sábado, 4 de fevereiro de 2017

COPA AFRICANA DAS NAÇÕES: das cinzas ao céu, Egito x Camarões, na grande final!

A 31ª edição da Copa Africana das Nações (CAN), disputada no Gabão, chega à sua grande final. Após 30 jogos, com 62 gols marcados, o principal torneio de seleções da África coloca na sua finalíssima duas grandes equipes do continente, mas que nos últimos anos passaram por inúmeros problemas e agora, num trabalho de completa renovação promovido por seus treinadores, sonham com o título da competição: Egito x Camarões.

Como foram as semifinais

No primeiro jogo semifinal, o Egito levou o chamado vareio de bola da seleção de Burkina Faso, mas contou com grande atuação do multi-experiente goleiro El-Hadary, que literalmente foi o grande nome do jogo, com defesas importantes tanto no tempo de jogo regulamentar como nas cobranças das penalidades. Após um primeiro tempo com poucas ações ofensivas a segunda etapa foi digna de uma semifinal. Pragmático, sob o comando de Héctor Cúper, o Egito aposta na consistência defensiva, com muita marcação no meio de campo e as eventuais escapadas no contra-ataque e foi numa destas escapadas, “como quem não quer nada”, que Mohamed Salah recebeu bola de Kahraba e com muita categoria e talento abriu o placar para os “Faraós”, num arremate espetacular, em um momento do jogo onde Burkina Faso estava melhor. Mas quem poderia imaginar os burkinabés sentindo o baque do gol, se enganou. Os comandados de Paulo Duarte demonstraram muita personalidade e foram em busca do empate, em bela jogada coletiva finalizada por Aristide Bancé. O jogo seguiu com Burkina Faso tendo maior posse de bola (61% contra 39%) e buscando a virada (15 finalizações no gol, contra três dos egípcios), diante de um Egito que se defendeu e soube segurar a pressão adversária. Na cobrança das penalidades, El-Said abriu as cobranças e errou, mas viu o goleiro Hervé Koffi parar em El-Hadary e Bertrand Traoré também teve a sua cobrança defendida pelo arqueiro “Faraó”, terminando em 4×3 a disputa em favor do Egito, que chega a sua oitava final de CAN.

O segundo jogo semifinal, um clássico da Copa Africana das Nações, de um lado Camarões, seleção que chegou ao Gabão cercada de dúvidas; do outro a força de Ghana, que chegou a sua décima quarta semifinal. Jogo que apresentou um equilíbrio maior em relação ao primeiro jogo da semifinal e também à própria expectativa em torno das duas seleções. Quem esperava um domínio maior de Ghana se enganou. As “Estrelas Negras” tiveram 51% de posse de bola, contra 49% dos camaroneses, que por sua vez foram mais ofensivos, arrematando sete vezes contra a meta de Razak Brimah, contra apenas um chute ao gol de Fabrice Ondoa, números até então inimagináveis pelo que as duas seleções haviam apresentado durante a competição. Camarões, treinada pelo belga Hugo Bross, adotou o mesmo discurso de jogar a responsabilidade para Ghana, assim como fizeram nos jogos contra Burkina Faso, Gabão e Senegal e parece que tal “jogada psicológica” vem dando certo, levando em consideração o grupo jovem e amplamente renovado para esta competição. Já do lado de Ghana, pode-se observar uma equipe apática, principalmente na criação de jogadas ofensivas e que viu seu meio campo perder o duelo para o meio de Camarões, que soube levar o jogo ao seu modo. Aos 27 minutos da segunda etapa, Ngadeu-Ngadjui, uma das apostas de Bross, abriu o placar. Quem esperava por uma reação ghanesa, se enganou, pois os “Leões Indomáveis” seguiram melhor em campo e aos 48 minutos da etapa final, Christian Bassogog, um dos jogadores renascidos na seleção, fechou o placar em 2×0 pró-Camarões.

