançou as redes (16 gols). Em 15 jogos, em apenas quatro o time de Diego Simeone marcou dois ou mais gols. Os pragmáticos resultados descontenta a torcida. Ontem, quando Simeone sacou João Felix para colocar Vitolo, setores do Wanda Metropolitana vaiaram a mudança, de fato difícil de ser entendida, pela atuação do Golden Boy de 2019. No fim do certame, mais vaias. Na 6ª posição com 25 pontos, os Colchoneros seguem hesitantes. A repercussão pós-jogo, portanto, foi de justificativas. “É um momento delicado que só trabalhando sairemos”, explicou Saúl. “Jogando assim, os gols chegarão. É preciso paciência”, afirmou Hector Herrera.

Um ponto é importante de ser mencionado: por 45 minutos, o Atlético foi superior ao Barcelona. A marcação no meio funcionou e, por consequência, Messi ficou limitado. Três chances claras de gols foram criadas, mas Ter Stegen e a trave impediram as redes de serem balançadas. Na etapa final, o ímpeto diminuiu, o ET argentino teve mais espaços e, por mais que estivesse num dia de erros acima da média, na chance mais clara que teve colocou o confronto no bolso.

Ainda que as cifras não homologue, o discurso de Simeone de que “esta é uma temporada de transição” faz sentido. O clube investiu mais de 200 milhões de euros no mercado de verão e a mudança de status na atual década aumentaram a exigência dos aficionados. Mas o plantel passou por uma reformulação de um campeonato para o outro. Em entrevista ao jornal El Mundo antes da final da Libertadores, Filipe Luís, uma dessas peças que o torcedor sente falta, alertou que seria inevitável essa primeira parte de muitas dúvidas. “Jogadores como Godín definem uma equipe (…) ele, Tiago e Gabi são capazes de corrigir erros dentro de campo que Simeone não pode fazê-lo no banco. Isso é o diferencial. Quando você tem uma equipe nova, necessita de tempo para alcançar o entendimento dos jogadores com o sistema”. A perda de “hierarquia” citada no entrelinhas pelo brasileiro é acrescida da perda de qualidade que resulta nessa falta de gols. Um ponto está ligado ao outro.

O momento de inconstância do Atlético foi passado pelo Real Madrid anteriormente. Até Zidane achar a formação ideal no meio-campo com Valverde substituindo Modric e auxiliando Kroos e Casemiro, Rodrygo como alternativa a Bale pelo lado direito e as ascensões de Carvajal e Marcelo, Benzema marcou gols importantes ao Real nesse processo, como os dois da apertada vitória contra o Levante por 3 a 2 ou o único do importante triunfo diante do Sevilla na Andaluzia por 1 a 0. No Atlético, embora, a princípio, a quantidade pequena seja uma decepcção, dos cinco gols de Morata, três tiveram suas validades: o da vitória por 1 a 0 contra o Getafe e os dos empates por 1 a 1 contra Sevilla e Espanyol. É pouco, muito porque o histórico do clube é de ter goleadores confiáveis, em especial no século XXI. Simeone suplica por contratação, avisa o Mundo Deportivo. Cavani seria o alvo principal, especula o AS. O fato é que, em momentos ruins, ter um centroavante decisivo faz a diferença. Madrid, a capital, que o diga.

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