quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

COPA AFRICANA DAS NAÇÕES 2017: 4 seleções e 1 sonho

A Copa Africana das Nações (CAN) chega à sua semifinal. O torneio, disputado no Gabão vem apresentando bons jogos, algo interessante se levarmos em consideração que nas últimas edições, o futebol apresentado pelas seleções africanas deixou à desejar. Após as quartas-de final do último final de semana, Doentes por Futebol faz uma breve projeção do que poderemos ter em relação às semifinais que começam nesta quarta-feira (1) e que têm a presença de três seleções que já conquistaram a CAN: Camarões, Ghana e Egito e correndo por fora, a seleção de Burkina Faso, vice-campeã em 2013, quando foi derrotada pela Nigéria.

BURKINA FASO X EGITO – 01/02 – 17H (horário de Brasília)

O primeiro jogo da semifinal apresenta duas equipes com estilo de jogo bem definidos dentro de uma consistência defensiva que se transformou em uma das características das equipes, fruto obviamente do trabalho bem desenvolvido pelos seus treinadores.

Burkina Faso chega a semifinal após terminar em primeiro lugar no Grupo A, com cinco pontos ganhos a frente de Camarões, Gabão e Guiné-Bissau. Foram dois empates (1×1 contra Camarões e Gabão) e uma vitória (2×0 contra Guiné-Bissau). Nas quartas de final, a seleção burkinabé não era a favorita diante da Tunísia, mas jogou melhor, sem praticamente ser incomodada, buscou o gol e com um bom sistema ofensivo soube ter posse de bola efetiva e com esta ter o controle do jogo. Detalhe interessante que ressalta a evolução dos comandados por Paulo Duarte.

As nuances táticas de Burkina Faso

Com um profundo conhecimento de seus jogadores, levando em conta, que lançou a maioria destes, Paulo Duarte, mudou um pouco Burkina Faso, em relação aos jogos anteriores a CAN2017. A defesa permanece sólida, comandada em campo pelo experiente Bakari Koné, na lateral esquerda, Duarte sacou o ofensivo Patrick Malo para colocar Yacouba Coulibaly. No meio de campo, treinador optou por compor o setor com três meias: Abdou Traore, que fica à frente da defesa, o capitão, experiente e igualmente bom marcador Charles Kaboré saindo mais pela direita desta faixa do campo e do outro lado, com igual capacidade de movimentação, o jovem Blati Touré, de apenas 22 anos. Na esquerda jogando em velocidade, mas com a função de ajudar na marcação, outro jovem valor, Cyrille Bayala, que substitui Jhonatan Pitroipa, lesionado no segundo jogo desta CAN e uma incógnita sobre sua continuidade na competição. Na direita, a habilidade e inteligência de Bertrand Traoré, que atravessa grande momento em sua carreira. Paulo Duarte ainda tem boas opções no banco e a prova disso foi no último jogo, quando colocou o artilheiro desengonçado Aristide Bance, que acabou sendo um dos destaques da vitória sobre a Tunísia (2×0) numa substituição que mostrou a capacidade técnica de Burkina Faso.

Maior campeão africano, o Egito chega a mais uma semifinal de CAN. Após inúmeros problemas ao logo dos últimos sete anos, o futebol egípcio teve paciência para manter o que sempre teve de muito forte: a sua base, graças a um dos campeonatos mais ricos do continente africano. Assim, sob a batuta do experiente Héctor Cúper, os “Faraós” terminaram em primeiro lugar no grupo D, à frente de Ghana (vitória de 1×0); Mali (empate sem gols) e Uganda (vitória por 1×0). Nas quartas de final, o Egito não jogou tão bem diante do Marrocos, mas soube segurar a pressão marroquina e nos instantes finais do jogo chegou ao gol da classificação com Kahraba após cobrança de escanteio.