Como o Egito chegou à final

A equipe de Héctor Cúper chega a final com uma campanha tímida, mas sobretudo coesa. O sistema defensivo vem sendo o ponto forte da equipe que na estréia da competição sofreu diante de Mali, que buscou o jogo e em alguns momentos da partida encurralou os “Faraós” (foram sete arremates na meta egípcia contra cinco). Esta estreia, considerada má pela exigente imprensa egípcia talvez tenha sido um ponto providencial e de suma importância no trabalho de Cúper, que seguiu com suas convicções, especialmente no que diz respeito ao jogo mais pragmático, de marcação forte e transição rápida. Após este jogo, El-Said, perdeu a titularidade na equipe.

No segundo jogo, um Egito mais semelhante ao que se esperava. Diante de Uganda e aproveitando a pouca tradição da equipe adversária, o Egito se impôs, dominando amplamente o jogo e praticamente não dando chances ao oponente. El-Said saiu do banco para marcar o gol da vitória e colocar a dúvida na cabeça do treinador, pois o camisa 19 praticamente mudou o rumo do jogo, levando em conta que apesar do domínio, o Egito ainda seguia com pouca criatividade em campo.

Contra Uganda, Abdallah El-Said (19) saiu do banco para dar a vitória aos “Faraós” (foto: Chris Ricco/BackpagePix)

Buscando a classificação, o Egito no terceiro jogo, enfrentou a tradicional e forte seleção de Ghana. Aí entrou em campo, o velho sistema de jogo consagrado nas grandes conquistas do futebol do Egito, a força defensiva aliada a paciência em esperar e aproveitar o momento para “dar o bote”. Ainda com pouca criatividade no sistema ofensivo, começou a brilhar a estrela do principal jogador egípcio da atualidade: Mohamed Salah, que acertou belo chute em cobrança de falta, garantindo a contagem mínima e colocando os “Faraós” nas quartas de final em primeiro lugar no grupo D.

Nas quartas de final, o adversário seria uma equipe em evolução: o Marrocos, que criou mais oportunidades de gol, porém não foi eficiente o suficiente para confirmar as mesmas em gol. Isso, diante do Egito é geralmente fatal e numa bola parada, os egípcios marcaram com Kahraba e chegaram a mais uma semifinal. Assim, apostando na consistência defensiva, com grande atuação de El-Hadary no gol, os egípcios superando a expectativa inicial mostraram que o seu futebol segue mais forte, dentro da África, do que nunca.

Como Camarões chegou à final

Uma campanha que se assemelha em muitos fatores com a campanha do Egito, Camarões estreou empatando com a boa seleção de Burkina Faso. Cercada de muitas dúvidas e na condição de coadjuvante, os comandados do treinador Hugo Bross fizeram um jogo de muita personalidade, pautado em uma forte marcação sobretudo no setor de meio de campo; abriram o placar em bela cobrança de falta de Benjamin Moukadjo, que jogando recuado no meio de campo tem sido um dos destaques de Camarões. Na segunda etapa, os “Leões Indomáveis” sofreram o empate com Issofou Dayo.

O segundo jogo de Camarões na CAN2017 pode ser considerado o “divisor de águas” para a equipe na competição. Diante da “franco-atiradora” Guiné-Bissau, os camaroneses saíram atrás do placar, após o golaço de Piqueti. Na segunda etapa, os Camarões encontravam muitas dificuldades de criação ofensiva diante da bem postada equipe guineense e num arremate de média distância de Siani chegaram ao empate, que parecia definitivo, até que aos 35 minutos do segundo tempo, o polivalente Ngadeu-Ngadjui, na base da raça, acertou um chute com força e virou o jogo para Camarões, que assim colocava a mão na vaga às quartas de final.

Ngadeu-Ngadjui (5) é um dos símbolos da nova equipe de Camarões, com sua polivalência em campo (foto: Gavin Barker/BackpagePix)

No terceiro jogo, Camarões tinha pela frente a pressionada seleção-sede do torneio, Gabão. Assumindo a condição de “azarão”, numa tática psicológica bem sucedida, Camarões soube conter o jogo de meio de campo, dominando o setor que carecia de maior criatividade do adversário, facilitando ainda mais as ações para os “Leões Indomáveis” que na defesa vigiaram bem o ótimo Pierre-Emerick Aubameyang e assim, seguraram o zero no placar e garantiram a classificação.

