terça-feira, 3 de setembro de 2019

Athletic Bilbao e a fidelidade à sua história na vitória no dérbi basco

Não é novidade para ninguém que o Athletic Club Bilbao é um dos clubes mais tradicionalistas do mundo. E isso vem desde fora de campo, na parte financeira, ou dentro, na forma como joga. Costuma-se dizer, na Espanha, que as fortes chuvas que aparecem anualmente no inverno em Bilbao moldaram o estilo de jogo da equipe de San Mamés. Historicamente, é conhecido por impor um ritmo mais físico, vertical e com muita ligação direta da defesa ao ataque (“os campos alagados dificultam troca de passes!”). Não se sabe até que ponto, realmente, tudo isso tem a ver com a natureza da cidade. A tese mais famosa, porém, é que a influência vem do fim do século XIX. Marinheiros ingleses, que trabalhavam em indústrias bascas, gostavam de jogar partidas de futebol no tempo livre. Aquilo ali despertou a curiosidade da população local, que logo foi se juntando nas “peladinhas” diárias.

Com o sucesso do esporte na ilha britânica, estudantes da faculdade de Bilbao resolveram criar uma equipe de futebol. Em 1900 surgia o Bilbao Football Club, com nome em inglês mesmo, que logo depois seria batizado como Athletic Club Bilbao. Com a vitória das tropas franquistas na Guerra Civil dos anos 30 do século XX e a consequente instauração da Ditadura Franquista, foi decretado na Espanha, em 1941, uma lei que ordenava a eliminação de quaisquer estrangeirismos nos nomes dos clubes. O Athletic Bilbao, portanto, virou Atlético de Bilbao. A queda do decreto veio somente em 1972. A nova mudança do nome demorou meses, e não veio instantaneamente, por questões burocráticas. Até que, após uma Assembleia Geral com os sócios, no mesmo ano, Félix Oráa, presidente do Bilbao à época, anunciou: o Atlético voltava a se chamar Athletic.

É irônico pensar que não houve abstenção ao retorno do nome em inglês numa região de um nacionalismo forte e idioma próprio, o euskara. Um ano antes daqueles operários britânicos acharem um espaço para poderem utilizar um objeto redondo em uma diversão, o movimento em prol da independência basca começava a ganhar força. No livro “A História do País Basco”, de Fernando García de Cortazar e José Lorenzo Espinosa, os autores explicam que, em 1893, Sabino Arana, político, escrito e ideólogo espanhol, fundou o Partido Nacionalista Basco sob três princípios: a autonomia e o nacionalismo basco; o resgate dos costumes; o repúdio aos imigrantes. Muitos historiadores defendem o “isolamento geográfico” como motivo desse orgulho da região.

Na última rodada do Campeonato Espanhol, o Athletic Bilbao fez sua melhor partida na temporada logo no dérbi basco contra a Real Sociedad. A vitória por 2 a 0 foi incontestável e implacável. Mais: pelo que fez nas quatro linhas, o Leones foram leais à sua história. Definitivamente. No aspecto físico estiveram uns dois patamares acima. Marcaram como se não houvesse amanhã a saída de bola e não deixaram o grande rival respirar por um segundo. “A torcida se sente contagiada com esse estilo de jogo“, disse Gaizka Garitano, treinador do Bilbao, na coletiva após o jogo, ao destacar a forma física dos seus atletas. “O nosso estilo começa pelo físico. Está no nosso DNA. Os torcedores se divertem, porque se sentem contagiados“, completou. Sintomático. Em Viscaya, jogar bem significa correr mais que o adversário. E assim será!

Foto: Site Oficial do Athletic Bilbao | Iñaki Williams comemora gol no dérbi, com Raúl García e Capa, ao fundo. O camisa 9 está voando.

A agressiva (e impressionante) disposição sem a bola durou os 90 minutos. Por características, a Real é um time que gosta de começar a construir suas jogadas e fazer a transição da defesa para o ataque com o goleiro Moyá. Em determinados momentos da partida, o Athletic chegou a colocar sete jogadores à frente do arqueiro. Com espaço para correr, Iñaki Willians não parava de ser acionado pelos companheiros de zaga, Iñigo Martínez e Yeray.

