terça-feira, 1 de outubro de 2019

Com talento e opções, Arsenal não pode se contentar com a mediocridade

Não foram poucos os comentários nas redes sociais sobre a mediocridade da partida entre Manchester United e Arsenal, que terminou empatada por 1 a 1 na segunda-feira. Um Old Trafford que já presenciou jogos históricos e decisivos entre os dois rivais viu McTominay abrir o placar e Aubameyang, em lance inicialmente invalidado pela arbitragem, igualar o confronto com a chancela do VAR. O resultado deixa o Arsenal na quarta posição, com 12 pontos, e o United na décima, com nove. É necessário somar os pontos dos dois times para chegar aos 21 do Liverpool, que lidera a tabela.

Aliás, é simbólico que os times de Ole Gunnar Solskjaer e Unai Emery tenham se enfrentado na segunda-feira em semana de jogos nas competições europeias, o que só é possível pelo fato de ambos não terem se classificado para a Champions League. Um cenário impensável há 20, 15, dez anos, mas que bateu à porta a partir do crescimento financeiro associado a escolhas certeiras dos rivais, além de uma sucessão de equívocos de United e Arsenal.

Ainda assim, é necessário pontuar que as situações e as perspectivas para este ano são diferentes. As três recentes contratações dos Red Devils – Wan-Bissaka, Maguire e Daniel James – acrescentam ao elenco agora e no futuro, mas as ausências de Ander Herrera e Lukaku (não dá para incluir neste grupo Sánchez e Smalling, que já não tinham qualquer impacto positivo no time) são muito relevantes e deixaram lacunas não preenchidas. Pensando em resultados imediatos, o time não melhorou da temporada passada para esta. No Arsenal, Unai Emery inegavelmente tem um grupo mais equilibrado e pronto para dar respostas agora.

David Luiz e Sokratis não formam uma dupla de defesa confiável neste momento, mas as opções são muito abundantes em todos os outros setores. Seja pelas contratações de impacto, como Dani Ceballos e Pépé – que ainda podem apresentar muito mais -, ou pelos jogadores que retornaram de empréstimo, como Reiss Nelson. O problema é que o próprio Unai Emery não tem colaborado para que a equipe se desenvolva por meio de repetição e consistência.

Depois de ser o melhor em campo na segunda rodada, contra o Burnley, Ceballos teve uma atuação bastante apagada contra o Liverpool, quando Emery estranhamente decidiu utilizar um quarteto de meio-campistas, dispostos em um losango, contra um time cuja principal arma para abrir a defesa do adversário é o avanço incessante dos dois laterais. Já foi suficiente para o meia espanhol, emprestado pelo Real Madrid, perder lugar no time e reaparecer como titular só mais duas vezes – nos jogos teoricamente mais pesados, diante de Tottenham e United, foi reserva.

Titular nos três primeiros jogos, Willock desapareceu do time nos últimos quatro. A utilização de um trio de ataque – o que normalmente condiciona a titularidade de Lacazette (e agora do garoto Bukayo Saka, com a lesão do francês) – também não é uma convicção do técnico espanhol. Até na estreia, quando o Arsenal venceu o Newcastle por 1 a 0, é possível buscar uma incoerência de Emery: com Lacazette e Pépé no banco, Mkhitaryan, que sairia por empréstimo para a Roma semanas depois, incrivelmente foi titular. Assim como Monreal, vendido por uns trocados à Real Sociedad no fim de agosto.

O núcleo de jogadores até agora intocáveis do Arsenal na temporada conta com alguns nomes de desempenho mais irregular que o de Ceballos, Torreira e Lacazette, que são submetidos a um constante rodízio mesmo na Premier League: David Luiz, Sokratis e Xhaka são titulares absolutos. Holding, de volta de lesão, poderá ameaçar a posição de um dos zagueiros, assim como Bellerín e Tierney tendem a assumir as laterais em breve. O capitão Xhaka, por sua vez, é beneficiado pela ideia de Emery de que os outros meio-campistas não têm a mesma capacidade de executar todo o trabalho do volante mais defensivo, do primeiro passe à proteção da defesa, o que é bastante discutível.