As nuances táticas do Egito

Outro treinador que readequou o sistema de jogo para esta CAN, em relação aos amistosos e Eliminatórias, Cúper também adotou uma postura mais clássica e defensiva, porém sem perder o poder de uma das armas egípcias: o contra-ataque. Defesa comandada pelo experiente goleiro El-Hadary, quatro vezes campeão da CAN e com mudanças pontuais nas laterais, na direita, Gaber deu espaço para Al Mohamadi e na esquerda Shafy saiu para a entrada de Hafez, laterais que costumam apoiar menos o ataque, mas que resguardam bem a defesa. No meio Hamed mais recuado é o encarregado da marcação pelo lado direito desta faixa de campo e Ahmed Fathy entrou no lugar de El Neny, ou seja saí um marcador que costumeiramente saí mais para o jogo e entra um marcador que segura mais a posição pelo lado esquerdo. Abdallah El-Said é o responsável pela transição entre o meio de campo e o ataque. Na frente, Cúper colocou Hassam “Trezeguet” na função de homem de área, mas o camisa 21 costumeiramente se movimenta bem e oferece boas opções aos companheiros; na direita mas com liberdade para assumir outras posições em campo, Mohamed Salah, um dos destaques do time e na esquerda Mohsen ganhou a posição que era de Sobhi, justificável na boa função tática desempenhada pelo camisa 18 egípcio.

O jogo

Com duas equipes muito bem defensivamente, a postura ofensiva pode fazer a diferença. De um lado temos Burkina Faso que diante da Tunísia tomou a iniciativa do jogo, sendo bem sucedido nesta missão. Entretanto, o Egito versão 2017 é uma equipe que lembra as grandes conquistas da sua história, uma equipe pragmática, que vem tomando poucos gols e que sabe com frieza aproveitar as (raras) oportunidades que lhe surgem e que conta com um estrategista experiente no seu comando, o argentino Héctor Cúper. Deveremos ter um jogo equilibrado, com o talento de Bertrand Traoré de um lado, contra o talento do lado oposto de Mohamed Salah; ambos vem fazendo bons jogos nesta CAN. Burkina Faso tem outro destaque; Prejucé Nakoulma, experiente atacante burkinabé, de 29 anos, vem fazendo uma grande competição e esta ótima fase vivida pelo camisa 7 de Burkina Faso pode fazer a diferença em um duelo que tem tudo para ser equilibrado. Há quase um ano atrás, em fevereiro de 2016, as equipes se enfrentaram em jogo amistoso disputado no Cairo, com vitória do Egito por 2×0, gols de El-Said. De lá para cá muita coisa mudou em ambas as equipes. Assim, com boas perspectivas e cercado de natural expectativa, teremos o primeiro finalista da CAN2017.

CAMARÕES x GHANA – 02/02 – 17h (horário de Brasília)

Oito títulos somados na história da CAN estão envovidos neste duelo semifinal. De um lado a jovialidade aliada ao pragmatismo defensivo de Camarões; do outro, a experiência e técnica de Ghana buscando acabar com o incômodo jejum de 32 anos sem o título africano.

Segundo colocado no grupo A, com cinco pontos ganhos, Camarões empatou com Burkina Faso (1×1) e Gabão (0x0) e venceu Guiné-Bissau (2×1) avançando às quartas de final, onde enfrentou o favorito Senegal, com grande atuação do goleiro Fabrice Ondoa, os camaroneses praticamente não arremataram a gol, mas conseguiram segurar o empate no tempo normal e na prorrogação, eliminando os senegaleses nos pênaltis (5×4) com Ondoa defendendo a cobrança de Sadio Mané e colocando os “Leões Indomáveis” novamente nas semifinais.

As variações táticas de Camarões

Em seu primeiro trabalho na África, o belga Hugo Bross tem muitos desafios à sua frente, começando pelas ausências importantes da sua equipe. Assim, sem poder contar com muitos jogadores, Bross apostou na renovação. Os amistosos recentes, somados também aos resultados dos jogos oficiais, fizeram com que o treinador belga tomasse a decisão de fortalecer seu sistema defensivo, o que vem ocorrendo com certo êxito nesta competição. Hugo Bross barrou o então capitão Nikolas N’Kolou e promoveu para o seu lugar o então lateral direito, Ngadeu-Ngadjui e na posição então ocupada por este, entrou Collins Fai, lateral de ofício. No meio de campo, uma linha de três, praticamente paralelas, buscando justamente fechar os espaços de transição ofensiva e troca de passes dos adversários. Assim, Siani joga fechando o flanco direito, o capitão Benjamin Moukandjo centralizado é o homem da saída de bola e Arnaud Djoum, que barrou Mandjeck, outro ex-titular absoluto, fecha o flanco esquerdo. No ataque mais uma linha de três homens, com Christian Bassogog aberto pela direita; o jovem de apenas 22 anos, Robert Tambe centralizado na referência de área, mas com uma movimentação constante, uma das surpresas, pois barrou Vincent Aboubakar e pela esquerda Karl Toko Ekambi completa o ataque, que tem muita movimentação mas vem sofrendo para fazer os gols e isso diante de uma equipe extremamente qualificada como a de Ghana pode ser fatal, uma vez que certamente a defesa camaronesa, será novamente testada, talvez mais até que no jogo diante do Senegal.

