terça-feira, 10 de setembro de 2019

A perigosa transição de um Cruzeiro à deriva, dentro e fora de campo

O 7 a 1 sofrido para os times gaúchos em menos de uma semana ativou algumas bombas na Toca da Raposa. Primeiro foi Thiago Neves, depois do 3 a 0 para o Inter, na quarta-feira, reclamando das “improvisações que mais atrapalham do que ajudam o Cruzeiro”, em um claro (e direto) ataque ao técnico Rogério Ceni. Com o 4 a 1 diante do Grêmio, o treinador explodiu: em uma declaração de intenção, deixou evidente que precisa de carta branca para bancar tudo aquilo que prometeu em sua apresentação. A mensagem tinha receptor(es).

FORA DE CAMPO

Nesta terça-feira, o diretor de futebol Marcelo Dijan, que tem trabalhado quase que como um porta-voz do clube nas últimas semanas, tentou apagar o incêndio. Garantiu a manutenção de Ceni no cargo e revelou uma conversa com Thiago Neves.

“Acontece no calor da partida e, às vezes, vem a decepção de quem poderia estar na terceira final consecutiva de Copa do Brasil. Está encerrado, solucionado, contamos com o Thiago Neves, que é um jogador muito decisivo para nós”, afirmou.

A situação extracampo do Cruzeiro é delicada, seja financeira, política ou institucional. No fim de junho, a diretoria confirmou a venda do zagueiro Murilo ao Lokomotiv Moscou, da Rússia, por 2,5 milhões de euros (R$10,89 milhões). O clube teve direito a ficar apenas com 60% do valor (R$6,5 milhões). O montante nem chegou a ir diretamente aos cofres: foi utilizado para pagar os salários referentes a maio, que não haviam sido quitados aos funcionários que recebem mais de R$ 2,5 mil.

Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro | Com o presidente Wagner Pires de Sá afastado dos microfones pelas recentes investigações, Marcelo Dijan, diretor de futebol, é quem tem respondido às perguntas na Toca da Raposa

Falar em planejamento diante de todas as notícias que lemos, ouvimos e vemos sobre a atual gestão do Cruzeiro soa até ingênuo. Os anuais balanços financeiros já vinham indicando a bolha prestes a ganhar efeito. O presidente Wagner Pires de Sá está sendo investigado pela Polícia Federal, na ‘Operação Escobar’, pelo Ministério Público e pela Polícia Civil por irregularidades no clube. Até semana passada, Itair Machado estava impedido de atuar como vice-presidente de futebol. Por causa disso, Wagner Pires tem se limitado a dar declarações somente via comunicados no site ou em aparições em vídeos do canal oficial do Cruzeiro no Youtube, como o que foi upado no início da noite desta terça (com um forte carinho dos torcedores na caixa de comentários – ironia), onde o dirigente ressalta a confiança em Ceni e fala sobre supostas perseguições que vem sofrendo.

Em maio de 2018, Wagner Pires de Sá antecipou R$70,256,000,10 que o Cruzeiro teria para receber de cotas de televisão até outubro de 2022, mesmo com seu mandato encerrando-se em 2020, em negócio envolvendo o Polo Clubes Fundo de Investimento em Direitos Creditórios. A reportagem mais extensa e detalhada está disponível no site Superesportes e pode ser lida completa clicando aqui.

DENTRO DE CAMPO

Foto: Foto: Vinnicius Silva/Cruzeiro | Rogério Ceni, antes do desastre contra o Grêmio no último domingo

Depois da decepcionante temporada que vinha fazendo com Mano Menezes, houve uma tentativa de revitalizar o ano apostando em novos ares até na forma de jogar, daí a aposta por Ceni, cujo time anterior (Fortaleza) atuava bem diferente do que foi a Raposa nos últimos três anos. E o ídolo são-paulino, no dia em que foi confirmado como sucessor de Mano, deixou às claras que traria consigo na bagagem uma ruptura tática.

O ex-técnico Muricy Ramalho, atualmente comentarista do canal fechado Sportv, falou algo interessante nesta segunda-feira durante o programa “Bem, Amigos!”. Ao abordar os motivos do mau futebol praticado por muitas equipes do futebol brasileiro, o tetracampeão brasileiro apontou para as muitas trocas de treinadores em um período, o que vem junto de mudanças de treinamentos, metodologias, forma de gerir um elenco, etc. Para Muricy, as diversas trocas dificultam a assimilação por parte dos jogadores. E é aí que mora a perigosa transição de Mano para Ceni.

Ceni tenta ter mais a bola, trocar mais passes e explorar os lados do campo. Mano gostava de postar a equipe mais na retaguarda, abusava das ligações diretas e priorizava um jogo mais físico no meio, chegando a ter Ariel Cabral, Henrique e Romero no setor. Com Ceni, Robinho, outrora escalado pelo lado direito, joga mais recuado, quase que distribuindo a pelota. Contra o Inter, o volante Jadson foi transformado em lateral-direito. Não fez a diferença na frente e deixou de acompanhar Guerrero atrás, no primeiro gol. É essa transição que pode demorar a ser captada completamente pelo plantel, montado (e remontado pontualmente conforme peças iam indo embora) ano após ano desde 2016 sob a visão de futebol de um profissional mais conservador.

O declínio do Cruzeiro não é de hoje, mas vinha sendo mascarado devido ao então sucesso nas competições de mata-mata. Agora, fora da Libertadores e da final da Copa do Brasil, o que fica é a urgência da recuperação meteórica no Brasileirão. Décimo-sexto colocado com 18 pontos, está a um triz da zona de rebaixamento, onde já chegou a estar no torneio. Nada benevolente, a tabela prevê dificuldades: Palmeiras, no sábado, às 19h, na Arena Allianz; Flamengo, no dia 21, às 17h, no Mineirao; Ceará, dia 25, às 19h30, no Castelão.

É precoce falar em segunda divisão (ou não é?), ainda mais com um turno ainda a ser disputado. Porém, para clubes com dificuldades em fechar as contas anualmente, uma queda representaria um grave perigo: com a renegociação dos contratos dos direitos de transmissão na TV aberta, quem disputar a Série B em 2020 receberá somente R$6 milhões.

 

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