sexta-feira, 10 de março de 2017

Convocando todas as mulheres

Assim que você abriu as suas redes sociais, deu de cara com mensagens diversas. Homenagens pontuais e até vídeo do seu clube de coração. Em seguida, você deve ter saído ou não de casa, ido ao trabalho, faculdade, tanto faz. As mensagens, no entanto, não param. “Quanto reconhecimento!”, poderíamos pensar. Mas, afinal, o que temos para festejar em mais um Dia da Mulher?

Se a discussão fosse abrangente, poderia passar o dia inteiro escrevendo. Mas talvez não fosse o suficiente. Quando fica restrita às quatro linhas do futebol, temos um pouco de tempo para relembrar pontos importantes, que talvez passem despercebidos no dia a dia. Ver mulheres nos estádios ou nas ruas com a camisa do seu clube já se tornou comum. Mulheres que a cada ano se interessam ainda mais, buscam seu lugar na arquibancada, comentam os jogos e não têm medo de gritar um palavrão quando a emoção de um gol explode.

Bem, essas mesmas mulheres continuam escutando que o futebol ainda é um esporte masculino. Que, quando crianças, talvez tenham sido privadas de acompanhar partidas em um estádio, porque ali não era o espaço ideal para elas. São as mesmas mulheres que precisam lidar com a ideia do sexo frágil. Com o preconceito em relação as suas escolhas. Com a necessidade de falar diariamente: eu posso estar onde eu quiser e quando quiser.

Assim então fizeram Formiga, Marta, Emily Lima e Fernanda Gentil. Mulheres que hoje representam o poder feminino num esporte que já abre as portas, mas nem tanto assim. Exemplos que alcançam praticamente todos os segmentos do mundo da bola, cada uma no seu estilo, como toda mulher pode e deve ser.

Formiga, exemplo de garra e raça com a amarelinha. Eternizou seu nome na história, mas bem que poderia ter sido reconhecida ainda mais.

Marta, dona de uma qualidade estupenda. É lembrada como o ‘Pelé’ do futebol feminino.

Emily Lima, finalmente uma mulher comandando a seleção! Quebrando um dos tabus.

E então, Fernanda Gentil. A irreverência, inteligência e vontade de uma mulher que dá lição no jornalismo esportivo.

O que todas elas têm em comum? O amor pelo esporte, a vivência de cada dificuldade, a esperança de um futebol mais inclusivo e a dor do preconceito. Por sua garra, Formiga era frequentemente chamada de masculina. Por sua técnica, Marta só poderia lembrar um homem. Por seu pioneirismo, Emily lida com a pressão dobrada. Por sua sexualidade, Fernanda precisa ler mensagens de ódio e de cunho sexista. Estas mulheres traduzem o sentimento de viver o esporte, mas de conviver com julgamentos. São mulheres que representam outras mulheres, que talvez ainda tenham receio de ir ao estádio, que talvez ainda sejam privadas de torcer por um clube e que talvez sejam desencorajadas a trabalhar na área.

Imagem: Site Oficial do Cruzeiro | Clube mineiro aproveitou a data internacional da mulher para conscientizar a respeito das inúmeras violências ainda inerentes em nossa sociedade.

Não esqueçamos do assédio, da erotização feminina por parte até mesmo das instituições que regem o esporte. Também não esqueçamos das mulheres que trabalham com arbitragem e lidam com o peso da dúvida e o discurso de incompetência. Aquelas que apenas esperam uma oportunidade de trabalhar com o que desejam, mas que ainda precisam ouvir o não por não se encaixar nos padrões que a sociedade tanto preza. A essência do futebol é a paixão, a lição é nunca titubear quando precisar dar um chutão pra frente.

Portanto, peço licença a Emily Lima só por um dia pra fazer uma convocação. Mulheres do mundo, desse país apaixonado pelo futebol, expressem seu amor pelo clube. Acompanhem os jogos no estádio, em casa ou no bar. Vista a camisa, batam no peito, grite a cada gol, encham o copo de cerveja ou do que quiserem e vivam.

Vivam o prazer de amar o esporte. Porque já não da mais pra ficar apenas na defensiva, quando temos força o suficiente pra atacar. Vão aparecer zagueiros, volantes e até atacantes bloqueando a nossa passagem, mas nunca se esqueçam: nós sempre poderemos achar o nosso espaço dentro do campo pra marcar o gol.

Mulheres de todo o mundo, feliz Dia da Mulher e comemorem com MUITO futebol.

 

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