quarta-feira, 6 de novembro de 2019

A vergonha do racismo no futebol italiano

Toda a construção de uma sociedade racista é um conjunto de deficiências humanas e de falta de ação do estado. Na Itália, o racismo é estrutural, o preconceito é institucionalizado e com muitas camadas entre si. Existem diferentes pontos de ataque, com perseguição a ciganos, aos napolitanos e obviamente aos negros. Pouco tempo atrás escrevi sobre os ataques a Romelu Lukaku e citei os casos anteriores de Koulibaly e Matuidi. Desde então nenhuma atitude foi tomada para combater efetivamente os cânticos racistas nos estádios, muito pelo contrário. Em novos casos de racismo contra Koulibaly, Kessie e Balotelli, observamos como a sociedade italiana se sente bem sendo racista, como se protegem e como a FIGC e a Serie A como um todo, não estão nem um pouco preocupadas com o assunto.

Vimos cartas de torcidas organizadas  de Internazionale,  e de Verona, por exemplo, defendendo o “direito de ser racista” e pedindo retratação dos jogadores por chamarem essas pessoas de racistas. Vimos os clubes, enquanto instituição esportiva, e alguns de seus atletas “passando muito pano” para a atitude desses torcedores e não dando a mínima para a dor de seus colegas e chegamos ao ápice, com o Prefeito de Verona acusando Mario Balotelli de caluniar a cidade, e pior, a câmara de vereadores levando uma ação à frente, tentando penalizar o SuperMario, como apresenta o tweet do jornalista Murilo Moret.

Não surpreende. Mesmo! Nem um pouco. Mas não deixa de ser nojento, não deixa de causar ânsia de vomito e não deixa de ser revoltante. A Itália, a FIGC e a Serie A se sentem tão confortáveis em serem racistas, que nem mesmo se preocupam com a imagem da liga mundo à fora. Rodada após rodada os jogos do campeonato não tem a menor importância diante do que acontece na arquibancada e nem mesmo para defender seu dinheiro e “combater o racismo” com ações tacanhas e simplistas, os clubes e a liga aparecem. Nada é feito!

Eu sou apaixonado pelo futebol italiano desde 2005. Quando era apenas um menino de 10 anos e assisti à Internazionale jogar pela primeira vez. Sendo apenas uma criança, coisas lúdicas te prendem e te causam encantamento. Comigo foi Adriano, toda sua força, sua explosão e o seu talento. Desde então acompanhei todas as temporadas da Serie A Italiana e essa edição atual, que poderia ser a que possui maior nível técnico, jogos mais divertidos e poderia ter tudo para ser a confirmação de um ressurgimento do Calcio, como força mundial, não será. E ainda bem que não será, pois está manchada.

Foto: reprodução – Koulibaly foi vitima de racismo mais de uma vez no país em que trabalha

Não há trabalho coletivo, qualidade individual, partidas emocionantes, golaços ou nada que diga respeito ao campo e bola que compense dar reconhecimento e palco a uma sociedade doente e que precisa urgentemente de tratamento. O futebol italiano é reflexo do seu povo e, portanto, racista. Não sei o que poderia ser feito em termos de medidas efetivas para estancar a sangria, não sei quem poderia ter a força para elevar a discussão e tomar o controle do combate ao racismo no país. O que eu sei, é que a cada rodada eu sinto menos vontade de assistir aos jogos, escrever sobre os jogos e falar de futebol.

Não estou dizendo que vou deixar de ver os jogos da Inter, nem mesmo que vou deixar de ver os jogos da Serie A. É algo mais forte do que eu, mais forte do que o meu controle pessoal. Mas eu vou deixar sim de enaltecer, de elevar o hype e de comemorar a melhora do nível técnico da competição. Tendo muita liberdade para escrever aqui neste espaço tão legal que o Doentes por Futebol me oferece e tendo pouca força para mudar efetivamente o rumo da história, vou tentar a cada rodada trazer uma nota dentro da coluna que sempre lembre sobre o quão doente está a sociedade italiana e o quanto isso influencia na vida dos jogadores negros que atuam no país. Não é muita coisa, não é o ideal, mas é o que posso fazer. O futebol, ao menos na Itália, hoje tem menor importância, frente ao poder que os racistas possuem no país.

Foto: VALERY HACHE/AFP/Getty Images – Koulibaly e Balotelli frente a frente pela UCL em 2017.

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