terça-feira, 10 de setembro de 2019

“Should I stay or should I go?”

De Jadon Sancho, encantando a Alemanha e o mundo pelo Borussia Dortmund e já brilhando na seleção principal, a Lee Cattermole, que vive uma experiência menos sofisticada no holandês VVV-Venlo, os jogadores ingleses estão menos resistentes a experiências no exterior. Nem a tendência a uma falta de destreza para línguas latinas impediu transferências alternativas na última janela. Kieran Trippier no Atlético de Madrid e Chris Smalling na Roma são exemplos.

Apesar de a passagem de Joe Hart pelo Torino não ter sido exatamente um sucesso, essas aventuras, quando envolvem jogadores já na metade final da carreira (casos de Trippier e Smalling), são sempre válidas e mostram tentativas de deixar a zona de conforto e de jogar em bom nível em outros contextos. Mas o movimento que mais chama atenção é o de jovens promessas, que hesitam cada vez menos em sair do país – sobretudo para a Alemanha -, acelerar o amadurecimento e maximizar as chances de atuar regularmente em times importantes.

É inegável a mudança de patamar da Inglaterra no futebol de base, com as seleções enfileirando títulos e boas colocações em torneios mundiais e continentais nos últimos anos. Mas também é certo que os principais talentos são formados nas academias mais poderosas, de clubes com altíssimo nível de exigência e portas que não estão exatamente escancaradas para a transição das promessas ao time principal. Isso criou um dilema para os atletas, seus empresários e, em algum nível, para os clubes: como conduzir os primeiros anos de carreira profissional dessas joias?

Na Copa do Mundo sub-17 de 2017, que provavelmente apresentou ao mundo a mais impressionante seleção inglesa de base dos últimos tempos, eram três as principais estrelas do time que conquistou o torneio na Índia: Phil Foden, Jadon Sancho (que o Borussia Dortmund chamou de volta após a fase de grupos) e Rhian Brewster, todos nascidos em 2000. Os três já precisaram tomar decisões fundamentais em suas curtas carreiras. Embora ainda não tenhamos a exata noção do resultado final dessas escolhas, já há alguns aspectos a considerar.

Foto: Liverpool oficial – Brewster foi o artilheiro do mundial sub-17 de 2017

O atacante Sancho, frequentemente escalado na ponta direita, trocou o Manchester City pelo Borussia Dortmund em 2017 por £8 milhões, que hoje não representam nem sequer 10% do valor pelo qual o clube alemão poderia aceitar vendê-lo. Após uma temporada inicial de adaptação, mas já com aparições no primeiro time, Sancho foi titular absoluto em 2018-19 e quebrou um recorde atrás do outro (“o mais jovem a…”) no time que quase conquistou a Bundesliga. Neste ano, parece ter dado mais um passo, com uma atuação espetacular contra o Bayern na Supercopa e números expressivos: três gols e quatro assistências em cinco jogos por todas as competições.

No recorte que conhecemos, até setembro de 2019, a decisão de Sancho foi muito certeira. Saiu para um clube enorme, que ganhou na última década a reputação de desenvolver garotos dando a eles chances de verdade aos 17, 18, 19 anos, e atua num modelo de jogo que o prepara para qualquer liga, em qualquer contexto. Se tivesse permanecido no Manchester City, já teria um vasto currículo de títulos, mas certamente nem a metade dos minutos que passou em campo com a equipe aurinegra. Teria, por exemplo, o mesmo status que Mahrez ostenta hoje no elenco de Guardiola? O argelino não teria sido contratado há pouco mais de um ano, para dar mais espaço a ele? É difícil afirmar.

