segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Em boa fase e convocado à Seleção Espanhola, Cazorla é uma vitória do futebol (e da vida)

Outubro de 2016. O Arsenal venceu o Ludogorets por 6 a 0 na Liga dos Campeões da Uefa. Homem de confiança de Arséne Wenger, Santi Cazorla sente um problema no calcanhar e pede substituição. Era o início do calvário do espanhol. Novembro de 2017. Sem jogar desde aquele fatídico dia, Cazorla desabafou. Em entrevista ao Marca, revelou que, enquanto sua família permanecia em Londres, ele vivia constantemente em Salamanca, na Espanha, sozinho, onde fazia tratamento visando um dia voltar a fazer o que gosta. Foram oito cirurgias no total e (o pior) uma infecção que o fez perder até oito centímetros do tendão do tornozelo direito. Em uma dessas intervenções, fez um enxerto de pele do antebraço, onde tinha tatuada o nome da filha. Agora, o desenho está sem seu tornozelo, como mostra a capa do jornal que chamava a exclusiva (e emocionante) com Cazorla.

Foto: Reprodução | O drama de Cazorla foi capa do Marca em novembro de 2017

– O médico me disse que, se eu voltasse a caminhar pelo jardim com meu filho, me daria por satisfeito – declarou.

Os problemas de Cazorla no tornozelo começaram em 2013. Durante um amistoso da Espanha contra o Chile, ele sofreu uma pequena fratura e se ausentou por quase um mês. A partir dali, a lesão começou a se intensificar até chegar a uma situação caótica. Wenger chegou a afirmar que “jamais viu algo igual na vida”, tratando-se de lesão no futebol. Àquela altura, o tom do francês era de desespero. “Cazorla vai voltar a jogar futebol de novo?”, perguntou um jornalista. “(…) espero que sim”, respondeu um hesitante Wenger.

A entrevista de Cazorla gerou uma comoção no futebol espanhol e inglês. Várias personalidades manifestaram apoio ao jogador, que sempre manteve vivo o desejo de atuar profissionalmente mais uma vez. Quando estava na Inglaterra, Cazorla fazia questão de estar com o elenco do Arsenal. Em uma imagem que viralizou no Twitter, o meia subiu para o gramado, com a perna esquerda enfaixada, e ficou sozinho nas quatro linhas, observativo. Uma foto que nem precisa de legenda para passar todo o sentimento do natural de Llanera.

O contrato de Cazorla com o Arsenal chegou ao fim em junho de 2018. Liberado, ele primeiramente fez treinos com a equipe juvenil do Alavés para acelerar o processo de recuperação e melhorar a forma física. Em agosto, foi anunciado oficialmente pelo Villarreal. Era o retorno de Santi ao Submarino Amarelo, clube onde teve uma passagem de ouro entre 2007 e 2011. No Villarreal, Cazorla fez parte de um inesquecível time titular que tinha, além dele, Marcos Senna, Borja Valero, Cani, Rossi e Nilmar do meio para frente. Aquele tipo de escalação de almanaque, que todo e qualquer fã de futebol espanhol tem decorado na cabeça. No período, o Villarreal foi vice-campeão de La Liga e alcançou quartas-de-final de Liga dos Campeões. Cazorla esteve próximo de se transferir ao Real Madrid após fazer parte do elenco da Espanha que venceu a Euro de 2008, mas optou pela renovação com o Villa.

Depois de realizar alguns amistosos na pré-temporada, Cazorla voltou oficialmente aos gramados na primeira rodada do Campeonato Espanhol 2018/2019. Quase dois anos depois de Arsenal 6 a 0 Ludogorets, o futebol dava as boas vindas novamente à magia de um meio-campo pequeno de altura (1,65 m), mas gigante de talento. Estava completada a lição de vida e persistência de Cazorla, que driblou 80% dos prognósticos dos médicos que o trataram. A temporada para o Villarreal foi complicada. O time lutou contra a parte debaixo da tabela e chegou a estar na zona de rebaixamento por mais de uma rodada. Cazorla foi o cérebro de um onze inicial que tinha qualidade, como Asenjo, Victor Ruiz, Jaume Costa, Fornals, Moreno, mas inexplicavelmente não arrancava. Em janeiro, no primeiro jogo do ano, o Submarino empatou com o Real Madrid por 2 a 2 no El Madrigal. Cazorla marcou dois gols. No geral, foram sete gols e dez assistências.

A recuperação do Villarreal

As atuações na última liga já tinham sido de muito destaque, mas atualmente tem mais méritos ainda. O Villarreal oscila, mas dá indícios de que não vai sofrer como anteriormente. Javier Calleja aproveitou a saída do excelente Fornals para trabalhar, e não lamentar (por muito tempo). O 4-2-3-1 deu lugar a um 4-4-2 que tem Cazorla partindo da ponta esquerda. No entanto, como o esquema não tem um jogador centralizado auxiliando o centroavante, o camisa 8 tem liberdade para preencher esse espaço com uma movimentação incessante. Assim, Santi libera muitas vezes o lado para as subidas de Quintillá e permite com que Ekambi ou Chukwueze e Ontiveros saiam da área para cair pelas beiradas.

A característica do elenco do Villarreal transforma, por vezes, o time dentro de campo em algo pouco previsível. Por escolha de Calleja, há muitos passadores. É por isso que Chukwueze e Ontiveros fazem a diferença quando saem do banco de reservas. O poder de fogo de Moreno no ataque não pode ser dispensado, sobretudo porque o atacante parece ter recuperado a melhor versão, vista no Espanyol, entre 2015 e 2017, mas a velocidade e os dribles da dupla citada acima é o diferencial para aproveitar a visão de jogo e os passes milimétricos de Cazorla. Não à toa, contra o Osasuna, Calleja começou com Chukwueze como titular.

O Submarino Amarelo é o nono colocado com 11 pontos e vem de derrota para o Osasuna no El Sadar por 2 a 1. Há duas semanas, no entanto, a exibição na goleada contra o Bétis por 5 a 1 animou o Madrigal. Cazorla deixou sua marca de pênalti, mas o arsenal de passes maravilhou a todos. O vídeo abaixo é curto, mas, para quem não assistiu ao jogo, dá para ter uma noção do que foi. O meia ganhou o apelido de “Mago” pelas apresentações no memorável Recreativo Huelva de 2006/2007, treinado por Marcelino Garcial Toral, que apresentou o técnico e o jogador ao mundo.

Convocado para a Seleção Espanhola pela segunda vez desde o seu retorno ao campo (de forma merecida, diga-se de passagem), o pequeno mago deve ter mais minutos do que teve na Data Fifa de junho. A chamada ratifica a redenção de um atleta que nunca deixou de confiar no que para muitos era impossível. Privilegiem Santiago Cazorla González.

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