Mantendo a tradição da escola camaronesa de goleiros na África, Fabrice Ondoa é um dos destaques da sua seleção. (foto: Sydney Mahlangu/ BackpagePix)

Mostrando seu poder dentro da África, Ghana chega a mais uma semifinal. Atuais vice-campeões continentais, as “Estrelas Negras” buscam quebrar o jejum de 32 anos. Segunda colocada no grupo D, atrás de Egito (derrota por 1×0) e a frente de Mali e Uganda (ambas vencidas por 1×0), Ghana teve um jogo muito difícil nas quartas de final, diante de um adversário com ótimo poder ofensivo, a República Democrática do Congo; mas os ghaneses souberam segurar a pressão e com muita experiência fizeram 2×1 conquistando a classificação às semifinais.

As opções táticas de Ghana

Desde 2014 à frente da equipe, o israelense Avant Grant conhece bem seus jogadores e isso ao longo desta CAN pode ser facilmente observado pela maneira com que sua equipe vinha jogando e pelas mudanças promovidas no seu sistema de jogo para esta competição. Na defesa, Grant sacou o lateral esquerdo Baba e voltou com a experiência de Acheampong, claramente privilegiando o entrosamento de um sistema que conta com Boye e Amartey, centralizados e a polivalência de Afful na lateral direita. No meio de campo, três meias, com Thomas Partey, pela direita, Acquah centralizado e mais marcador do que criador e Mubarak Wakaso, talentoso jogador pela esquerda. No ataque, com a lesão de Gyan, Jordan Ayew é o substituto no comando do ataque, o que dá nitidamente mais movimentação ao setor; pela direita o habilidoso Christian Atsu é peça fundamental do setor e pela esquerda, mas sempre recompondo o meio de campo, tornando-se praticamente o quarto homem do setor, outro polivalente um dos líderes da equipe: Andre Ayew, um dos destaques do time. Em geral poucas mudanças, de um treinador que irá completar três anos à frente da equipe ghanesa e que justamente por este motivo, não usa a competição para fazer experiências.

Sempre decisivo, Andre Ayew carrega a mística da camisa 10 de Ghana, imortalizada pelo seu pai, Abedi Pele, maior jogador da história do seu país. (foto: Samuel Shivambu/BackpagePix)

O jogo

Equilíbrio defensivo, talvez seja a melhor definição para as duas seleções. Ghana apesar de estar na semifinal, tem seu poder de ataque questionado, desde antes da CAN; do lado camaronês, as coisas não são muito diferentes e o ataque camaronês ainda não fez nenhum gol na competição (os gols de Camarões foram marcados por jogadores do meio campo e defesa). Assim, o jogo apesar do leve favoritismo para Ghana pode ser uma incógnita, pois ambas as equipes apostam num jogo mais pragmático, mais voltado para a posse de bola, sem riscos; entretanto cabe observar quem irá tomar a iniciativa. O fator experiência pode fazer a diferença em pró de Ghana que chega a mais uma semifinal, com um elenco muito rodado e que já passou por esta situação em outras oportunidades, algo que pode fazer a diferença. Já Camarões possui um time completamente renovado, no qual muitos jogadores irão ter a oportunidade de jogar uma semifinal pela primeira vez e isso pode influenciar tanto positivamente, com os camaroneses jogando a responsabilidade para Ghana, como negativamente, com os “Leões Indomáveis” sentindo a pressão normal de um jogo deste porte.

Sem poder contar com o lesionado Asamoah Gyan (que é duvida depois de uma lesão diante do Egito), a esperança recaí naturalmente sobre os irmãos Ayew, que chamaram a responsabilidade no jogo da classificação contra a República Democrática do Congo. Além desta dupla, olho em Atsu, que vem fazendo bons jogos e com sua habilidade pode desequilibrar. Em Camarões, olho na atuação de Benjamin Moukandjo, que assumiu o papel de líder da equipe em campo, “assinando” praticamente todas as bolas da construção de jogo camaronesa. Entretanto, uma coisa que já foi observada nesta CAN está na lentidão de recomposição camaronesa, algo que poderá ser fatal diante da velocidade de Ghana, cabe observar se isso irá ocorrer neste jogo que define o segundo finalista da CAN2017.

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