Nas quartas de final, os camaroneses tiveram certamente seu teste de fogo, diante da poderosa seleção do Senegal, que mandou no jogo, mas parou nos erros de finalização e na ótima atuação do goleiro Fabrice Ondoa. Assim, Camarões foi se segurando na defesa, levou o jogo para a prorrogação, disputando a vaga às semifinais nos pênaltis e aí surgiu a eficiência na hora das cobranças, com Camarões marcando em suas cinco cobranças e contando com um dia inspirado de Ondoa, que fez por honrar a tradição de uma das maiores escolas de goleiros da África, defendendo a cobrança de Sadio Mané. Com a vitória por 5×4 nos pênaltis, Camarões avançava mais uma vez entre os quatro melhores times da África, algo que poucos acreditavam.

Uma prévia da final

Um jogo sem favoritos, que envolve duas jovens seleções, com camisas pesadas e que após anos no ostracismo dentro do continente, superaram as dificuldades do recente passado para estarem novamente no pódio. Somados a todos estes detalhes, o sistema de jogo, de ambas as equipes é muito parecido e a campanha das duas seleções também é bastante semelhante. Levando em consideração a velha máxima que “cada jogo é uma história”, o duelo final desta CAN2017 é talvez o melhor exemplo da famosa frase empregada há anos no futebol. Se levarmos em consideração o futebol apresentado nas semifinais, por exemplo; obviamente teremos um leve favoritismo para os “Leões Indomáveis”, que diante da poderosa seleção de Ghana jogaram com enorme personalidade, comandando as ações efetivas daquele jogo.

Por outro lado, é importante destacar que o Egito chega em mais uma final, a oitava em sua história, com um futebol pragmático. Comandados pelo argentino Héctor Cúper, os “Faraós” até aqui só tiveram melhor desempenho nos números do jogo, diante de Uganda, algo já esperado pela tradição da equipe. Nos demais jogos os egípcios sofreram contra ataques talentosos, mas souberam segurar os resultados dentro da proposta da equipe e assim, avançarem passo a passo até a esperada e sonhada final e para isso dois jogadores vem tendo papel fundamental junto a equipe: Essam El-Hadary, experiente goleiro e multi-campeão do futebol africano, aos 42 anos de idade é uma verdadeira lenda no continente e Mohamed Salah, jogador da Roma e dono de um talento raro, vem sendo a “válvula de escape” da equipe de Cúper.

Aos 42 anos de idade, Essam El-Hadary é uma das lendas da África e vem fazendo uma excepcional CAN (foto: Gavin Barker/BackpagePix)

A renovada seleção de Camarões, sob a batuta do belga Hugo Bross, é sem sombra de dúvidas a grande surpresa da competição. Apesar da tradição do futebol camaronês, que em seis finais, conquistou a CAN por quatro oportunidades; os “Leões Indomáveis” vem já há alguns anos passando por uma crise, que já teve diversos capítulos, que vão desde a prisão de presidente da federação local, passando por intervenções do governo camaronês e por fim culminando com convocações mal sucedidas e brigas internas entre os jogadores. A soma de todos estes fatores levou Camarões ao fundo do poço. Quem vê a equipe na final pode pensar que o caminho até chegar à mesma foi tranquilo; pelo contrário, Bross enfrentou inúmeras dificuldades para montar este grupo, como por exemplo, a desistência de muitos jogadores em participar da CAN2017.

Assim, o belga foi obrigado a promover uma inesperada, por momento, renovação da sua equipe e para surpresa geral, esta renovação vem sendo bem sucedida. Do plano de vista tático, Camarões vem fazendo bons jogos, também focando na força defensiva com um meio de campo mais burocrático no sentido de criação, mas eficiente quanto a marcação e sobretudo posse de bola, os camaroneses até aqui foram inferiores apenas no difícil jogo contra a forte equipe do Senegal, que acabou vencido nas penalidades. Fora isso a equipe jogou as demais partidas com muita consciência tática, o que sem sombra de dúvidas é um alento aos torcedores camaroneses, na torcida pela quinta conquista do país repetindo os feitos de de 1984, 1988, 2000 e 2002, nos anos de ouro dos “Leões Indomáveis”.

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