quarta-feira, 4 de setembro de 2019

Lukaku, a Sardenha Arena e o Racismo estrutural do futebol italiano

O Campeonato Italiano viveu sua segunda rodada neste final de semana com grandes jogos, muitos gols e um nível altíssimo de futebol. Contudo, outra vez os ultras conseguiram roubar a cena. Romelu Lukaku sentiu pela primeira vez o quão difícil é, para um negro, atuar na Velha Bota. O atacante da Inter sofreu com cânticos racistas dos ultras do Cagliari, no domingo, na Sardenha Arena. Ao marcar um gol, o belga encarou os torcedores e teve o suporte dos seus companheiros de equipe. Mas parou por aí.

Só nos últimos oito meses foram três casos de racismo contra envolvendo Inter e Cagliari. Em dezembro de 2018, em jogo válido pela 18° rodada, Inter e Napoli se enfrentaram no San Siro e Kalidou Koulibaly sofreu com cânticos racistas dos ultras da Inter, a Curva Nord.

Foto: Internazionale oficial – Lukaku foi o autor do segundo gol na vitória frente ao Cagliari

Essa partida aconteceu em 26 de dezembro, apenas um dia depois do Natal e em outro feriado religioso muito importante no país, o dia em que se celebra o Santo Estevão. Ainda assim, em um país que é o berço da Igreja Católica e que possui aproximadamente 85% de sua população como cristãos, não existiu o menor pudor em chamar um atleta rival de ‘macaco’ e imitar gestos que remetem ao animal em pleno estádio. Ao vivo. Para o mundo inteiro assistir. Afinal, o racismo está impregnado na cultura italiana.

Em abril, durante a 30° rodada do campeonato da temporada passada, tivemos outro caso de racismo que ganhou manchetes mundial. Quando o Cagliari recebeu a Juventus na Sardenha Arena, mesmo palco do episódio contra Lukaku no último final de semana, Moise Kean e Blaise Matuidi foram atacados pelos torcedores rivais. Moise, com apenas 19 anos de idade, respondeu na bola, marcando gol e encarando os racistas de peito aberto. O que já era lamentável, por si só, ficou ainda pior com o presidente do Caglari, Tommaso Giulini, jogando a responsabilidade em cima do jovem atacante da seleção italiana e com Bonucci e Allegri, respectivamente seu companheiro de time e seu treinador, endossando a visão de Giulini: para eles Kean “provocou a torcida” e “não deveria se afetar pelo extracampo”. O triste caso de Lukaku é ainda mais alarmante pelo fato de ter sido apenas a segunda partida do centroavante com a Inter.

Foto: reprodução – Moise Kean respondeu na bola aos insultos racistas

Depois do ocorrido, o Cagliari se pronunciou, dizendo prestar “plena solidariedade a Lukaku e ainda mais empenho para debelar uma das pragas que afligem o mundo do futebol, e não somente. (…) O Cagliari pede ajuda para vencer uma batalha que diz respeito a todos, sem exceções”. Já a Inter, revoltantemente, fez apenas um “tuíte”, que não foi nem verdadeiramente um tuíte. O perfil oficial do clube deu “RT” no comunicado do Cagliari, limitando-se a escrever somente “BUU #BrothersUniversallyUnited”. Todos esses fatores revoltam, não? Pois bem, acontece que a situação piorou ainda mais na tarde de terça.

A Curva Nord, os mesmos ultras da Inter que cometeram crime contra Koulibaly, soltaram uma nota oficial pedindo que Lukaku retifique suas palavras. Acredite: na visão da torcida, ele não sofreu racismo. “Os italianos não são racistas, apenas tem o próprio jeito de distrair os oponentes (…)”, escreveram.

Até o presente momento, a Inter não se posicionou sobre a carta dos ultras; a Federação Italiana muito menos. E, pelo andar da carruagem, assim irá continuar. O futebol é a extensão de seu povo, um recorte ou até mesmo retrato do que acontece no dia a dia, e a Itália é um país que está doente.

Foto: Internazionale oficial – Lukaku recebe o apoio os companheiros de time

É de causar náuseas que casos como esses continuem acontecendo em 2019 e que sejam tratados com o desprezo e conivência com que são tratados no país.

Todo o apoio do mundo a Lukaku, Kean, Matuidi, Koulibaly e a todos os jogadores negros que atuam no país e estão expostos a pior humilhação que um ser humano pode sofrer.

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