Tecnicamente a exibição foi a melhor e mais completa de um time nas três rodadas de La Liga, ainda mais pela grandeza do clássico. De Capa, que chegou no verão mas parece estar há anos vestindo o uniforme vermelho e branco (chegou à terceira assistência; uma por jogo), a Iñaki Williams, todos os jogadores de linha tiveram atuações destacáveis. Chamou atenção como Dani García e Unai López, a dupla de volantes, marcaram e atacaram com a mesma firmeza. Mesmo no ritmo alucinante que impôs os donos da casa, tudo foi feito na maior precisão com a pelota nos pés. Unai Simon, no gol, foi puro espectador de luxo: a Real só foi finalizar pela primeira vez aos 16 minutos do segundo tempo. O outro chute a gol só aos 49. Um desastre.

Com Illarramendi saindo lesionado antes dos 30′, o representante de San Sebastian do País Basco naufragou. Imanol Alguacil, técnico da Real, aproveitou a lesão do seu cérebro para tentar abrir o time num plano B ousado, colocando o atacante Portu. Os Donostiarras saíram do 4-3-3 para um 4-2-4. Nada que alterasse o rumo da peleja.

Creio que qualquer um que tente sair jogando de trás, como nós, o tem que fazer muito bem diante do Athletic. Não fomos capazes e eles estiveram fenomenais. Trabalhamos durante a semana várias maneiras de sair jogando, mas não conseguimos. A vitória foi justa“, admitiu Imanol.

Foto: Reprodução | Edição desta terça-feira do Mundo Deportivo de Bilbao destaca o eterno Raúl García

Se o calendário previa dificuldades nas rodadas iniciais, o Athletic soube contornar com maestria. São sete pontos em nove disputados e a vice-colocação. A sequência contra Mallorca (fora), Leganés (casa) e Alavés (f) será importante para ratificar a força e criar gordura. Em 2018/2019, um péssimo primeiro turno prejudicou a busca por vaga na Liga Europa. San Mamés é um trunfo de ouro: são 16 partidas consecutivas sem perder na Catedral, o que não acontece desde 1990. Há muito tempo o Bilbao não desempenha um futebol tão sólido e seguro. É cedo para fazer prognósticos, mas sonhar com Liga dos Campeões não parece tão distante. Garitano, que assumiu no fim do ano passado após a decepcionante passagem de de Berizzo, a cada final de semana se prova como um profissional de qualidade. O otimismo da torcida tem coerência.

Pílulas da rodada

Foto: Site Oficial do Sevilla | Franco “El Mudo” Vázquez ressuscitou no Sevilla, mas gol não impediu tropeço dentro de casa contra o Celta de Vigo

“- Bem, este que vos escreve trabalha em praticamente todos fins de semanas. Para me manter atualizado sobre os jogos do Campeonato Espanhol, a estratégia é colocar para gravar os principais que são transmitidos naquele adaptador da Net. Para minha infelicidade, ele não está funcionando desde a última quinta-feira (alô, Net!). Dessa forma, só conseguir realmente ver, além de Athletic Bilbao 2×0 Real Sociedad, o outro jogo da sexta (minha folga), entre Sevilla e Celta, que terminou 1 a 1.”

“- O empate acabou saindo de forma amarga ao Sevilla, principalmente pelo que produziu no primeiro tempo. O time de Lopetegui exibiu os pontos fortes que vem se destacando neste início de temporada, com muita força pelos lados, sobretudo pelas subidas de Jesus Navas, na direita, e a tabelinha entre Nolito e Reguillón, pela esquerda, além da ótima sociedade (mais uma vez) entre o trio de meio-campo, formado por Fernando Reges, Jordán e Banega. Lopetegui testou Munir aberto pela ponta direita no trio de ataque, no lugar de Ocampos, mas a cria do Barcelona não teve boa atuação e foi substituído com dez minutos do segundo por Bryan Gil, promessa da base. A sensação é que falta poder de fogo na frente. De Jong oferece perigo pelo alto, mas não parece ser o centroavante ideal para o estilo dessa equipe que o madrilenho vem construindo. Chicharito chegou no último dia de janela e não deve tardar a ganhar a vaga de titular. Na etapa final o Sevilla diminuiu o ímpeto, continuou desperdiçando oportunidades, marcou um gol aos 36′ com Franco Vázquez, que reapareceu positivamente depois de um bom tempo, mas sofreu o castigo aos 41′ com Denis Suárez. Um (1) ponto que cai do céu para um Celta que só teve como ponto positivo a dupla de zaga formada Aidoo e Araújo.”

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