Os pontos mais positivos até agora, sem dúvida, são Guendouzi, que cresceu demais em seu segundo ano no Emirates e – este sim – merece o status de titular absoluto de que desfruta no meio-campo e Aubameyang, que por ora tem um gol por jogo na temporada. O aspecto especialmente negativo é a relação entre Emery e Özil, que simboliza a instabilidade com que o Arsenal convive nesta tentativa de se consolidar. Duas rodadas atrás, o alemão apareceu como titular contra o Watford. Diante do United, não ficou sequer no banco, por opção.

Foto: David Klein/Sportimage via PA Images – Unai Emery

Com contrato até 2021 e o maior salário do elenco, o alemão parece ter se transformado justamente no  tipo de “ativo” que trava a evolução do Manchester United (é só ver o caso de Alexis Sánchez). Todo mundo sabe que sua real importância no elenco não está refletida nos termos do contrato, o que é especialmente problemático quando o treinador não vai muito com a sua cara e, é claro, não há ninguém muito disposto a tirá-lo de lá nas mesmas condições financeiras. Permanece o impasse, ou no máximo aparece a chance de um empréstimo com o clube cobrindo a maior parte dos vencimentos.

O Arsenal é, estranhamente, o time que mais permite finalizações de seus rivais por partida na Premier League (18, de acordo com o Who Scored) e não tem se notabilizado por controlar tão bem os jogos. A posse de bola média é a nona, inferior à do Brighton, o que não é em si um problema, mas fez falta em situações como a do segundo tempo contra o Watford, quando os Gunners permitiram aos seus rivais uma avalanche para cima de sua defesa e, no fim das contas, o único ponto que eles conquistaram na Premier League até agora.

Situação favorável em relação aos adversários

Toda essa inconsistência não representa bem as condições de trabalho de Emery. Com talento de sobra no ataque e diversas opções para um meio-campo capaz de criar e de pressionar a posse de bola do adversário, o Arsenal precisa acreditar que voltará à Champions League. O processo de transição do Chelsea, o elenco incompleto do Manchester United e a instabilidade por que parece passar o Tottenham oferecem essa oportunidade. Há o Leicester, mas Emery está no comando há mais tempo que Brendan Rodgers, o que justifica uma cobrança maior.

Como destacou a ESPN, os 45 primeiros jogos de Emery tiveram praticamente a mesma pontuação dos últimos 45 de Arsène Wenger (82 a 81). Isso em si não é o problema, mas ainda faltam sinais de que o time vai caminhar na mesma direção que sugerem o dinheiro investido, o talento e a ideia de que, na segunda temporada, todo trabalho tende a ser melhor. O ex-técnico do Sevilla precisará fazer mais em 2019-20.

Pílulas da rodada

Grande vitória do Leicester sobre o Newcastle por 5 a 0, mesmo sem Maddison. É claro que a expulsão de Hayden no primeiro tempo abriu caminho para a goleada, mas hoje o time de Brendan Rodgers certamente joga em nível compatível com a posição que ocupa, o terceiro lugar. E terá, no próximo sábado, um confronto bastante interessante contra o líder Liverpool em Anfield. Vale lembrar que, ainda com Claude Puel, praticamente este mesmo elenco deu muito trabalho à equipe de Jürgen Klopp em Anfield, foi melhor no segundo tempo e arrancou um empate por 1 a 1.

Foto: Danehouse – Leicester goleou na rodada

O Everton teve uma atuação mais digna na derrota por 3 a 1, em casa, para o Manchester City do que em outras partidas recentes. Foi uma boa atuação de Richarlison, que fez Zinchenko trabalhar bastante. Mas ainda é pouco, e não sabemos se Marco Silva se sustentará no cargo até Iwobi e Moise Kean se adaptarem e o meio-campo se estabilizar com Delph, Gbamin e André Gomes (os dois últimos estão lesionados).  Sigurdsson desacelera muito as jogadas, e nem seria necessário falar sobre a falta que faz Idrissa Gueye, hoje brilhando no PSG.

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