Foto: reprodução – Phil Foden é uma das esperanças do futuro do Manchester City e da Seleção Inglesa

Aos olhos, um talento tão impressionante quanto Sancho é seu colega de base Phil Foden. Ao contrário do atacante do Dortmund, o meia canhoto decidiu permanecer no Etihad Stadium e já tem história por lá, especialmente pelo gol decisivo contra o Tottenham no fim da temporada passada. Por estar restrito normalmente a alguns minutos semanais (se tanto) na Premier League e a jogos como titular nas copas nacionais, o projeto de craque, hoje com 19 anos, ainda não chegou à seleção principal – marcou dois gols pela sub-21 contra Kosovo na última segunda-feira. Jogadores inegavelmente menos brilhantes, como Ross Barkley, seguem nos planos de Gareth Southgate, que não é alguém avesso a renovar quando tem a chance.

Guardiola vive elogiando Foden, mas é óbvio que ele ainda está atrás de De Bruyne, David Silva, Gundogan e eventualmente até Bernardo Silva (normalmente escalado aberto à direita) para as posições centrais do meio-campo. Por outro lado, David já anunciou que deixará o clube daqui a um ano. A aposta de Foden é de que ele será a reposição natural à lenda espanhola e, portanto, muito mais utilizado a partir de 2020-21. Se ele errou por perder muito tempo ou acertou por continuar evoluindo sob o comando do treinador dos sonhos de todo meio-campista, saberemos em breve. Mas fica a impressão de que um talento desse nível dará certo de qualquer jeito, cedo ou tarde.

E é claro que as emoções contam. Foden renovou seu contrato até 2024 com o clube onde está desde os nove anos. E Brewster rejeitou o interesse do Borussia Monchengladbach, que quase o levou à Bundesliga há pouco mais de um ano para permanecer no Liverpool. A análise sobre a escolha dele ainda é mais teórica, por conta de uma lesão no joelho que praticamente o tirou da temporada 2018-19. Brewster estava em Madrid em 1º de junho, no banco, e festejou o título da Champions League, mas ainda não tem sequer um minuto na equipe principal em um jogo de competição. De qualquer forma, também já está na seleção sub-21 e fez a jogada para o segundo gol de Foden contra Kosovo.

Foto: Dortmund oficial – Sancho assinando com o Borussia Dortmund

Agora, ele teoricamente faz parte de um trio de ataque reserva, ao lado de Shaqiri e Origi, mas Klopp ainda parece inclinado a aproveitar Chamberlain ou até Lallana em uma de suas posições mais ofensivas antes de dar chances de verdade a ele. Por outro lado, Brewster foi muito bem na pré-temporada, e a fé que ele depositou no clube ao estender o contrato tem razão de ser. Além do caso concreto de Alexander-Arnold, que não teve dificuldades para assumir a titularidade muito antes dos 20, o Liverpool indica confiança em outros jovens de 17, 18 anos mesmo em funções defensivas. A ausência de contratações, associada à saída de Alberto Moreno e a mais uma lesão grave de Clyne, sugere que nomes como Ki-Jana Hoever, Yasser Larouci e Sepp van der Berg podem aparecer em campo nesta temporada.

No fim das contas, como quase sempre, não há um roteiro infalível para o sucesso. Nem rótulos definitivos. O Chelsea, que até há pouco parecia inacessível para os jovens, hoje é um dos melhores lugares para eles. Resultado da punição que o impediu de contratar e do direcionamento definido pelo técnico Frank Lampard, sem medo de atribuir papéis centrais a Mount, Abraham e, certamente, Hudson-Odoi quando este retornar de lesão.

Quando não há chances imediatas, nem disposição em sair, uma solução intermediária para certos casos pode ser a fórmula do Arsenal, que se habituou a emprestar garotos para times que lhes oferecessem uma experiência e um modelo de jogo interessantes: Reiss Nelson no Hoffenheim de Julian Nagelsmann, Smith Rowe no RB Leipzig (ambos na temporada passada) e Nketiah com Bielsa no Leeds (nesta temporada) são exemplos.

Mercados foram abertos, e o nível dos jovens formados na Inglaterra é cada vez melhor. E tudo isso é bom, pois provoca uma reflexão nos clubes, que serão obrigados a transmitir aos garotos, por meio de ações (ou seja, criando um ciclo que vai do aproveitamento de uma promessa à renovação de contrato da outra), a mensagem de que vale a pena ficar.

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