quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Os desafios de Wesley e Joelinton na Premier League

Dois centroavantes brasileiros relativamente pouco conhecidos pelo grande público em seu país natal chegaram à Premier League nesta temporada para liderar os ataques de clubes importantes. Enquanto Wesley Moraes, que havia atuado na base do Itabuna e no Trencin, da Eslováquia, trocou o belga Club Brugge pelo Aston Villa por £22 milhões, Joelinton, de bom início no Sport Recife e ótima passagem pelo alemão Hoffenheim, tornou-se a contratação mais cara da história do Newcastle após transferência de £40 milhões.

Depois de dez rodadas de liga na Inglaterra, ambos precisam evoluir para justificar o investimento, o que é plenamente compreensível levando em conta a mudança de país e o estágio das carreiras de Wesley e Joelinton, de 22 e 23 anos, respectivamente. No entanto, há diferenças claras entre os desafios que eles enfrentam e as perspectivas de longo prazo para os dois atacantes.

Wesley era o centroavante do Club Brugge nas últimas três temporadas. Foi campeão em 2017-18, mas jamais teve números excepcionais na artilharia: no total, foram 38 gols em 130 jogos. No Aston Villa, até agora, as estatísticas sugerem uma boa participação: quatro gols e uma assistência nos dez jogos de Premier League que disputou, sempre como titular (foi substituído em metade das partidas).

O atacante brasileiro faz parte de um grande plano de reestruturação do Villa, que gastou nada menos do que £144 milhões para transformar um elenco de segunda divisão, promovido nos play-offs, num grupo capaz de competir em bom nível na Premier League. Embora sejam sete novos titulares habituais em relação à temporada passada, o time já dá sinais de que acertou mais do que errou na enorme remodelação do plantel.

 

O papel de Wesley não é só marcar gols. Ele também tem sido o oportunista que empurra a bola para as redes, mas a ideia de ter um centroavante de 1.91m, com muita imposição física e capacidade de segurar a bola, é principalmente integrar outros jogadores nos lances de ataque. O Villa tem no elenco meias centrais que se projetam muito, como o também brasileiro Douglas Luiz, Hourihane e o ótimo escocês John McGinn.

Com três gols na liga, McGinn tem mais finalizações por jogo (na verdade, é o quinto colocado de toda a Premier League!) do que o centroavante e muitas vezes precisa do trabalho de pivô exercido pelo brasileiro para ter a chance de avançar e levar perigo à defesa adversária. Mesmo quando em nível abaixo do que pode oferecer, o que já aconteceu em algumas partidas, o brasileiro acaba sendo, por característica, peça importante num time com potencial interessante e bem treinado por Dean Smith, apesar de ocupar a 15ª posição com 11 pontos.

Entre as equipes cujo principal objetivo é a manutenção na Premier League, o Villa provavelmente tem o melhor meio-campo, com o impressionante Marvellous Nakamba (que cada vez mais lembra Idrissa Gueye, que, hoje no PSG, estava no Villa antes de ir para o Everton), Douglas e o próprio McGinn, além do capitão Grealish, que sempre centraliza para participar da construção das jogadas.

 Wesley pode não estar entre os atacantes mais habilidosos do país (para comparar a outro centroavante da liga que passou pelo Villa, Benteke é uma boa referência) e ser contestado pela parte da torcida que prefere o prata-da-casa Keinan Davis. Mas ele foi ao time certo para tentar se estabilizar como centroavante confiável para uma equipe de meio de tabela na Inglaterra. Com muita personalidade (já até concede entrevistas em inglês, vale destacar), o brasileiro transmite autoconfiança e tem ótimas chances de se firmar, potencializando suas qualidades.

Já não se pode afirmar o mesmo sobre Joelinton, que é um atacante mais talentoso. Por enquanto com um gol na Premier League, ele sofre com o isolamento imposto pelo modelo de jogo do técnico Steve Bruce. O Newcastle, hoje na 17ª posição, tem a menor posse de bola do campeonato – apenas 37.9%, inferior até à do Burnley, especialista em competir entregando a posse ao adversário -, é o que menos acerta finalizações no alvo por jogo (2.3) e, com seis gols em dez partidas, tem um ataque superior apenas ao do Watford (a título de comparação, o Aston Villa já marcou 15 vezes).

Outro treinador possivelmente faria a equipe jogar de maneira muito mais positiva tendo um trio de ataque com Almirón (sem confiança agora, mas tecnicamente muito bom), Saint-Maximin e Joelinton, estes últimos substituindo, teoricamente em nível semelhante, Ayoze Pérez e Rondón. O problema é que a outra substituição da última temporada para esta – Rafa Benítez por Steve Bruce – acabou com o clima e as perspectivas em St. James’ Park. Não é que o Newcastle não seja competitivo. O time, que teve suas duas vitórias contra Tottenham e Manchester United, até briga muito e se defende relativamente bem, mas a falta de repertório é agonizante.

A maior vítima individual disso, além de cada torcedor do Newcastle que não aguenta mais o rumo dado ao clube pelo proprietário Mike Ashley, é Joelinton. Com boa mobilidade, força, capacidade de se associar a outros jogadores de ataque e poder de finalização com os dois pés e de cabeça, o brasileiro é flagrantemente subutilizado. O ex-centroavante do Sport não é um Andy Carroll, atualmente reserva dele, para ficar restrito a brigar por bolas longas ou sobras, mas às vezes é o que acontece.

No Hoffenfeim, após duas temporadas emprestado ao Rapid Viena, Joelinton atuava num ataque flexível e era comandado pelo criativo técnico Julian Nagelsmann, hoje no RB Leizpig. Agora precisa se acostumar a um time com posse de bola média 15% abaixo da obtida pela equipe alemã, que finaliza metade dos 18 chutes por jogo do Hoffenheim e impõe um grande sacrifício defensivo a Almirón e Saint-Maximin, que seriam bons parceiros para ele se pudessem se aproximar com mais frequência.

 

Por suas características, Joelinton pode sonhar em jogar num clube com ambições maiores. Mesmo em circunstâncias desfavoráveis, sua atuação no jogo em que marcou o único gol pelo clube, na vitória por 1 a 0 sobre o Tottenham em Londres, mostra que pode haver um atacante completo ali. O problema é que, com 1.5 finalização por jogo e sem ter com quem jogar na maior parte do tempo, ele não melhora seus números e pode acabar perdendo confiança.

A situação dos atacantes brasileiros ilustra muito bem como escolhas certas (ou erradas) podem ser muito importantes no andamento de uma carreira. Ambos têm capacidade para brilhar na Inglaterra em diferentes contextos, mas o caminho de Wesley na Premier League começa mais compatível com o que ele pode oferecer.

Leia Mais: Futebol Inglês, por Daniel dos Santos Leite

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